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Rádio brasileiro: quase cem anos de informação e entretenimento

publicado: 23/09/2019 11h22, última modificação: 23/09/2019 11h22
por Rammom Monte
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Discurso do paraibano Epitácio Pessoa, então presidente da República, inaugurou transmissões no país

 

Há 97 anos, mais precisamente no dia 7 de setembro de 1922, no alto do Corcovado, no Rio de Janeiro, ondas sonoras ecoavam a voz do então presidente Epitácio Pessoa. Acontecia a primeira transmissão de rádio na história do Brasil. O evento marcava o centenário da Independência do Brasil, mas a data teria um significado muito maior: a estreia da radiofonia brasileira. Nesta quarta-feira (25), comemora-se o Dia Nacional do Rádio. Hoje, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (Abert), mais de nove mil emissoras operam em todo o território brasileiro com uma cobertura de 83,8% dos domicílios.

Se o discurso de Epitácio marcou a primeira transmissão, não se tem tanta clareza sobre qual seria a primeira emissora de rádio do país. Há quem defenda que foi a Rádio Clube de Pernambuco, sediada em Recife. Outros afirmam que a pioneira foi Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Seja em Pernambuco ou no Rio do Janeiro, o que importa é que o rádio adentrou às casas e ouvidos dos brasileiros na década de 1920 para não mais sair.

Na Paraíba, a primeira emissora foi a Rádio Tabajara, inicialmente chamada de Rádio Diffusôra da Parahyba, e, posteriormente, Clube da Parahyba. Fundada em 25 de janeiro de 1937, apenas em 15 de abril do mesmo ano é que ela mudou o nome para Rádio Tabajaras da Parahyba. A alteração final até chegar no atual nome só ocorreu devido a questões publicitárias, como aponta o jornalista e radialista Gilson Souto Maior, em seu livro “Rádio – História e Radiojornalismo”.

“Eu digo que a Tabajara foi e continua sendo muito importante. Ela foi o começo de tudo, o rádio que existe hoje nasceu com a Tabajara em 1937. Então, todo 25 de janeiro, a Tabajara completa sempre uma presença na vida paraibana e de uma emissora que foi reveladora de grandes valores”, disse Gilson.

Há 50 anos na Rádio Tabajara e sendo um dos funcionários mais antigos do local, Assis Mangueira também reforçou esta ideia de escola que o veículo tem. “A Rádio Tabajara é uma escola. Sempre foi. Quem não passasse pela Tabajara não tinha tanta repercussão profissional como em outras empresas. Muita gente foi reconhecida profissionalmente. Saíram muitos profissionais aqui da rádio para outras emissoras de outros estados, como Rádio Nacional, no Rio de Janeiro, Jornal do Commercio e outras emissoras, como em Salvador e também São Paulo e Belo Horizonte”, relembrou.

O também jornalista Josélio Carneiro escreveu um livro sobre a Rádio Tabajara. Segundo ele, grandes artistas passaram pelos quadros da rádio. Ele também lembrou de coberturas tradicionais feitas pela emissora.

“Pela Tabajara passaram nos programas, Luiz Gonzaga, o próprio Jackson do Pandeiro foi artista contratado pela rádio. Teve também a Orquestra Tabajara, Ângela Maria, Caubi Peixoto. A rádio sempre foi tradicional em transmissões de flashs nos carnavais. Tradição de transmitir o desfile de 7 de setembro, entre outros”, disse.

Cobertura especial na morte de Mariz

Com tantos anos de casa, Assis recorda alguns de seus principais momentos. Ele foi contratado pela rádio em 1969. “Eu cheguei na época da Copa do Mundo de 70 e o Brasil foi tri, e isto me marcou. Eu fiz a transmissão aqui no Palácio da Redenção na data em que veio a taça Jules Rimet, que saiu rodando o país todo e quando chegou aqui, eu fiz a transmissão, a cobertura da chegada da taça, o período que ela ficou em exposição, isto marcou”, disse. Outros momentos que ele guarda bem na memória são as coberturas das eleições. Antigamente, era através das notícias vindas pelas rádios que a população ia acompanhando a apuração das urnas, já que o voto era ainda realizado em papel. Outra cobertura em especial também foi importante na vida de Assis: a morte de Antônio Mariz. “O que me marcou muito também foi a cobertura da morte de Antônio Mariz. Até mesmo por conta da repercussão nacional, a gente era convocado por outras emissoras, jornais, para fazer flashs contando os fatos”, disse.

O rádio vai morrer?

Basta chegar uma nova tecnologia que uma frase é sempre entoada: o rádio vai morrer. Foi assim com a chegada da televisão, na década de 1950, e com o advento da internet. Mas Gilson Souto Maior não enxerga nem tão cedo esta morte do rádio. “No mês que a gente comemora o rádio, eu diria que já deram muito atestado de óbito para o rádio. O primeiro foi dado em 1950, com a inauguração da televisão no Brasil, por Assis Chateaubriand. Todo mundo dizia que com a TV o rádio iria acabar e na verdade o rádio se incorporou cada vez mais, mesmo tendo que mudar suas atitudes”, disse. Para ele, a chegada da internet, não só não representa a morte do rádio, como também é uma ferramenta importante de auxílio em seu fazer. “Disseram que com a chegada da internet e seus equipamentos, com suas redes sociais, o rádio acabaria. E ele não acabou. O rádio hoje está se solidificando cada vez mais. As redes sociais são um aparato da melhor qualidade para quem quer fazer bom rádio. Usar podcast para guardar as matérias, o e-mail para receber mensagens dos ouvintes, usar o WhatsApp até para reportagens, usar finalmente as redes sociais para dinamizar a presença do ouvinte na programação do rádio. Hoje não faz rádio bom e de qualidade quem não quer. Porque se é um jornalista de visão, aproveita tudo isto que as redes sociais têm e faz com que o rádio seja muito mais factual, muito mais presente”, cravou. Por fim, ele elencou quais são, para eles, os requisitos que uma boa emissora de rádio precisa ter. “O rádio é aquele veículo de comunicação que o ouvinte vê pelos ouvidos. A fala do rádio é muito forte. As notícias são o que interessam para os ouvintes. Uma rádio que não tem notícia não tem nada. Então pra mim rádio é utilidade pública, boa informação, participação popular no dia a dia e a música. Mas a utilidade pública e a notícia para mim, estes dois aspectos são os mais fortes. O rádiojornalismo é quem faz com que o radio continue vivo e lhe digo uma coisa, não vai morrer nunca”, finalizou.