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Pesquisadores e ambientalistas veem erros e riscos no projeto da Beira Rio

publicado: 24/07/2016 00h05, última modificação: 22/07/2016 20h36
1 Derrubada de árvore na beira rio_EP (28).jpg

Mais de 30 árvores adultas (foto) já foram sacrificadas pela prefeitura; bióloga afirma que gestão prejudicará os moradores - Foto: Evandro Pereira

tags: novo projeto , beira rio , ciclovia , prefeitura de joão pessoa


Jadson Falcão
- Especial para A União

No último dia 8, a Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) apresentou aos ciclistas pessoenses um projeto de reestruturação da Avenida Ministro José Américo de Almeida - mais conhecida como Beira Rio -, que pretende resgatar a área das calçadas da avenida para uso dos pedestres, e implantar uma ciclovia que ligaria o Parque da Lagoa à Orla do Cabo Branco pelo canteiro central da Beira Rio. Ambientalistas e grupos de participação popular da cidade, no entanto, afirmam que o projeto precisa ser reestruturado, porque fere o meio ambiente, já que derrubará mais 31 árvores adultas - além das mais de 30 já derrubas pela gestão - e põe em risco a segurança dos ciclistas.

A Prefeitura Municipal de João Pessoa plantará - em substituição às árvores que serão derrubadas, 900 mudas de árvores em todo o trecho, sendo 300 destas espécies frondosas - que serão colocadas no canteiro central - e 600 dessas árvores palmeiras - que serão plantadas nas calçadas. Segundo a bióloga e professora do curso de Gestão Ambiental do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Tânia Maria de Andrade, o projeto da ciclovia é uma estratégia de qualidade de vida e bem-estar, que acaba por destruir as áreas de sombreamento e a estética verde do local.

“As árvores da avenida são árvores que têm entre 30 e 40 anos, e retirando-as você vai deixar feridas abertas no solo em prol da qualidade de vida do ser humano. Essa concepção de gestão ambiental é antropocêntrica e voltada para a questão corporal, deixando de lado o conforto ambiental que também traz o bem-estar”, afirmou a professora.

Tânia Maria de Andrade salientou que a retirada das árvores será prejudicial também porque deixará o solo recebendo a refração solar de forma direta, o que causará o aquecimento do local e prejudicará o conforto térmico dos moradores. Ainda segundo ela, as palmeiras que serão colocadas na avenida terão apenas efeito estético.

“As palmeiras oferecerão praticamente apenas o efeito estético, porque o sombreamento proporcionado por elas é menor e suas folhas se parecem com espátulas, o que dá a ela uma menor condição de filtração do que a que tem as copas de árvores frondosas que vão ser retiradas”, explicou.

Tânia observou ainda que a plantação de novas árvores como compensação pelas que serão mortas pode se mostrar ineficaz, uma vez que as mudas plantadas trarão os efeitos de conforto térmicos e ambientais somente daqui a 20, 30 ou 40 anos. “Acredito que poderia ser feito um estudo de viabilidade que conservasse mais a biodiversidade, e assim esse projeto poderia ser realizado em outras avenidas onde não fossem mortas tantas árvores. Eu ponho em questionamento até onde a questão da saúde humana vale a cobertura vegetal tão necessária ao planeta e aos seres humanos”, finalizou a professora.

Proposta original queria matar 200

Henrique França lembra o projeto inicialO jornalista, professor universitário e integrante do grupo João Pessoa Que Queremos (JPQQ), Henrique França, afirmou que ao contrário do que propaga a prefeitura, o projeto da ciclovia já existia anteriormente à gestão do prefeito Luciano Cartaxo. Henrique relembrou que a proposta foi arquivada no ano de 2013, sendo seguida de outra ainda mais prejudicial ao meio ambiente que, de acordo com ele, retiraria no mínimo 200 árvores da avenida.

“Esse projeto foi retirado do site da prefeitura em 2013 sem qualquer explicação, e no lugar dele os secretários começaram a dizer que iriam fazer um novo projeto na Beira Rio, que pretendia retirar dois metros de cada lado do canteiro central para passar mais uma faixa de carros na avenida. Quando soubemos disso, nós nos reunimos - e essa foi uma das principais motivações para a criação do JPQQ - porque isso seria um retrocesso na cidade, uma vez que aquela é uma das avenidas mais arborizadas que nós temos”, explicou Henrique.

