por Alexsandra Tavares*
O plástico está presente no dia a dia dos lares, indústrias, escolas, hospitais, restaurantes, salões de beleza, automóveis, enfim, em praticamente todos os setores econômicos. O problema é que todo esse material, um dia, vai parar no lixo e, muitas vezes, o descarte é feito de forma incorreta no meio ambiente, impactando biomas como o marinho. De acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o plástico é responsável por 70% dos resíduos encontrados nos mares brasileiros.
O estudo, divulgado em 2020, faz parte do projeto Lixo Fora D’Água, da Abrelpe, e segundo o levantamento 10% do lixo coletado nas praias foram deixados pela população na própria orla, e 90% desses resíduos foram trazidos de outras áreas, sobretudo as urbanas. Resíduos jogados nas ruas localizadas a quilômetros de distância do Litoral, mas foram arrastados pela chuva, ou vento até os rios, que carregam tudo até o mar.
De acordo com a bióloga e pesquisadora Karina Massei, os prejuízos não são apenas para os seres do bioma marinho, mas também para o homem, que já está ingerindo quantidade significativa de toxina vinda do plástico. “Já foram encontrados resquícios de microplástico no sangue humano e toxinas desse produto em placentas humanas de gestantes saudáveis”, declarou.
Sobre essa absorção pelo corpo humano, Massei explicou que o plástico tem alta durabilidade, leva de 500 anos a mil anos para se decompor. Quando ficam expostos aos raios ultravioletas, se dividem em partes menores, sendo classificados em microplásticos – com tamanho inferior a cinco milímetros. Esses resíduos são carregados pelos ventos, chuvas, rios, até alcançarem as praias, e também viajam pela cadeia alimentar, retornando ao ser humano por meio do consumo de peixes e sal marinho contaminados.
Para a bióloga, o plástico pode ser considerado uma “dádiva” para a economia, mas se tornou parte de uma “terrível maldição”, tanto para o ambiente terrestre como para o aquático, “mas, principalmente, para o oceano, essa massa de água que une todos os povos, que produz pelo menos 50% do oxigênio do planeta, que abriga a maior parte da biodiversidade da Terra e que fornece a principal fonte de proteína para mais de um bilhão de pessoas”, alertou Karina.
A engenheira química Cláudia Cunha, coordenadora do projeto Mares sem Plástico, afirmou que 80% do lixo marinho são originários de atividades feitas em terra, e são levados pelos rios, chuvas e vento até chegarem ao mar. Ela contou que quando o material se transforma em micropartículas, pode ser ingerido por tartarugas, peixes e até mamíferos marinhos, pois é confundido com alimentos. Isso afeta o sistema digestivo dessas espécies.
Segundo ela, o volume de plástico nos mares poderia ser bem menor, já que o problema é causado pela má educação da sociedade, que faz o descarte incorreto dos resíduos sólidos. Para mudar essa realidade, ela alerta que é urgente a aplicabilidade de leis mais severas e incentivos econômicos. “Também podemos contribuir com esse cenário reduzindo a geração desses resíduos; refletindo sobre o nosso consumo; substituindo um item industrializado pelo natural; dando preferências às roupas fabricadas com fibras naturais; e encaminhando adequadamente nosso resíduo, dando preferência à redução, reutilização e reciclagem do produto”.
Educação ambiental busca minimizar impactos da poluição
Para tentar minimizar o impacto de lixo no mar, a sociedade civil organizada e o poder público realizam ações educativas na orla paraibana. Uma delas é o Guardiões do Mar, realizado desde o ano passado com crianças, que aprendem de forma lúdica a importância de respeitar o meio ambiente. Promovido pelo projeto de extensão da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Mares sem Plástico, a atividade ocorre mensalmente englobando oficinas, catação de lixo e brincadeiras educativas.
Cláudia Cunha, coordenadora do Mares sem Plástico, contou que a ideia é criar uma sensibilização ambiental nos participantes, buscando atingir o protagonismo infantil para o problema do lixo no mar. “Todos os recursos para a realização das atividades são próprios e as ações seguem um plano de aula, no qual o público infantil aprende brincando por meio de um conteúdo programático”, frisou.
As oficinas são realizadas mensalmente nas praias da Região Metropolitana de João Pessoa e o chamamento ao público ocorre por meio do Instagram @guardioesdomarpb. Nas oficinas, são utilizadas caixas sensoriais, visualização de microplástico, apresentação da coleção de lixo marinho, entre outras atividades. A próxima edição ocorrerá no mês de abril.
Sudema
Uma das ações que a equipe da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema) realiza para diminuir o impacto do acúmulo de plástico e outros resíduos sólidos no mar é o projeto “Praia Limpa”, que é posto em prática desde 2015. “A iniciativa tem como objetivo a conscientização, preservação e educação ambiental em toda a orla paraibana”, afirmou coordenadora de Educação Ambiental do órgão, Taciana Wanderley Cirilo.
Outra ação é o “Sudema Na Escola”, que atua na educação socioambiental na comunidade escolar e com atores da gestão de resíduos sólidos. O objetivo é integrar a escola à Política Nacional de Resíduos Sólidos, tornando-a multiplicadora das práticas da boa gestão ambiental.
Taciana Cirilo ainda citou a realização das oficinas de Reutilização do Material Pet e a de Sabão Caseiro Ecológico, feito com restos de óleo coletados dos comerciantes da orla paraibana. “Ambas têm como objetivo principal promover a conscientização dos diversos públicos para o reaproveitamento de materiais descartados pela população”, enfocou. Ela acrescentou que o lixo plástico no oceano também pode sufocar algumas espécies. “E a ingestão de microplástico causa a falsa sensação de saciedade no estômago dos animais, impedindo-os de ingerir partículas de alimentos”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 03 de abril de 2022