Rachel Almeida
Especial para A União
Mesmo não sendo uma doença recente, descoberta no século XIX, a sífilis é muito difícil de ser diagnosticada clinicamente, pois seus sintomas são muito comuns a outras doenças, que são tratadas com um simples antibiótico. Por esse motivo, mesmo tendo cura, ela acaba se tornando muito perigosa, se não tratada nos primeiros estágios. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (SES), foram notificados, em 2016, 393 casos de sífilis em gestantes e 260 casos de sífilis congênita. Enquanto que, em 2017, foram registrados 330 casos de sífilis em gestantes, 642 de sífilis congênita e 295 bebês que nasceram com a doença (congênita), resultando em um aumento de 12% de sífilis congênita.
A sífilis é adquirida por meio da relação sexual (sífilis adquirida), ou por transmissão vertical, que é aquela que passa de mãe para filho. Mesmo com certa dificuldade em ser diagnosticada clinicamente, a doença é muito fácil de ser descoberta laboratorialmente, pois existe um exame de sangue chamado VDRL (Venereal Disease Research Laboratory), que serve para diagnosticar a sífilis, e pode ser feito em qualquer posto de saúde, com um custo baixo. A ginecologista Wanicleide Leite Fagundes comentou que a pessoa que tem sífilis sempre vai ter o VDRL reagente. “O que quer dizer exame reagente? Quer dizer que a pessoa que teve a doença sempre vai ter o resultado no exame de ½, que significa que ela teve a sífilis, foi curada, mas tem uma cicatriz sorológica. Por isso, algumas pessoas fazem o exame e perguntam ‘mas doutora o exame ainda está dando positivo’, mas ela vai ficar pelo resto da sua vida com ½, porque é como se fosse uma marca da doença, uma cicatriz”, explicou. A ginecologista afirmou ainda que o paciente pode ser contaminado novamente, mesmo sendo curado. “Se o tratamento não foi feito corretamente e se ele se relacionou com alguém que tem a doença, então, ele pode adquirir novamente, por isso deve estar sempre em acompanhamento”, disse.
Sintomas
A doença é dividida em quatro estágios, que são o primário, secundário, terciário e latente. Segundo a ginecologista, a sífilis primária apresenta-se como uma ferida, chamada também de cancro duro, que geralmente aparece na região genital, na vulva, se for mulher, ou no pênis, caso seja homem. Essa ferida não dói, não coça, e se cicatriza espontaneamente, dando a falsa impressão de cura, e só aparecem 3 a 12 semanas após a infecção. “Então, veja, uma ferida que não coça, não dói e some espontaneamente e se encontra nessa região, é comum que a pessoa passe despercebido ou coloque uma pomadinha qualquer, que, na verdade, só camufla a doença, não trata”, esclareceu a profissional.
Na sífilis secundária ocorre a erupção cutânea, que são manchas parecidas com a catapora, que aparecem na pele e nos órgãos internos do corpo. Geralmente, elas surgem cerca de seis a oito semanas após o desaparecimento das lesões causadas na sífilis primária. A sífilis terciária é uma fase em que a pessoa começa a ter problemas neurológicos, pois a bactéria começa a atacar o sistema nervoso central do cérebro, os nervos e o coração fazendo com que o paciente tenha vários problemas. “A fase terciária não possui sintomas clássicos de uma DST. Então o paciente fica tendo problemas, não sabe o que é e acaba transmitindo para outras pessoas. Os homens para outras mulheres e as mulheres para o feto, caso ela engravide. E mesmo assim a mulher pode só descobrir que tem sífilis através do pré-natal, que tem o exame de sífilis obrigatório”, alertou a ginecologista. De acordo com a SES, um bebê infectado pode nascer sem sinais da doença. Porém, sem tratamento imediato, a criança pode ter vários problemas, desenvolvendo feridas na pele, febre, icterícia, anemia ou inchaço no fígado ou baço, sofrer convulsões ou até mesmo morrer. A sífilis latente é o estágio final, em que apresenta os mesmos sintomas da sífilis secundária, sendo que a infecção se espalha por todas as áreas do corpo, como o cérebro, pele, ossos, articulações, olhos, artérias, fígado e até para o coração. Nessa fase, em que a sífilis está muito agravada o paciente pode chegar a ficar cego.
Tratamento na Paraíba
Segundo a SES, a realização do atendimento de pacientes acontece na atenção básica e, após o diagnóstico, eles são encaminhados para as referências de seu município para realizar o tratamento. Além disso, existe o Centro de Testagem e Atendimento (CTA), em alguns municípios como João Pessoa, Patos, Santa Rita, Itabaiana, Pombal, Princesa Isabel, Campina Grande e Cabedelo, que também realizam testagem para sífilis. A doença tem tratamento e cura. Os exames de diagnóstico para a sífilis congênita são o VDRL, raios-X de ossos longos, hemograma e punção lombar, avaliação oftalmológica e audiológica. Conforme a ginecologista Wanicleide Leite Fagundes, o tratamento para a sífilis deve ser feito à base de penicilina, um antibiótico muito eficaz contra a bactéria que causa a doença. Uma injeção de penicilina é o bastante para impedir a progressão da sífilis, principalmente quando aplicada no primeiro ano após a infecção.