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Reflorestar reduz impacto da erosão

publicado: 26/12/2023 09h47, última modificação: 26/12/2023 09h47
Pesquisadores apontam que ação humana acelerou processo em falésia, mas há como reverter impacto
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Barreira tem sofrido com a ação das marés e o impacto de ações humanas - Foto: Marcos Russo
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Alguns rios, segundo pesquisadores, não estão mais cumprindo essa tarefa - Fotos: Evandro Pereira
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Rios como o do Cabelo são considerados as nascentes das praias - Fotos: Evandro Pereira
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Intensificar o plantio de mudas é uma das soluções para diminuir o problema - Foto: Marcos Russo
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Pesquisadores apontam que rios trazem a areia do oceano até a praia e o mar escava os materiais das falésias - Foto: Divulgação/UFPB
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por André Resende*

Como tudo que é sólido se desmancha, as barreiras e falésias do Litoral paraibano não estão imunes à ação dos ventos e das águas. Seja pela ação da própria natureza, em sua comunicação silenciosa, ou pelo agir do homem, nas intervenções barulhentas e poluentes, o Litoral paraibano vem há alguns anos, assim como o litoral de outras partes do mundo, em um processo de alteração do seu estado. O tempo de transformação, porém, é distinto: quanto mais presença do homem, mais rápido ele se dará.

O professor Saulo Vital, do Departamento de Geociências do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), é responsável por coordenar um grupo de pesquisa sobre o processo erosivo no Litoral do estado. Dentre os objetos de estudo do professor está a falésia do Cabo Branco, conhecida como Ponta do Seixas, ponto mais oriental do continente americano. O professor explica que a ação do homem apressou o processo de degradação do cartão postal.

Ainda de acordo com Saulo Vital, apesar da degradação, é possível promover uma intervenção benéfica, no sentido de evitar que a erosão na Ponta do Seixas siga em um ritmo que vá comprometer os prédios que foram construídos na região. “A ocupação humana tem acelerado a erosão e existe, sim, uma forma de reverter isso, que seria reflorestar ao máximo. A nossa indicação é realizar um reflorestamento, que deve ser feito, sobretudo, no topo da barreira e o mais próximo possível dos pontos erosivos”, comentou.

Para o pesquisador, está claro que a ocupação ao longo dessas décadas aumentou a erosão na barreira, que é um evento natural, que pertence à dinâmica dessas formações costeiras. Aliás, Saulo Vital explica que a erosão, em níveis naturais, ou seja, a transformação dos sedimentos que caem das falésias, integram um processo que ajuda na formação dos bancos de areia das praias, sendo levados pelos ventos ou pelas correntes marinhas.

Por esse motivo, ao invés de impedir o processo erosivo natural, com a intervenção de gabiões ou quebra-mares no sopé na barreira, os poderes públicos poderiam fortalecer o solo com o reflorestamento da área, além de uma política de proteção da região a partir do ordenamento da ocupação pela construção civil.

“Se a falésia for completamente concretada, se ela for completamente ocupada, pode trazer sérios danos ao meio ambiente. Inclusive, já tem causado hoje, por exemplo, o próprio enrocamento que tá ali no sopé da barreira protege da erosão marinha, mas gerou outros impactos secundários. A impermeabilização do solo no topo da barreira diminui a infiltração e aumenta o escoamento das águas que ganham mais força e começa a erodir na face da barreira”, complementa.

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Pesquisadores apontam que rios trazem a areia do oceano até a praia e o mar escava os materiais das falésias - Foto: Divulgação/UFPB

Ações podem proteger as edificações próximas

Outro professor, pesquisador, Tarcísio Cordeiro, do Departamento de Sistemática e Ecologia, responsável por vários estudos em oceanografia do Litoral paraibano, explica que é mais fácil de entender o processo entre erosão e deposição quando se compreende as praias como rios de areia, uma vez que a areia que vemos hoje nas praias vai se deslocar em algum momento. Desta forma, as praias sempre vão precisar de “nascentes” de areia, porque a ação do vento e do mar naturalmente vai diminuir a largura das praias.

“As nascentes das praias são os rios e falésias. Os rios trazem a areia do continente até a praia, lembrando que muitos rios já não fazem mais isso. As falésias vivas também são nascentes de areias, então, se impedirmos o mar de escavar as falésias, vai ter menos areia no rio. Se por qualquer motivo todas as nascentes “secarem”, o rio de areia vai continuar a fluir e a praia vai esvaziar, por assim dizer. Se o enrocamento diminui a erosão do mar sobre as falésias de Cabo Branco, é de se esperar que ocorra uma erosão correspondente nas praias de Cabo Branco, Tambaú, etc”, explica Cordeiro.

Desta forma, a intervenção direta sobre o processo erosivo das falésias gera um impacto direto sobre a dinâmica que existe nos bancos de areia do Litoral. A suposta correção de um problema pode gerar um outro problema, uma vez que a natureza em sua dinâmica excludente da ação humana, está interligada. O homem ocupa, perturba a relação, e depois intervém para reduzir os efeitos desta perturbação com uma solução que não resolve. Ao contrário, vai exigir outras intervenções que seguem, essas sim, uma relação de causa-efeito sem fim.

A ocupação contínua do topo do barreira do Cabo Branco apressou o processo erosivo que, por sua vez, exigiu um enrocamento para evitar que grande parte das estruturas erguidas não fosse comprometida, fato que por consequência, para evitar o desgaste, vai ativar um processo de redução da largura das praias urbanas de João Pessoa ao Norte. A situação, aliás, traz à tona a situação da engorda das faixas de areia recentemente ventiladas pela Prefeitura de João Pessoa.

“Sobre a engorda de praia em João Pessoa, do meu ponto de vista essa ainda é uma opção no cardápio, desde que assegurada a preservação dos corais. Sem os corais, o alargamento não irá resistir por muito tempo, sendo necessária a sua repetição de tempos em tempos. A engorda de praia é uma intervenção cara do ponto de vista financeiro e ambiental, em diversos aspectos, desde o impacto sobre a pesca e o turismo local e terminando pela emissão de gases de efeito estufa. Acho que existem outras opções que devem ser consideradas, como por exemplo, a instalação de recifes artificiais“, detalha o professor de oceanografia.

A erosão do Litoral paraibano, para além dos fatos postos, passam uma clara mensagem sobre a intervenção humana na natureza. O que é natural tem seu próprio tempo, que pode ser atrasado ou apressado a depender de como nós, seres humanos, escolhemos interagir. Ainda é possível encontrar a medida certa da intervenção, ou melhor, de coexistência entre homem e meio ambiente: ela está escondida em respeitar e preservar o tempo da natureza.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 24 de dezembro de 2023.