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Questão de concurso público tem alternativas com insultos racistas

publicado: 19/01/2018 19h55, última modificação: 19/01/2018 19h55
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Os responsáveis pela prova e a prefeitura serão intimados a prestar esclarecimento sobre a questão racista no concurso - Foto: Joca Duarte/Creative Commons

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Da Ciberia/Hypeness

Uma questão de prova em um concurso público para 200 vagas na Prefeitura de Morrinhos, sul de Goiás, utilizou frases com insultos racistas em suas alternativas. A pergunta pedia a interpretação de um texto bíblico e tinha quatro alternativas, todas com ofensas a negros. As opções tinham termos como “negro deitado é um porco, de pé é um toco” ou “negro parado é suspeito, correndo é ladrão, voando é urubu”.

A questão foi denunciada por Hélio de Araújo Júnior, um dos 3 mil candidatos que fizeram a prova. Ele se sentiu constrangido no momento em que leu os insultos e, logo após sair da sala, procurou uma delegacia. “Algumas pessoas riram, fazendo chacota na hora que viram a questão, outros tomaram dores e faziam sinais negativos de que a aquela pergunta era inadequada”, relatou ao G1.

A avaliação foi aplicada no último dia 15, em Morrinhos. Ela trouxe, ainda, na categoria de conhecimentos gerais, um texto intitulado “Qual a origem do racismo?”. O material dizia que, no século XV, teólogos europeus chegaram à conclusão de que escravizar africanos era algo natural. De acordo com a prova, o embasamento para a teoria estava em uma passagem do Livro de Gênesis, em que Canaã, filho de Noé, se embriaga e é condenado à escravidão. Com base no texto, a questão perguntou qual seria o provérbio racista que representava a ideia do trecho da Bíblia.

Segundo a comissão organizadora, a alternativa correta era “negro só tem de gente os dentes”. As outras diziam “negro parado é suspeito, correndo é ladrão, voando é urubu”; “negro quando não suja na entrada, suja na saída”; “negro deitado é um porco, e de pé um toco”.

Apolônio Nunes de Oliveira, representante da empresa responsável pelo concurso e coordenador, disse que a ideia era provocar uma discussão sobre racismo. “A ideia que a banca teve ao colocar esta questão foi de que isso chamava a discussão do preconceito, da origem do preconceito. Eu quero defender com toda nossa garra, com toda nossa força, que jamais teve o intuito de ofender ninguém”, disse ele.

O delegado da Polícia Civil local, Fabiano Jacomelis, afirmou que tanto os responsáveis pela prova quanto a prefeitura serão intimados a prestar esclarecimento. “A pessoa pode ser inserida na lei de racismo e responder pelas penas existentes na legislação”, afirmou ele. A Prefeitura de Morrinhos disse que cobrou explicações da empresa que aplicou a prova. Também afirmou que, até o momento, não recebeu nenhuma notificação para prestar depoimento.