O Dia dos Namorados, comemorado hoje, inspira a demonstração de sentimento em muitos casais. Os primeiros amores geralmente são marcantes, pois despertam emoções profundas e duradouras de apego fora do ambiente familiar. Mas até onde nossas primeiras experiências afetivas moldam nossos relacionamentos futuros?
A forma como o indivíduo se relaciona com o outro depende muito do relacionamento construído com seus pais ao longo do seu processo de desenvolvimento, principalmente, na infância, conforme explica o psicólogo e mestre em Neurociência, Manuel Francisco Araújo. “A qualidade do apego desenvolvido na infância continua a influenciar como os adolescentes se envolvem em relacionamentos românticos”, declarou. Além disso, os primeiros namoros ajudam a moldar a percepção do adolescente sobre intimidade, confiança e reciprocidade, influenciando suas expectativas e comportamentos em relacionamentos futuros.
Ana Beatriz Almeida, 20 anos, e Miguel Marinho, 19, se conheceram no cursinho preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), na Medway, em Miramar. Eles se aproximaram quando frequentavam um grupo de oração na Paróquia São Pedro Pescador, em Manaíra; começando a namorar. Além de serem unidos pela fé, o casal tem um propósito em comum: cursar Medicina. A mãe de Miguel, Amanda Marinho, sempre orientou os filhos Maria, de 13 anos, e Miguel, 19 anos, sobre a responsabilidade do namoro na perspectiva da Igreja Católica. “Tenho um diálogo muito aberto com meus filhos, procuro orientá-los sobre tudo. Miguel e Ana Beatriz vivem um namoro santo há nove meses e estão muito focados em seus projetos de vida. Minha filha contou quando deu o primeiro selinho na escola. Ela está na fase de querer se arrumar para ficar bonita na escola. É tudo tão bonitinho, aquela inocência da idade”, disse.
A estudante de Arquitetura e Urbanismo, Rebeca Cananéia, 21 anos, teve algumas paquerinhas na adolescência, mas nada que evoluísse para um namoro, pois sempre foi muito reservada.
Com a maturidade que tem hoje, ela percebe que as amigas tentavam influenciá-la na adolescência, com namoros precoces. “No meu grupo de amizades, eu fui a última a dar o primeiro beijo. Quando a pessoa é muito nova, leva em consideração a opinião das amigas, mas hoje percebo que elas não tinham maturidade para aconselhar, pois estavam vivenciando a mesma experiência.
Rebeca sempre dialogou muito com sua mãe sobre diversos assuntos. “Ela sempre foi meu porto seguro. Até quando estou errada, me corrige de forma empática. Na adolescência me aconselhava a evitar namoros precoces, mas sempre ouviu o que eu tinha a dizer”, declarou.
A orientação e o diálogo são fundamentais. Crianças e adolescentes que desenvolveram um relacionamento seguro e adequado com seus pais tendem a ser mais abertos às orientações e a procurarem ajuda quando necessário. “O diálogo aberto ajuda a criar um ambiente onde os adolescentes se sentem confortáveis para compartilhar suas experiências e preocupações. Isso não apenas promove um desenvolvimento emocional saudável, mas também fortalece a relação de confiança entre pais e filhos”, frisou Manuel Francisco, psicólogo e mestre em Neurociência.
Atualmente, Rebeca namora com Caio Maia, amigo do seu primo Rafael. Eles se conheceram quando seu primo a chamou para assistir “Animais Fantásticos” com dois casais. “Só tínhamos nós dois solteiros, mas trocamos poucas palavras. Um mês depois do cinema, o meu primo disse que Caio estava interessado em mim. Então, começamos a nos conhecer melhor e, três meses depois, a namorar”, disse. No dia 5 de agosto, o casal vai fazer dois anos de namoro. Apesar de serem muito jovens, demonstram uma maturidade admirável. “Nosso namoro é muito saudável. A gente planeja construir um futuro juntos (casar e morar fora do país), mas tudo no tempo certo”, concluiu.
Diálogo aberto é primordial numa união
De acordo com o psicólogo Manuel Francisco, os relacionamentos na adolescência são parte essencial do desenvolvimento emocional e social do indivíduo. Essa fase da vida é uma oportunidade para praticarem habilidades de relacionamento que serão cruciais na vida adulta.
Levando em consideração que as relações afetivas estão mais superficiais e precoces, Manuel Francisco orienta os pais a adotarem uma abordagem equilibrada e aberta sobre relacionamentos. “É importante que os pais dialoguem sobre saúde emocional, ensinem sobre respeito, consentimento e comunicação eficaz. Ofereça apoio sem julgamento, mas também estabeleça limites, para que eles saibam equilibrar a vida afetiva com suas responsabilidades”, aconselhou Manuel.
Quando o indivíduo cresce em ambientes inseguros, ele possui maior propensão a se envolver em relacionamentos tóxicos e abusivos, conforme explica o mestre em Neurociência. “O papel dos pais é crucial para fornecer um ambiente saudável no desenvolvimento da criança. Vale ressaltar que, nos dias atuais, a negligência afetiva dos pais pode propiciar o desenvolvimento de relacionamentos insalubres. Fazendo com que a pessoa busque no outro suprir as emoções que não foram atendidas por seus cuidadores ao longo da vida”, frisou Manuel.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 12 de maio de 2024.