A qualidade do ar está ligada diretamente à saúde e bem-estar de todos os seres vivos, sejam animais ou vegetais. Principalmente nos centros urbanos, é comum a presença de várias fontes poluentes. Entre elas estão as indústrias e diferentes tipos de veículos que emitem substâncias como Óxidos de Enxofre (SOx), Óxidos de Nitrogênio (NOx), Ozônio e fumaça, que podem causar doenças graves como câncer e danos ao meio ambiente. Na natureza, esses organismos poluidores são responsáveis por fenômenos como a chuva ácida e o intenso ressecamento da vegetação.
A química industrial, Nataly Albuquerque, tem doutorado em Química, estuda a qualidade do ar em João Pessoa e coordena o Laboratório de Tecnologia de Biocombustíveis da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O laboratório faz parte do Instituto UFPB de Desenvolvimento da Paraíba (Idep). Segundo ela, ainda não se pode apontar com certeza qual o bairro ou área de João Pessoa apresenta maior poluição atmosférica. Porém, já está evidente que o centro da cidade requer maior atenção.
“Ainda não temos registros suficientes para garantir onde estão os níveis mais elevados de poluição atmosférica na cidade de João Pessoa. Porém, em locais com maior tráfego de veículos, principalmente veículos pesados (ônibus e caminhões) a presença de poluentes é maior. Por este motivo, o centro da cidade é um local que precisa ser visto com atenção”, salientou.
A professora do Departamento de Tecnologia Sucroalcooleira da UFPB, Márcia Pontieri, doutora em Química, com estudo em poluição atmosférica, explicou que o nível de poluição do ar é mensurado a partir de alguns indicadores atmosféricos. “Material Particulado (MP) de vários diâmetros de partícula (PTS, MP10 e MP2,5), Óxidos de Enxofre (SOx), Óxidos de Nitrogênio (NOx), Ozônio, Chumbo, Monóxido de Carbono (CO) e fumaça”.
De acordo com ela, a Resolução Conama 491/2018 estabelece os valores máximos permitidos para cada um desses parâmetros. E essas medições são realizadas por uma estação de monitoramento da qualidade do ar, composta por equipamentos automatizados que analisam cada um desses parâmetros. Na UFPB, por exemplo, não há estação de monitoramento automatizado, mas a instituição possui amostradores de Material Particulado (MP).
Os dois sistemas (estações automatizadas e amostradores de MP) permitem a análise da qualidade do ar em pontos localizados. Mas, enquanto a estação automatizada faz a análise a cada minuto, o amostrador de MP é manual. Por isso, após 24 horas, é necessário levá-lo para o laboratório para pesar o filtro e medir a quantidade de MP acumulado na atmosfera. Assim, é necessário ter um profissional disponível para essa finalidade.
Plataforma
A pesquisadora e professora Nataly Albuquerque afirmou que o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima tem uma plataforma, MonitorAr, que permite qualquer cidadão obter informações relacionadas ao monitoramento da qualidade do ar de determinado local, em tempo real. Por meio desse canal, Nataly contou que é possível fazer uma comparação com os dados de qualidade de ar de vários locais do mundo. “Percebe-se, também, como vários países têm dado atenção ao tema de poluição atmosférica pela quantidade de estações de monitoramento da qualidade do ar”, disse. Porém, somente nos locais onde há estação de monitoramento automatizado, a informação do aplicativo pode ser acessada, o que não é o caso da Paraíba.
Poluentes representam ameaças diversas
Câncer, doenças pulmonares, presença de Material Particulado na corrente sanguínea e irritação ocular podem ser resultantes da grande poluição do ar. A natureza também é diretamente impactada com essa realidade. Algumas misturas de gases, quando entram em contato com a umidade do ar, ou até mesmo com raios solares, resultam em compostos prejudiciais aos seres vivos.
A doutora em Química e professora do Departamento de Tecnologia Sucroalcooleira da UFPB, Márcia Pontieri, afirmou que gases como o dióxido de enxofre (SO2) e o dióxido de nitrogênio (NO2), em contato com a umidade do ar, podem dar origem a compostos ácidos, provocando a chuva ácida.
“Esses gases também sofrem várias reações na atmosfera, na presença de radiação solar, levando à formação de compostos bastante tóxicos, não só para o meio ambiente, mas também para a saúde humana”, ressaltou Márcia.
Outro exemplo é o ozônio. Em baixa temperatura, ela disse que é bastante corrosivo, provocando a queima de plantas, causando o ressecamento de peças de borracha, tais como limpador de para-brisa e borrachas de vedação. “Também causam irritação nos olhos”, acrescentou.
Para se ter ideia da proporção dos prejuízos que a má qualidade do ar traz ao homem, a professora explicou que há Material Particulado (MP), composto por partículas menores que 2,5 micrômetro (MP 2,5), que são inaláveis, chegando até os pulmões dos indivíduos. Esse MP pode, inclusive, entrar na corrente sanguínea. “Vários estudos mostram que os MP podem causar doenças pulmonares, cardiovasculares e cânceres”, contou.
Esse impacto, porém, pode ser minimizado. Segundo Márcia Pontieri, no caso das emissões veiculares, a emissão de poluentes pode ser reduzida com a manutenção correta dos veículos, com frota mais nova de ônibus e, principalmente, pela substituição de combustíveis fósseis por biocombustíveis e veículos elétricos (abastecidos com energia de fontes renováveis).
Ao invés de os veículos serem abastecidos com gasolina, os motoristas também podem adotar o etanol, diminuindo grande parte dos poluentes. “O etanol, praticamente, não libera Material Particulado durante a queima. Além disso, o ciclo de vida dos biocombustíveis (etanol, biodiesel) mostra que eles contribuem para a diminuição da concentração de CO2, que é o gás de efeito estufa em maior concentração na atmosfera e maior responsável pelas mudanças climáticas”, citou Márcia.
Outra dica é a substituição da frota de ônibus a diesel por ônibus a etanol, que “também seria ótimo para a diminuição das emissões de poluentes atmosféricos”.
Principais fontes poluidoras
Quando se analisa a poluição do ar nos centros urbanos, tem que se considerar fontes poluidoras fixas e móveis. A primeira diz respeito às unidades industriais, e a segunda aos veículos automotores.
Segundo a professora do Laboratório de Tecnologia de Biocombustíveis da UFPB, Nataly Albuquerque, os veículos que emitem mais substâncias tóxicas na atmosfera são os pesados, como ônibus e caminhões.
“Pois são abastecidos com diesel, que é um combustível fóssil muito poluente. Os carros e motos também emitem uma grande quantidade de poluentes atmosféricos, principalmente, quando abastecidos com gasolina ou diesel”, destacou Nataly.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 20 de agosto de 2023.