Dentre os mais de 1.710 itens inscritos e mais de 600 obras de trabalhos e produções realizadas em 2023, foi o paraibano Henrique Magalhães, quadrinista, editor e produtor que ganhou o Troféu Muriel pelo reconhecimento como Grande Mestre dos Quadrinhos no Brasil. O Troféu HQMix é uma premiação que reconhece, divulga e premia a produção de cartuns, charges, quadrinhos e demais artes gráficas no país.
O evento, que está em sua 36a edição, aconteceu no Teatro Raul Cortez, do Sesc 14 Bis, em São Paulo. Além do paraibano Henrique Magalhões, com a personagem Maria, a outra homenageada como Grande Mestre dos Quadrinhos no Brasil foi Anita Costa Prado, roteirista de quadrinhos que criou a personagem Katita, em 1995. O Troféu Muriel recebeu este nome em homenagem à personagem Muriel, da carturnista Laerte, que figurou nas páginas dos jornais, pela primeira vez, em 2004 e representa bem a motivação da premiação deste ano.
Ambos os quadrinistas foram escolhidos por serem importantes e pioneiros na produção de quadrinhos com personagens LGBTQIAPN+ no país. Henrique idealizou a personagem Maria, que completa 50 anos da sua primeira publicação em jornal no próximo ano. Precursora em abordar causas subversivas e libertárias, Maria trouxe para a Paraíba e para o Brasil, uma outra imagem de mulher. “Ela era solteirona que buscava um casal ou uma companhia. Por isso, ela sempre foi essa mulher proativa que não se submetia a convenções sociais, sendo porta-voz de vários movimentos, tanto o estudantil como o feminismo. Aliás, movimentos de esquerda no geral”, explicou Henrique sobre a personagem que recebeu a honraria.
Maria, que fala sobre política, gênero, economia e sexualidade, foi publicada, pela primeira vez, no Jornal A União, em agosto de 1975. Traduzindo de forma bem-humorada problemáticas do cotidiano, ela e a amiga Pombinha viviam diversas situações que as faziam questionar a realidade da qual faziam parte. Hoje em dia, não é muito diferente, conta Henrique, que mantém a personagem atualizada nas publicações.
Durante sua vida — e a vida de Maria —, Henrique não consegue contabilizar quantos quadrinhos de existência a personagem tem. “Não tenho nem ideia. De livros sei que tem 10 desta coleção. Mas tem muitas revistas e também tem várias fases de publicação”, contou o quadrinista, que também atuou como professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no curso de Jornalismo e Mídias Digitais. Parte de seu contato com questões sociais vem do doutorado que teve oportunidade de realizar na Universidade de Paris.
Maria amadureceu com o tempo, mas nunca esteve perdida no passado. Ela e seu criador acompanharam o passar dos anos atentamente, para que, com as mudanças sociais, Maria continuasse proativa, como sempre foi desde seu nascimento. Em 27 de agosto deste ano, Maria também foi eleita patrimônio cultural imaterial da Paraíba a partir da Lei no 13.343, de autoria da deputada estadual Cida Ramos.
Maria volta para casa
Com o compromisso da editora A União, da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), Maria voltará para a casa que a acolheu a primeira vez na década de 1970, a partir de uma coletânea que será publicada em janeiro de 2025. “A empresa vem resgatando publicações nas quais a gente possa trazer não só a memória do que A União fez, mas também do que é publicado aqui na Paraíba de modo geral. É uma forma de valorizar o talento local e a literatura nas suas diversas formas de expressão”, enfatizou a diretora-presidente Naná Garcez durante reunião com o quadrinista, que também contou com a participação do diretor de Mídia Impressa, William Costa.
A coletânea de aniversário de 50 anos da personagem surgiu em meio a um evento internacional, o FliParaíba, que aconteceu em novembro. A presidente da EPC conta que a parceria com o quadrinista se consolidou ontem. Para Henrique, fechar esta parceria é como voltar para a casa, pois foi no jornal que ele teve incentivo e estímulo para a criação e continuidade da personagem.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de dezembro de 2024.