De cor amarelada ou alaranjada, o coral-sol atrai a atenção em qualquer lugar que se instala. Originário dos Oceanos Índico e Pacífico, a espécie é o que se pode chamar de “astro” invasor, já que migra para regiões longínquas e ameaça os corais nativos, prejudicando o ciclo alimentar dos peixes e o equilíbrio da biodiversidade marinha. Apesar de ser procedente de mares distantes, ele chegou ao Brasil na década de 1980 e, atualmente, já marca presença em estados nordestinos como Bahia, Ceará e o vizinho Pernambuco. Para especialistas, a chegada desse organismo marinho à Paraíba é só uma questão de tempo.
“Há pesquisadores que já trabalham na identificação dessa espécie e vão retirando manualmente essas colônias. Ele já chegou em Pernambuco e até vir para a Paraíba é uma questão de tempo”, afirmou a bióloga Aline Paiva de Medeiros, doutora em Zoologia e pesquisadora afiliada do Laboratório de Ecologia Aplicada e Conservação (Leac), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Ela explicou que quando o coral-sol se instala em uma área marinha fora de sua região de origem, não é reconhecido pelos peixes locais como alimento, portanto, não sofre nenhum tipo de predação. Com isso, se espalha rapidamente pelo ambiente, invadindo os locais que os corais nativos se reproduzem e estão afixados, prejudicando o desenvolvimento deles. Então, os corais nativos ficam em desvantagens, pois perdem espaço para o bioinvasor e ainda seguem servindo de alimentos para os peixes existentes em seu entorno.
Com o avanço dessa situação, a oferta de corais nativos acaba ficando menor, impactando na cadeia alimentar marinha. Há registros de que o crescimento do coral-sol é três vezes maior do que o dos nativos. “Essa é uma luta injusta e preocupante, pois já temos poucos corais no Brasil, especificamente, no Nordeste”, destacou Aline.
A migração desses bioinvasores ocorre por meio dos cascos dos navios onde eles conseguem se fixar e fazer o mesmo percurso das embarcações. Outra forma, é por meio da água, também trazida por esses meios de transportes. “Os navios carregam as águas que ficam contidas neles. Quando param nos portos, despejam essa água no local. O coral-sol também ficam incrustadas nos casos dos navios”, comentou a bióloga.
Presença de bioinvasor no litoral pode acarretar em desequilíbrio
A bióloga Camila Cristina Pires de Brito, mestranda em Zoologia, na UFPB, declarou que quando o coral-sol invade determinado ambiente no oceano, a presença dele pode promover alterações de habitats, predação, deslocamento de espécies nativas, alteração na cadeia trófica e ciclagem de nutrientes, parasitismo, competição e aumento da capacidade de sobrevivência de novas espécies invasoras.
“O efeito desses impactos sobre os âmbitos sociais e econômicos são refletidos pela alteração da saúde ambiental e perda da produção de atividades comerciais como a pesca, aquicultura e turismo”, frisou. Ela acrescentou que, atualmente, sua distribuição alcança mais de três mil quilômetros da costa brasileira, desde o estado de Santa Catarina até o Ceará, inclusive, em áreas marinhas protegidas.
Registros divulgados no site oficial do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) mostram que o coral do gênero Tubastraea, conhecido popularmente por coral-sol (sun coral, cup coral, sun polyps) crescem em águas rasas, em recifes de coral e costões rochosos tropicais. Além do Tubastraea, outras duas espécies são registradas no litoral brasileiro: a T. coccinea (de cor vermelho-alaranjado) e a T. tagusensis (de cor amarela).
O primeiro registro do coral-sol (Tubastraea) no Atlântico data de 1943 e o da espécie de T. coccinea foi documentado em 1951. A introdução acidental do coral-sol no Brasil se deu nas décadas de 1980 e 1990.
O gênero foi registrado, inicialmente, na década de 1980 em plataformas de petróleo na Bacia de Campos, Rio de Janeiro, mas, sem que se iniciassem estudos e registros sistemáticos.
Segundo levantamento realizado por consultoria contratada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), há registros de ocorrência do coral-sol na zona costeira de estados como Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina e Ceará.
A bióloga Camila Cristina Pires de Brito, mestranda em Zoologia, na UFPB, contou que a principal hipótese da chegada dele ao Brasil é que tenha sido introduzido por plataformas e/ou embarcações relacionadas aos trabalhos de extração de petróleo e gás na Bacia de Campos.
Segundo ela, essas plataformas funcionam como vetores de dispersão desses corais. “Muitas estão distribuídas ao longo da costa brasileira e possuem relações importantes com os fluxos superficiais regionais, sendo assim, sustentam potencial de doação de larvas para áreas distantes receptoras, como a Paraíba”, frisou.
Ela acrescentou que outras estruturas artificiais, a exemplo de naufrágios, também podem servir de trampolins para espalhar a sua distribuição pelos recifes naturais.
Notificar o registro de “astro” é recomendação
A bióloga Camila Pires também preside o Instituto Parahyba de Sustentabilidade (Ipas), organização sem fins lucrativos, com sede em João Pessoa, que atua em prol do desenvolvimento socioambiental e a conservação do patrimônio natural e cultural da Paraíba. Ela contou que há medidas de controle e prevenção à ação desse bioinvasor e incluem a erradicação dos organismos, tão logo seja possível.
“Em não sendo viável essa estratégia, deve-se utilizar medidas de contenção e controle de longo prazo, a fim de mitigar os impactos negativos sobre a biodiversidade e economia. Esses objetivos têm sido prioridade do Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do Coral-sol (Tubastraea Spp.) no Brasil, que conta com a articulação entre as esferas federal, estadual e municipal, sociedade civil e cooperação internacional”, afirmou.
Segundo ela, caso algum mergulhador, amador ou não, identifique o coral-sol na costa paraibana, entre em contato com o Ipas. “Faremos os registros e acompanhamento”. Ainda é possível informar a ocorrência de espécies exóticas invasoras diretamente ao Ibama, por meio do e-mail invasoras.sede@ibama.gov.br.
Quem deseja conhecer mais sobre o Ipas, pode visitar o site - https://ongipas.org.br/ e o Instagram https://www.instagram.com/ong.ipas/. Vale lembrar que, Camila ainda compõe o corpo gestor do Programa Observatório Marinho, Programa de Monitoramento Participativo da Biodiversidade e Ciência Cidadã, com foco nas tartarugas marinhas de Conde.
Saiba Mais
Um dos órgãos que monitora a costa paraibana é o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A reportagem entrou em contato com o instituto e a informação foi de que o monitoramento e controle que eles fazem desse organismo marinho ocorrem apenas nas Unidades de Conservação Federais. Informaram ainda que, “aqui na Paraíba ainda não tivemos registro de invasão da espécie na Apa e na Arie do Rio Mamanguape e nem na Resex Acaú-Goiana”. Lembrando que Apa significa Área de Proteção Ambiental; Arie quer dizer Área de Relevante Interesse Ecológico e Resex é uma Reserva Extrativista.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 14 de janeiro de 2024.