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Plantas medicinais

Pesquisa desenvolve protocolos

publicado: 28/07/2025 09h17, última modificação: 28/07/2025 09h17
Preservação da Caatinga e o fortalecimento da bioeconomia regional ganharam reforço com o projeto Semeando Saúde
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Semear requer, principalmente, valorização da biodiversidade local | Foto: Divulgação/Ascom Secties

por Ascom Secties*

Iniciativa financiada pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior da Paraíba (Secties) busca unir bioeconomia, conhecimento tradicional e sustentabilidade no semiárido paraibano

A preservação da Caatinga e o fortalecimento da bioeconomia regional ganharam reforço com o projeto Semeando Saúde. A pesquisa está sendo executada com recursos do Edital 52/2024, lançado pelo Programa Celso Furtado de Inovação Educacional e Desenvolvimento Regional, uma iniciativa da Secties, em parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB).

Iniciado em maio deste ano, o projeto envolve estudantes dos cursos de Ciências Biológicas e Biotecnologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e tem como objetivo principal desenvolver protocolos técnicos de germinação e estaquia para o cultivo de espécies medicinais nativas da Caatinga paraibana, como a catingueira, quixabeira e cumaru. A proposta visa promover alternativas sustentáveis para a produção de fitoterápicos, reduzindo a exploração predatória e contribuindo para a valorização da biodiversidade local.

“É muito importante que a Secretaria e o Governo do Estado tenham um olhar para o desenvolvimento regional. Nosso governador sempre reforça a valorização das riquezas locais e da cultura popular. A Caatinga é um bioma único e seus recursos fitoterápicos têm grande valor farmacológico. Associar esse conhecimento à geração de renda e à melhoria da qualidade da saúde é o que dá sentido a esse tipo de projeto”, avaliou o secretário da Secties, Cláudio Furtado.

A pesquisa é conduzida no Laboratório de Fisiologia e Evolução de Plantas (LaFiEP), vinculado ao Departamento de Sistemática e Ecologia da UFPB, com apoio do Jardim Botânico Benjamim Maranhão e do projeto de extensão Barraca da Ciência. Os experimentos concentram-se em técnicas de germinação e propagação vegetativa (estaquia), utilizando hormônios e substratos específicos para testar a viabilidade do cultivo dessas espécies.

Bioeconomia e saúde

Com foco na bioeconomia, o projeto alinha-se às diretrizes do desenvolvimento sustentável, ao permitir o cultivo racional das espécies medicinais da Caatinga. A iniciativa colabora para a conservação ambiental, geração de renda, fortalecimento de arranjos produtivos locais e aumento da oferta de plantas fitoterápicas, inclusive para uso em hortas medicinais de Unidades Básicas de Saúde (UBS).

“Na Caatinga, encontramos diversas espécies que apresentam potencial medicinal, como jurema, quixabeira, cumaru e catingueira. Um dos principais desafios para seu uso é, justamente, a dificuldade de produção e propagação. Com esse projeto, pretendemos otimizar os protocolos e difundir esse conhecimento de forma sustentável por meio da ciência”, destacou o coordenador da pesquisa, o professor da UFPB, doutor. Frederico Rocha Rodrigues Alves.

Nesse sentido, Claudio Furtado ressaltou que o estado possui núcleos de excelência voltados ao desenvolvimento de fitoterápicos, como o Instituto de Pesquisa em Fármacos e Medicamentos (IPeFarM) e o Núcleo de Estudos e Pesquisas Homeopáticas e Fitoterápicas (NEPHF), ambos vinculados à UFPB.

O IPeFarM é um órgão suplementar da UFPB, criado pela Resolução no 15/2014 do Conselho Universitário (CONSUNI), com sede em João Pessoa. Sucedâneo do antigo Laboratório de Tecnologia Farmacêutica (LTF), fundado em 1968, o Instituto incorporou sua infraestrutura e a ampliou com os Laboratórios Integrados de Ensaios Biológicos, os Laboratórios de Caracterização e Análises de Fármacos e o Centro de Pesquisa Clínica e Farmacoterapia, consolidando-se como referência em inovação farmacêutica e estudos com medicamentos de base natural.

Ideia é otimizar todos os procedimentos e difundir esse conhecimento de forma sustentável

O NEPHF, por sua vez, atua desde 1996 com projetos de ensino, pesquisa e extensão nas áreas de homeopatia, fitoterapia e terapias integrativas, promovendo ações interdisciplinares voltadas à saúde e à inovação social. 

A expectativa é que os protocolos desenvolvidos possam ser utilizados em ações de extensão e distribuição comunitária de mudas, a partir do meio de oficinas pedagógicas, feiras e cartilhas educativas com informações sobre cultivo, uso medicinal e técnicas de plantio. As atividades de extensão para distribuição das mudas estão previstas para ocorrer a partir de fevereiro de 2026.

Equipe tem estudantes de graduação no processo

Além dos impactos científicos e ambientais, o projeto possui um forte componente educacional: a equipe é composta por estudantes de graduação que vivenciam todas as etapas do processo científico, desde o planejamento experimental até as ações de extensão.

Pedro de Lima Nóbrega, estudante de Biotecnologia da UFPB, é um dos participantes do projeto de pesquisa e ressaltou a importância da divulgação científica presente no trabalho realizado pelos pesquisadores. “Mais pessoas estarão cientes da relevância das plantas medicinais nas comunidades paraibanas e novos projetos podem surgir, melhorando a qualidade de vida da população. Compartilhar ciência e conhecimento é um dos objetivos centrais desta iniciativa”, afirmou

“A ideia é que o conhecimento circule. As mudas, assim como as informações, precisam sair dos laboratórios e chegar até quem faz uso dessas plantas no cotidiano. E esse diálogo com as comunidades é fundamental para que o projeto cumpra seu papel social”, complementou Giovania Lira, coordenadora do Programa Celso Furtado na Secties.

Ela também destaca que os impactos esperados vão além da universidade: “O projeto contribui para fortalecer cadeias produtivas locais, valorizar saberes tradicionais e subsidiar políticas públicas voltadas ao uso seguro de plantas medicinais, especialmente na atenção primária à saúde”.

O projeto Semeando Saúde dialoga com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, especialmente no que se refere ao consumo e produção responsáveis, promoção da saúde e bem-estar e conservação dos ecossistemas terrestres.

Fórum Celso Furtado

Nos dias 19 e 20 de agosto, o Governo da Paraíba, por meio da Secties, realiza o Fórum Celso Furtado: Desenvolvimento, Justiça e Democracia, no Tribunal de Contas do Estado, em João Pessoa. O evento reunirá pesquisadores, gestores e especialistas para debater temas como crise climática, soberania digital, tecnologia e justiça social, com base nos princípios do desenvolvimento regional sustentável. As inscrições são gratuitas, com certificação, e já estão disponíveis on-line. 

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 27 de julho de 2025.