Jornal do Brasil
Apenas seis famílias estão entre os controladores dos quatro maiores bancos privados do país que lucraram R$ 53,9 bilhões em 2017. Foi um crescimento superior a 10%, num ano em que a economia cresceu pouco mais de 1%. O crescimento dos lucros dos bancos, turbinados pela concentração bancária e a prática dos juros mais elevados do mundo acirrou a concentração de renda no Brasil.
Maior banco do país, o Itaú, controlado pelas famílias Setúbal, Villela e Moreira Salles teve ganho de R$ 24,9 bilhões no ano passado, com alta de 10,7%. No Bradesco, que tem entre os acionistas Denise Aguiar Alvarez, neta do fundador Amador Aguiar, o lucro de R$ 14,65 bilhões cresceu 11,9% sobre 2016. A maior expansão, de 44,5%, foi do espanhol Santander, controlado por Ana Botin. O Safra, de Joseph Safra, um dos brasileiros mais ricos do mundo, ganhou mais 13% (R$ 1,9 bilhão).
No Brasil, os juros pagos aos investidores e depositantes em cadernetas de poupança (a taxa Selic) e a inflação descem pelo elevador. Sob o efeito da supersafra de alimentos, a inflação anual baixou de 10,7% em fins de 2015 para 2,86% em janeiro de 2018. Já a taxa Selic baixou 28,9%. Mas os juros bancários parecem descer vagarosamente pela escada. De acordo com o Banco Central, a baixa dos juros médios dos bancos se reduziu em apenas 22,8% no ano passado.
Essa dinâmica foi altamente perversa para as famílias brasileiras, que, sob a pressão combinada da recessão, com o desemprego e os juros elevados tiveram encolhimento de 7,6% na renda. O cenário desigual agravou o comprometimento da renda com dívidas bancárias, que atingiu 60,8% em 2017, de acordo com estudos da Confederação Nacional do Comércio (CNC). A parcela de famílias com contas ou dívidas em atraso aumentou e atingiu 25,4% em 2017, com aumento frente aos 24,2% de 2016.
Os dados são do Banco Central. Em 2017, os juros dos cartões de crédito, que tiram o sono das famílias brasileiras, fecharam o ano em 240,7% ao ano. Mas quem estava pendurado e caiu na armadilha do crédito pessoal não consignado arrumou corda para se enforcar. Embora a média das taxas apuradas pelo BC tenha sido de 113,3% em dezembro de 2017. Na primeira semana de fevereiro houve casos de taxas escandalosas. O Banco Daycoval, cobrava juros de 1.054% ao ano. Uma das campeãs em anúncios na mídia, a financeira Crefisa, patrocinadora do Palmeiras, tinha a terceira maior taxa de juros do país: 708,73% ao ano.
Mesmo com o grau de comprometido da renda dos brasileiros em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) muito inferior à média mundial, o que coloca o país na 40% posição conforme levantamento do BIS (o Banco Central dos Bancos Centrais), quando se trata de comparar a relação entre os custos das amortizações das dívidas com o tamanho da renda, o Brasil salta para a 11ª posição. O que é explicado pela baixa renda per capita dos brasileiros, de um lado, e as altas taxas de juros bancárias, de outro.
Ainda segundo o Banco Central, no crédito às famílias, a taxa de juros fechou 2017 com o nível médio de 31,9% ao ano. Uma taxa mais de dez vezes superior à taxa anual de inflação, de 2,9%. Uma comparação entre a taxa média de captação dos bancos e a taxa média dos empréstimos, o chamado spread bancário aponta desnível de 18,9 pontos favorável aos bancos.
Os lucros dos bancos são ainda engordados pelos R$ 27 bilhões arrecadados no ano passado em tarifas bancárias e nas taxas de administração cobradas na gestão dos recursos geridos pelo sistema bancário (fundos de renda fixa e DIs, fundos de ações, e os fundos de pensão e de previdência). Esta é a área na qual os bancos mais vêm sofrendo concorrência das instituições não bancárias, como fintechs e cooperativas de crédito. A perda diária era de R$ 5 milhões para o sistema.