O João Pessoa Que Queremos realizou audiências públicas e debates nas praças da cidade sobre o projeto, além de manifestações chamadas de “Ocupe Beira Rio”, no qual o grupo ocupou a avenida e requereu da prefeitura a manutenção do canteiro central e a preservação do espaço verde da capital. Segundo Henrique, o grupo requereu ainda da prefeitura o projeto executivo da obra que, de acordo com ele, nunca foi enviado.

“No final das contas, depois de alguns meses de insistência eles disseram que era somente uma ideia e que o projeto não existia. O projeto da ciclovia ficou engavetado, e felizmente o da outa via para os veículos também foi”, explicou o professor.

Henrique França afirmou ainda que a Prefeitura Municipal de João Pessoa está retomando o projeto da ciclovia apenas com fins eleitoreiros, uma vez que este estava arquivado e às vésperas da eleição está sendo retomado. “Faltando apenas três meses para as eleições, a prefeitura anuncia basicamente o mesmo projeto, e o fechamento da licitação também vai culminar em três meses, ou seja, às portas da eleição. É lógico que retomar um projeto que passou três anos parado às vésperas das eleições é uma jogada eleitoreira”, afirmou.

A Associação Paraibana dos Amigos da Natureza (Apan) também combateu veementemente a terceira via de veículos na Beira Rio em 2013, e seu presidente, Antônio Augusto, classificou o atual projeto da ciclovia como absurdo por derrubar as árvores que, segundo destacou, datam da época em que a avenida foi construída, tendo hoje mais de 40 anos. Antônio Augusto afirmou ainda que a proposta é “uma permuta desvantajosa para a cidade”.

Pesquisadora alerta para risco aos ciclistas

Aida Pontes questiona falta de segurança à integridade dos ciclistas e a forma como o projeto foi apresentadoA ciclista e doutora em Mobilidade Urbana, que também é integrante do grupo João Pessoa Que Queremos, Aida Pontes, afirmou que o projeto precisa ser reestruturado, pois apresenta riscos de segurança aos ciclistas, uma vez que não coloca semáforos para os usuários nos cruzamentos. “Num projeto cicloviário, o que é mais perigoso para o ciclista são os cruzamentos, e nesse da prefeitura não existe nenhum semáforo, nem nos cruzamentos”, explicou.

Aida Pontes afirmou que falta também a elevação necessária para que os ciclistas sejam priorizados na ciclovia, e para que a faixa não alague em dias de muita chuva na cidade. “Não há nenhum tipo de elevação da via para que exista uma prioridade para os ciclistas. O projeto da ciclovia da Beira Rio está igual à ciclovia da Avenida Hilton Souto Maior, onde ao invés de a ciclovia ser 15 centímetros mais elevada que o asfalto estando ao nível do canteiro, é como se a ciclovia fosse cavada e ficasse no nível do asfalto”, observou.

Para Aida Pontes, outro problema do projeto executivo é que nele não são indicados os locais onde as novas árvores serão plantadas, mas apenas a quantidade de árvores que serão retiradas e de árvores que existem na área.

“Pelo que eles mostraram pra gente, criticamos o fato de que nas calçadas serão colocadas palmeiras imperiais. Nós achamos que deveriam ser colocadas árvores que ofereceriam a sombra aos pedestres ao invés das palmeiras”, completou ela, que afirmou ainda que o grupo João Pessoa Que Queremos não é contra a implantação do projeto, mas sim contra a forma que este está sendo conduzido, tanto no que diz respeito aos pontos já indicados por ela, quanto no tocante à devida participação da população nas decisões do projeto que, segundo ela, não aconteceu.

Questionada pela reportagem de A União sobre a possibilidade de executar o projeto em outra avenida ou de forma a livrar um maior número de árvores, a Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de João Pessoa se limitou apenas a informar a quantidades de árvores que serão mortas e a quantidade que será replantada.