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estudo da ufpb revela

Restam só 11% da Caatinga natural

publicado: 07/02/2024 09h39, última modificação: 07/02/2024 09h39
Trabalho semelhante ao da Universidade Federal da Paraíba é desenvolvido por mais duas outras instituições
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Foram utilizadas informações do MapBiomas sobre a cobertura vegetal da Caatinga existente na atualidade - Foto: Helder Araújo/Reprodução

Na região da Caatinga, restam apenas 11% da cobertura natural da vegetação. O percentual, que consta em um artigo publicado em outubro de 2023 na Scientific Reports, periódico do grupo Nature, foi aferido pelos pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Helder Araújo e Nathália Canassa, vinculados, respectivamente, aos Centros de Ciências Agrárias (CCA) e de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN), além de Célia Machado, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), e Marcelo Tabarelli, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

De acordo com o estudo, intitulado, em tradução livre, A alteração humana é a principal das mudanças na vegetação na Caatinga, a região era formada, naturalmente, por áreas de florestas secas (84,6%) e áreas arbustivas (15,3%), compostas de vegetação de menor porte, abaixo dos seis metros de altura. As áreas mais impactadas pelas transformações foram as florestas, uma vez que, atualmente, elas representam apenas 4% da Caatinga. Por outro lado, as áreas arbustivas avançaram 390% sobre as matas fechadas e mais densas, devido a um processo de degradação florestal resultante de um histórico de uso da terra. As florestas da Caatinga perderam espaço também para a agricultura, as pastagens (em uso ou abandonadas) e as áreas sem vegetação, como zonas urbanas e áreas em processo de desertificação.

Para chegar a esses números, os cientistas estimaram a área de cobertura vegetal original de florestas e de vegetação arbustiva da Caatinga por meio de uma metodologia que empregou uma modelagem de distribuição potencial de espécies, técnica interdisciplinar para estimar a ocorrência e a extensão do habitat de espécies foco, como algumas endêmicas nesse caso. Também foram utilizadas informações do MapBiomas sobre a cobertura vegetal da Caatinga existente na atualidade, bem como dados sobre clima e modificações humanas na região.

Transformações

A pesquisa aponta que a principal causa de todas essas transformações na Caatinga tem sido a ação humana histórica e atual ocorrida na localidade, que atinge a capacidade intrínseca de resistência desse bioma naturalmente adaptado às altas temperaturas e às chuvas escassas, sobretudo nas áreas de floresta.

Como exemplo dessa dificuldade de regeneração do bioma, o pesquisador Marcelo Tabarelli, um dos colaboradores da pesquisa, apontou, em um outro estudo, que um dos efeitos da derrubada das matas nativas para cultivo ou pastagem é o aumento no número de ninhos de saúva (uma espécie de formiga), que chegam a até três metros de profundidade e retardam o crescimento da vegetação quando a terra não tem mais serventia à agropecuária.

“A agricultura de corte e queima, a pecuária extensiva [que ocupa grandes áreas de terra], o extrativismo predatório e os ciclos de agricultura intensiva, por exemplo, do algodão, converteram grandes extensões de floresta. Hoje essas áreas mantêm algumas destas atividades, mas, principalmente, uma vegetação dominada por arbustos, resultante de estágio de regeneração alternativo e estabilizado, caracterizado como um tipo de degradação florestal”, afirma, no artigo, o pesquisador Helder Araújo.

Autor do estudo

O professor Helder Araújo, principal autor do estudo, dedica-se também à investigação das possibilidades de recuperação da cobertura vegetal que foram perdidas com a degradação e de contribuição da natureza para o homem, os chamados serviços ecossistêmicos.

Em parceria com outros grupos de cientistas, o pesquisador da UFPB publicou artigos nos periódicos Land Use Policy e Mitigation and Adaptation Strategies for Global Change que demonstraram a interrupção da perda de água do solo na Caatinga, desde que as matas nativas ocupem 50% de uma propriedade rural. Além disso, conforme os estudos, nas terras em que a cobertura vegetal conservada ultrapassa os 20% do total, obrigatórios por lei, a produtividade é maior, sobretudo durante os anos de estiagem.

“A restauração e a agropecuária bem feita poderiam reverter o cenário de degradação e pobreza que atualmente marca a Caatinga”, explica Helder Araújo.

Instituições parceiras

Além de ter sido contemplado pelo edital de produtividade da Pró-reitoria de Pesquisa (Propesq) da UFPB, o estudo contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB).

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 07 de fevereiro de 2024.