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Riso traz benefícios à saúde mental e interfere positivamente nos sistemas respiratório, cardiovascular e imunológico

Sorrir rejuvenesce e aumenta a longevidade na terceira idade

publicado: 29/01/2022 08h00, última modificação: 02/02/2022 10h55
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tags: +60 , idosos , sorrir , longevidade

por Sara Gomes*

Aquele ditado popular “Sorrir é o melhor remédio” não é apenas um convite a viver a vida com mais leveza e bom-humor. Sorrir traz benefícios à saúde mental, espiritual e física, interferindo de maneira positiva no funcionamento dos sistemas respiratórios, cardiovascular e imunológico. Quando se trata da terceira idade, o sorriso rejuvenesce e aumenta a longevidade.

O gesto de sorrir é considerado terapêutico porque estimula o cérebro a produzir endorfina, hormônio que reduz o estresse e tem efeito analgésico; e serotonina, responsável pela sensação de bem-estar e felicidade. Além disso, o sorriso não apenas ajuda a diminuir a dor e o estresse, mas também melhora a circulação sanguínea, controla a pressão arterial, aumenta a energia vital da pessoa, movimenta boa parte da musculatura do rosto, ajudando a manter a elasticidade da pele, e também exercita o cérebro.

Para a psicóloga Danielle Azevedo, o sorriso sempre trará consequências positivas. “Quando o bom humor e o sorriso são compartilhados as pessoas se unem mais, pois aumenta a intimidade com o outro e contribui para o estado de felicidade. Além desses benefícios, o sorriso é importante para a saúde mental, porque aumenta a autoestima e faz com que enfrente um problema de maneira mais positiva e com resiliência. Eu sempre falo no consultório que o sorriso rejuvenesce e aumenta a longevidade”, pontuou.

A idosa Ivanize Vasconcellos, 90 anos, desde a juventude sabe o significado de sorrir. Sempre foi uma mulher bem-humorada, independente e que vive a vida com leveza. Não teve filhos por opção, mas viveu um grande amor por mais de 40 anos de sua vida. Quando ele partiu vivenciou o período de luto, mas nunca perdeu a alegria de viver. Hoje lembra do passado sempre com um sorriso no rosto pelo que viveu.

O sorriso melhora a circulação sanguínea, controla a pressão arterial, aumenta a energia vital da pessoa e também exercita o cérebro

O seu sobrinho, Alexandre Stuckert, 49 anos, foi quem assumiu a responsabilidade de acompanhá-la na velhice por considerá-la como mãe. E, junto com sua esposa, Anne de Souza Stuckert, 40 anos, administra as finanças a fim de proporcionar uma velhice confortável. Tanto é que contratou duas cuidadoras - Eliane Regis, 51 anos; e Priscila Santos, 36 - para auxiliá-la na rotina, cuidando da sua alimentação e casa, mas também sendo sua companhia diária com o apoio da família.

A cuidadora Eliane descreve a idosa como alguém “muito alto astral”, que adora uma novidade, boa música, sair para passear e não dispensa um bom caranguejo e uma cervejinha. Durante o início da pandemia, a cuidadora desenvolveu algumas dinâmicas para distraí-la diante de dias monótonos. “Eu gosto de fazer umas produções e fotos dela para sair da rotina, pois o isolamento social a deixou muito angustiada. Mas dona Ivanize nunca perdeu a esperança por dias melhores. Certa vez, fiz um jantar temático sobre cinema, ela se olhou e disse: ‘Estou parecendo uma artista de Hollywood’”, lembrou.

Dona Ivanize Vasconcellos já sofreu dois Acidentes Vascular Cerebral (AVC), toma medicação contínua para controle de pressão e coração. Ao saber dos benefícios do sorriso à saúde, concordou com o ditado popular que sorrir é o melhor remédio. “Tenho o maior orgulho da minha lucidez e procuro viver a vida com leveza e bom-humor. Agradeço todos os dias o privilégio da vida. Adoro aquela música que Djavan canta: ‘Sorri quando a dor te torturar e a saudade atormentar os teus dias tristonhos, vazios”, cantarolou sorridente.

Esquecendo de expressar alegria

Socorro Roque, 81 anos, começou a refletir sobre a importância do riso depois do comentário de uma amiga
Nem todas as pessoas enxergam a vida com leveza e simplesmente esquecem de sorrir. Esse é o caso da aposentada Socorro Roque, 81 anos, que por ter dedicado sua vida ao trabalho e ser altruísta, acabou esquecendo de olhar para si. “Eu sempre fui cuidadosa com os outros. Eu gosto de ajudar, tanto a família quanto os amigos, e para isso encontrava tempo dentro das minhas responsabilidades de advogada. Simultaneamente, meu esposo, com quem divido a vida há 60 anos, perdeu a visão do olho esquerdo. Logo, acabei ficando sobrecarregada em todas as áreas de minha vida”, contextualizou.

Se as pessoas internalizarem os problemas e conseguirem filtrá-los no mundo exterior,  provavelmente irão reprimir menos sentimentos ruins. Isso não vai me servir como reforço negativo, pelo contrário, eu vou ser mais resiliente, pois vou  conseguir enxergar algo positivo

Certa vez, uma amiga olhou para ela e disse: “Você tem um sorriso muito bonito, deveria sorrir mais vezes”. Desde que sua amiga fez essa observação, Socorro começou a refletir sobre a importância de sorrir. “Por ter muitas responsabilidades, acabei esquecendo de olhar pra mim, inclusive de sorrir. Uma das poucas coisas que me faz sorrir e relaxar é pescar. Acho que se tiver netos, vou sorrir mais”, acredita.

Socorro Roque está com problemas cardiovasculares e talvez precise fazer uma cirurgia de cateterismo, mas receber a ligação questionando sobre a importância de sorrir a deixou otimista. “Eu estou muito insegura com essa cirurgia, mas essa entrevista me deixou tranquila e me fez perceber a importância de sorrir e valorizar as coisas simples da vida”, concluiu.

A psicóloga Danielle Azevedo pontua ainda que um adulto feliz será um idoso feliz, pois teria aprendido a lidar com as dificuldades, frustrações e perdas de uma maneira mais leve. “Se as pessoas internalizarem os problemas e conseguirem filtrá-los no mundo exterior, provavelmente irão reprimir menos sentimentos ruins. Isso não vai me servir como reforço negativo, pelo contrário, eu vou ser mais resiliente, pois vou conseguir enxergar algo positivo. É como se eu tivesse uma visão madura do acontecimento, aprendendo na dificuldade. Na terceira idade acontecem muitas perdas, como trabalho, rotina e até de pessoas que já partiram. Se o idoso conseguir ressignificar essa etapa da vida terá uma velhice com mais qualidade de vida e equilíbrio”, concluiu.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 29 de janeiro de 2022.