Lucas Campos
Especial para A União
O magistério é a carreira mãe de todas as outras carreiras e ser professor é tanto benção quanto desafio. É o prazer de transmitir conhecimento, é ser o instrumento para que outros possam crescer e amadurecer, é guiar todos em direção aos mais diferentes futuros. É também a luta para cumprir essa missão em condições nem sempre apropriadas, é ter a sabedoria para moldar-se a um universo tão múltiplo de alunos, é persistir no dever mesmo quando não há todo o reconhecimento merecido.
Rogéria Gaudêncio, formada em matemática na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e doutora em educação matemática pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), atua como professora há aproximadamente 24 anos. Quando estudante, cursou Engenharia Elétrica, mas ao perceber sua afinidade com a matemática, mudou de curso. “Não foi uma decisão fácil, mas a melhor que poderia ter tomado, pois a identificação com a área na qual atuamos é fundamental”, afirma.
Ela começou a lecionar na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em 1993. Ela conta que, logo quando estava concluindo o mestrado, surgiu a oportunidade de trabalhar no departamento de matemática como professor substituta. “A experiência me fez entender a necessidade de investir em minha formação para a docência, tendo cursado várias disciplinas da Licenciatura em Matemática como ouvinte”, esclarece. Pouco depois cursou o doutorado na área de educação e as leituras que fez nesse processo foram determinantes na sua atuação como professora.
Ao longo dos anos, Rogéria vê a importância de formar novos professores e dedica-se para tal. “A Universidade precisa manter laços estreitos com a sociedade e entendo que posso dar minha contribuição, no âmbito da Extensão, em projetos de formação continuada de professores que, como eu, ensinam Matemática”, acredita. Para ela, essas experiências são essenciais para quem é professor de licenciatura e constituem uma oportunidade ímpar de diálogo com os colegas da educação básica.
Rogéria acredita que sua atuação - e a de outros professores que se esforçam para dar uma boa formação aos licenciandos - é importante porque há uma fragilidade na educação básica do país, não apenas em relação à formação matemática, mas de forma geral. “Não conseguimos avançar em relação à qualidade do ensino. As razões são diversas, começando pela inadequação de nossos cursos de Licenciatura, passando pelas, em geral, péssimas condições de trabalho dos nossos colegas da Educação Básica e da falta de proximidade dos familiares dos estudantes, no processo”, pontua a professora. Ela acrescenta ainda, que não há política de estado para a educação, no máximo políticas de governo, mas que não funcionam e demandam esforços de longo prazo.
Ao ser questionada sobre os método para solucionar essa carência de medidas, Rogéria explica que a educação é um fenômeno complexo e os problemas existentes dificilmente podem ser resolvidos por meio de medidas simples ou pontuais. Entretanto, ela acredita que, se a população continua fechando os olhos para esses problemas, a chance de agravo é muito maior. A professora diz que é preciso cobrar, aos representantes, a elaboração de políticas de longo prazo que visem a melhoria da educação.
“Como professores, nossa colaboração, nessa direção, é fundamental, na medida em que contribuímos para a formação crítica de nossos estudantes, base para uma atuação política e social de qualidade”, alega Rogéria. Ela reitera, porém, que a formação de jovens não é atribuição exclusiva dos professores, mas também de outras instâncias formativas, como a família, que não pode e não deve abrir mão de sua parcela no processo. Afirma ainda que o professor não deve esquecer que lecionar vai além de dominar os conteúdos compartilhados: é essencial pensar como e para quem estarão lecionando e isso, portanto, exige engajamento.
Hoje, os filhos de Rogéria são também professores. Ela explica que não sabe dimensionar se isto é uma consequência da influência da família, que tem vários professores. Pontua que sempre teve o cuidado de respeitar os caminhos que eles escolheram, entendendo que essas escolhas são resultado do investimento que os pais fazem acompanhando os estudos, estabelecendo limites e lhes dando atenção.
Ela admite que nunca lhes deu sessões de aconselhamento sobre como lecionar, mas que trocam “figurinhas” sobre as vivências na docência e ela tem aprendido muito ouvindo o que eles dizem. Ela acha importante dizer que a docência não deve ser vista como um dom que passa de pai para filho. “Tenho muito orgulho dos grandes profissionais que meus filhos se tornaram, mas, sobretudo, das pessoas de bem que sempre foram”, conclui.