A natureza oferece diversas fontes de lazer ao ser humano e uma delas são as praias. A Paraíba é um estado privilegiado nesse sentido, pois possui um litoral que se estende por mais de 130 quilômetros de extensão. Mas, dependendo do dia, há trechos de praias que estão impróprios para o banho por causa da poluição. Segundo a Superintendência de Administração do Meio Ambiente da Paraíba (Sudema-PB), a principal fonte poluidora que afeta a balneabilidade das praias é “a provável ligação de esgoto sanitário à rede pluvial”, fazendo com que água suja seja despejada no meio ambiente, prejudicando os organismos aquáticos e o ser humano.
“As ligações clandestinas geralmente estão associadas à falta de saneamento básico na região e, atualmente, é um dos maiores problemas ambientais. Lançado sem tratamento, o esgoto altera toda a composição química da água, afetando os organismos aquáticos”, declarou Talita Araújo, chefe de Divisão de Controle da Poluição da Sudema.
De acordo com a gestora, quando o despejo se direciona para o mar, altera a qualidade da água das praias. E quando é lançado nos rios, acaba causando poluição dos recursos hídricos que estão disponíveis para consumo humano, o que gera uma redução significativa da água potável disponível para a população.
Talita contou que no momento em que se identifica algum lançamento de esgoto clandestino, o responsável é notificado e obrigado a sanar o problema. “A pessoa tem de realizar, neste caso, a ligação na rede coletora de esgoto ou implementação de um sistema de tratamento de esgoto ou construção de uma fossa séptica.”
Vale ressaltar que, quando um trecho de praia está impróprio para o banho, significa dizer que a taxa de coliformes termotolerantes (antigamente denominado de coliformes fecais) está acima do que é permitido pelos especialistas. Os indicadores adotados para mensurar essa taxa é a Unidade Formadora de Colônia (UFC) e o mililitro (ml).
De acordo com a Sudema, o banho, ou outra atividade realizada dentro do mar, deve ser evitado quando o trecho de alguma praia apresentar números superiores a 1.000 UFC/100 ml em mais de 20% do tempo de análise, ou se o trecho mostrou mais de 2.500 UFC/100 ml na última medição. “Levamos em consideração as últimas cinco semanas de coleta. Então, se em mais de 20% das coletas realizadas nessas cinco semanas derem mais 1.000 UFC/100 ml, elas são consideradas impróprias”, explicou Talita.
Esgotos não tratados por cidades oferecem riscos às praias e rios
A bióloga, professora e pesquisadora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Maria Cristina Crispim, afirmou que, o maior problema ambiental que impacta na poluição das águas dos mares e rios é o não tratamento adequado de esgotos. Ela contou que muitas cidades têm coleta de esgoto, que não é tratado e é lançado diretamente nos rios, principalmente, os urbanos.
Em outras situações, há a coleta mas, o tratamento é feito em Estações de Tratamento do tipo australiano, que adota “apenas lagoas de decantação, com tratamento insuficiente, que não retira os coliformes e são lançados por seus efluentes nos rios”. Dessa forma, essas águas vão para os estuários e chegam nas praias, comprometendo a balneabilidade nessas regiões.
“Aqui em João Pessoa, temos as três situações: esgotos clandestinos, esgotos coletados e lançados diretamente nos rios, e esgotos indo para Estações de Tratamento precário, que não retiram a maior parte dos contaminantes, incluindo os coliformes, que são um indicador de balneabilidade em ambientes marinhos”, afirmou a bióloga.
Maria Cristina Crispim declarou que os esgotos não tratados adequadamente levam a outros problemas. Além da perda de qualidade balnear, esses líquidos poluentes são repletos de matéria orgânica, que se decompõe nos rios, levando à queda de oxigênio nos ecossistemas aquáticos, afetando toda a biota aeróbia.
