Jogar lixo nas praias ocasiona danos irreparáveis à vida marinha como também compromete a salubridade das águas, prejudicando a saúde dos banhistas. O projeto “Sustentabilidade como Solução para o Lixo do Mar” busca mitigar o impacto dos resíduos sólidos nos oceanos através da Política Nacional de Resíduos Sólidos( PNRS).
As ações são desenvolvidas em quatro praias de João Pessoa e em três praias de Natal. O projeto já alcançou resultados significativos, tanto é que foi incluído nas ações da década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030) da Unesco.
Uma das iniciativas promovidas pelo projeto é a coleta e análise gravimétrica dos resíduos sólidos nas praias. A professora do Departamento Engenharias de Materiais da UFPB e coordenadora do projeto Amélia Severino Santos, explica que o lixo nas praias, recolhido seis vezes por mês, é separado e tipificado no laboratório do projeto.
"Este trabalho faz parte de uma pesquisa em desenvolvimento na UFPB, conduzida por uma equipe de diversos pesquisadores dedicados "
- Ana Amélia Seixas
“A gente separa por tipo de resíduo (bituca de cigarro, canudo, tampa de garrafa, latinha), pesa o material e quantifica. Estamos armazenando para as atividades de pesquisa do projeto como o tijolo ecológico e a madeira plástica”, esclareceu.
Participam do projeto professores, alunos de pós-graduação e de graduação dos cursos de Engenharia de Materiais, Engenharia Ambiental, Engenharia Civil, Engenharia de Produção e Geografia. Na capital paraibana, este trabalho ainda é realizado em parceria com a Autarquia Especial de Limpeza Urbana (Emlur) através dos agentes de limpeza das praias.
Em 10 meses de execução na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o “Sustentabilidade como Solução para o Lixo do Mar” já coletou mais de 330 kg de resíduos plásticos, somando quatro praias urbanas na orla de João Pessoa, sendo 110 kg na Praia de Cabo Branco, quase 140 kg na Praia de Tambaú, 20 kg na Penha e 70 kg na Praia do Seixas.
O projeto é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) junto com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), O projeto é coordenado pela UFPB, contando com a parceria da Universidade Federal de Lavras (UFLA), a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Senai/Cimatec, além de uma instituição norte-americana (USDA).
Extensão
Desde sua concepção, o projeto corrobora com três objetivos para a próxima década estabelecidos pela Unesco, conforme menciona a coordenadora do projeto. “O conjunto de ações de educação ambiental, a análise gravimétrica dos resíduos sólidos em praias e a integração dos catadores com a cadeia produtiva da reciclagem, juntamente com as pesquisas enumeradas devem somar contribuições efetivas para as ações da década do oceano”, disse.
- Ações de educação ambiental também são desenvolvidas | Fotos: Leonardo Ariel
Por isso, além da análise dos resíduos coletados nas praias, a professora cita outras ações de extensão em andamento, a exemplo do “Universidade em Ação”, que coleta tampinhas plásticas nos estabelecimentos comerciais da UFPB para produzir peças do xadrez ecológico, inclusive, tabuleiros. Além disso, os alunos do projeto ensinam xadrez ecológico na Escola de Educação Básica do Centro de Educação da UFPB ( EEBAS) para crianças do 3o e 4o ano do Ensino Fundamental I.
Outra iniciativa desenvolvida pela Universidade foi a oficina “Praia sem lixo”, ministrada para associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis de João Pessoa e Santa Rita, com o propósito de torná-los multiplicadores da educação ambiental na cidade.
A distribuição de adesivos e porta-bitucas — feitos com latinhas de alumínio de refrigerante ou cerveja —, e a elaboração de planos de negócios para as associações e cooperativas de materiais recicláveis parceiras do projeto também são exemplos de ações de extensão do projeto.
O projeto Sustentabilidade como Solução para o Lixo do Mar ganhou o prêmio Elo Cidadão no ano 2023, concedido pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex/UFPB), ao apresentar as ações realizadas com os catadores de materiais recicláveis. O projeto ganhou no eixo meio ambiente e em breve será publicado como capítulo de livro. Na UFLA também teve o mesmo reconhecimento.
Plástico pode ser usado em alternativas sustentáveis
O projeto conta com ideias sustentáveis para uso do plástico, uma delas é o tijolo ecológico. A doutoranda em Engenharia de Materiais, Ana Amélia Seixas, explica que o tijolo convencional é confeccionado em altas temperaturas, já no ecológico não necessita de queima, sendo levado à sombra para endurecer e adquirir resistência.
Uma grande vantagem da utilização desse tijolo é a reutilização de recursos, como por exemplo, resíduos plásticos.
“No caso do ecológico, nós utilizamos resíduos plásticos triturados, com adição de cimento, água e solo em diferentes proporções. Este trabalho faz parte de uma pesquisa em desenvolvimento na UFPB, conduzida por uma equipe de diversos pesquisadores dedicados“, explicou a doutoranda.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de julho de 2024.