O excesso de nutrientes aumenta a produção de plantas aquáticas ou microalgas que, em excesso, provoca a degradação da qualidade de água. Algumas dessas plantas são a baronesa e a alface d’água, que acumulam água nas folhas, virando criadouro de mosquitos transmissores de doenças. Ela acrescentou que, as águas de esgotos não tratadas, lançados nos rios, também causam mau cheiro, devido à “presença de sulfeto, que é tóxico”.
“Assim, vemos que, com nossas atitudes irresponsáveis de não tratar esgotos, estamos colocando em risco o uso da água, que é um recurso cada vez mais valioso. Colocamos também em risco uma atividade importante para a economia, que é o banho de mar, visto que o turismo de sol e mar é um dos mais consolidados na nossa região”, ressaltou Crispim.
Risco de doenças
A poluição das praias e rios também causa doenças à população. Segundo a bióloga, professora e pesquisadora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Maria Cristina Crispim, entre as enfermidades transmitidas por veiculação hídrica estão verminoses - provenientes dos insetos que se proliferam nos locais impuros, bem como a diarreia. “Resumindo, quanto mais esgoto, maior a degradação dos rios, maior a transmissão de doenças, maior a internação hospitalar, menor a qualidade das praias, resultando em impactos sociais, ambientais, econômicos, entre outros”, frisou a pesquisadora.
Novos Investimentos
Cagepa - A assessoria de imprensa da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) informou que as Estações de Tratamento de Esgoto possuem lagoas anaeróbio e facultativa, com tratamento biológico, onde removem 60% da carga orgânica exigida pela legislação vigente.
Com relação aos coliformes, a Cagepa comunicou que tem resultados variáveis, com índices que oscilam, dependendo dos meses do ano. Por causa dessa variação, a companhia está em busca de tecnologia e produto químico que não causem nenhum dano à biótica do corpo receptor.
A partir dessa concepção, a Cagepa informou que está realizando testes e elaborando projetos de adequação às tecnologias e produtos químicos a serem instalados e aplicados nos sistemas para seguir com os avanços e entrega de um serviço de excelência cada vez melhor aos paraibanos.
Semam - A Secretaria do Meio Ambiente de João Pessoa informou que o órgão realiza fiscalização nos bairros da cidade para detectar ligações clandestinas de esgoto ou outros problemas ambientais. Quando detectada a infração, o responsável está sujeito à multa que varia conforme a gravidade da ação. Laçar esgoto em via pública, por exemplo, pode gerar multa que vai de 320 Ufir-JP a 382 Ufir-JP. Lembrando que o valor da Ufir, atualmente, é de R$ 47,11. Se o lançamento for para galeria de redes pluviais, o valor varia de 1.689 Ufir-JP a 2.941 Ufir-JP.
Mais de 64 pontos são acompanhados no litoral da Paraíba
Para avaliar a qualidade das águas (balneabilidade) das praias destinadas ao banho, natação, mergulho ou pesca, a Sudema monitora 64 pontos em todo o litoral do estado e, semanalmente, divulga o boletim com os resultados obtidos das análises. Toda sexta-feira um boletim atualizado é divulgado para a população.
A chefe de Divisão de Controle da Poluição da Sudema, Talita Araújo, afirmou que os trechos que apresentam, com maior frequência, inaptidão para uso por parte dos banhistas são as áreas em frente à desembocadura do maceió do Bessa e no Farol do Cabo Branco, em frente à rotatória do Cabo Branco.
“As amostras são coletadas, semanalmente, de segunda a quinta-feira. Em seguida, são analisadas com relação à incidência de coliformes termotolerantes. Às sextas-feiras, o boletim é divulgado”, frisou Talita. O resultado da análise pode ser conferido no site da Sudema que é: https://sudema.pb.gov.br/.
Caso identifique ligação clandestina de esgoto no estado, a população pode contribuir com o trabalho da Sudema, realizando denúncia por meio do número (83) 98844-2191.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 13 de agosto de 2023.