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Transposição beneficia agricultores

publicado: 22/03/2023 12h25, última modificação: 22/03/2023 12h25
Águas que chegaram à Paraíba no dia 10 de março de 2017 estão transformando a vida da população de várias cidades
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Plantações de maracujá, coentro, melão, milho e feijão mudaram para melhor a paisagem em regiões beneficiadas pela transposição. Fotos: Ivaldete de Sousa Almeida
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Plantações de maracujá, coentro, melão, milho e feijão mudaram para melhor a paisagem em regiões beneficiadas pela transposição. Fotos: Ivaldete de Sousa Almeida
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por Lucilene Meireles*

Localizado na região do Alto Rio Paraíba, no chamado Polígono das Secas, o município de Sumé está entre os que são castigados pela estiagem. Seu bioma é a caatinga, vegetação típica das regiões mais secas e, por lá, os agricultores apelam por bons invernos para garantir que a plantação, da qual sobrevivem, resista, mas normalmente, as chuvas são insuficientes. É nesta cidade, com população estimada em pouco mais de 17 mil habitantes (IBGE-2021), que mora a agricultora Ivaldete Palmeira de Sousa Almeida que, aos 59 anos, viu o sonho da transposição do Rio São Francisco virar realidade.

“As águas do São Francisco chegaram por aqui e depois disso as coisas mudaram muito. Antes, estava tudo seco e o rio que tinha aqui não atendia toda a Comunidade Conceição. Agora temos água”, comemora.

Ela destaca que, com as águas da transposição, a agricultura melhorou muito porque a captação da água passa em sua propriedade, o Sítio Conceição. “Foram muitos anos de espera. Esse era meu sonho de criança e hoje vejo realizado. É uma felicidade”, comemora.

Ivaldete lembra que antes da chegada da transposição, só era possível plantar na época de chuva e, mesmo assim, não conseguia colher toda a lavoura. Ela ressalta que a maior parte dos agricultores ribeirinhos da comunidade sobrevive da lavoura. “A gente planta maracujá, coentro, melão, milho, feijão. Antes era seco e agora está tudo verdinho”, enfatiza.

Além das chuvas recentes, a agricultora ressalta que são muitos os benefícios de contar com as águas do Rio São Francisco. “A transposição trouxe uma nova vida para quem depende da agricultura. Só não trabalha quem não quer”, constata.

Grande projeto de adutoras dará segurança hídrica a todas regiões
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Plantações de maracujá, coentro, melão, milho e feijão mudaram para melhor a paisagem em regiões beneficiadas pela transposição. Fotos: Ivaldete de Sousa Almeida

“A vida das pessoas que tanto sofreram com a escassez de água na Paraíba teve uma mudança total”. Assim, o presidente da Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa-PB), Porfírio Loureiro, define os resultados da transposição na Paraíba, embora a obra, que é federal, ainda esteja em andamento.

Ele relata que foi criada uma segurança hídrica para toda a região, fomentando seu desenvolvimento. Assim, várias pessoas dali que estavam morando em outras cidades, voltaram porque, a partir da chegada das águas, vão ter condições de fazer plantios e, consequentemente, gerar desenvolvimento com a renda.

Porfírio Loureiro afirma que hoje, no Cariri paraibano a carcinicultura – cultura do camarão é uma realidade, e todos esses usuários são outorgados no Eixo Leste pela Aesa e, no Eixo Norte, como o rio é federal, pela Agência Nacional de Águas (ANA).

“Então, a mudança é total. O governador João Azevêdo está fazendo um grande projeto de adutoras para dar segurança hídrica a todas as regiões. A Transparaíba ramal Curimataú, a Transparaíba ramal Cariri e a Adutora do Brejo, que também é uma adutora que vai atender o Brejo e vai pegar água da transposição. Com isso, quase todas as regiões vão ser beneficiadas”, constata.

E emenda: “Eu sempre digo que a Paraíba é um dos estados mais beneficiados com a chegada da transposição. Nós tínhamos um déficit hídrico e estamos podendo atender várias situações de desenvolvimento da nossa região com a chegada do São Francisco”.

Esperança
As obras da transposição do Rio São Francisco ainda não foram concluídas e, por isso, há vários municípios paraibanos que permanecem à espera, sofrendo com as dificuldades impostas pela seca. A esperança dos agricultores é que o trabalho avance e que, em pouco tempo, todos possam comemorar a chegada das águas.

O agricultor João Lau mora no município de Sapé e explica que, nessa região, a transposição deve envolver o trecho entre Mogeiro e Araçagi. Por enquanto, porém, os agricultores permanecem à espera. “Aqui não teve mudança porque a obra ainda não chegou, mas a expectativa é grande para todos nós que somos agricultores”, diz.

O grande desejo dele e de todos os demais trabalhadores que dependem da agricultura para sobreviver é que a obra seja concluída e que ofereça muita água para irrigação das lavouras.
“Sabemos que o trabalho da transposição está em andamento e a esperança é que isso aconteça em breve, levando água para Itabaiana, São José dos Ramos, Riachão do Poço, Sobrado, Sapé, Mari, Cuité de Mamanguape, beneficiando mais de 10 mil agricultores. Agora, no Sertão, já tem mudança”, observa.

Estado está sendo atendido pelos dois eixos que estão em pré-operação

As águas da transposição do Rio São Francisco chegaram na Paraíba no dia 10 de março de 2017, no município de Monteiro, conforme o presidente da Aesa-PB, Porfírio Loureiro. No Eixo Norte está sendo liberada água da barragem de Caiçara, passando por São Gonçalo, e atendendo o Rio Piranhas. A Paraíba está sendo atendida pelos dois eixos que estão em pré-operação. Pelo Eixo Leste, há mais tempo e, pelo Eixo Norte, a partir de 2022. Somando o total de pessoas atendidas até agora pelos dois eixos na Paraíba, são quase 2 milhões, sendo mais de um milhão e trezentos e cinquenta mil só no Eixo Leste.

Ele reforça que a obra é toda federal, e a Paraíba tem obras complementares em parceria com o Governo Federal, como a do canal Acauã-Araçagi. O Governo do Estado está fazendo, com recursos próprios, a Transparaíba ramal Cariri e a Transparaíba ramal Curimataú.

Os dois eixos principais, o Leste e o Norte, estão prontos. A outra obra que está faltando para beneficiar a Paraíba é o ramal do Piancó que entra pela cidade de Conceição, no Açude de Condado, e deságua o Rio Piancó beneficiando toda a região do Sertão. Essa, segundo ele, é a terceira entrada, considerada bastante importante para a Paraíba, e ainda aguarda licitação do Governo Federal para ser iniciada.

Ele acrescenta que, na Paraíba, com as obras complementares do Governo do Estado somadas à terceira entrada do ramal, praticamente todos os municípios – entre 80% e 90% - vão ser beneficiados com a transposição, não diretamente pelos eixos, mas sim pelas obras complementares que o Governo do Estado está fazendo.

“Hoje a transposição ainda não está em operação comercial. Ela está em pré-operação, mas nós estamos sendo atendidos através do eixo Leste rumo a Monteiro. Essa água sai do portal Monteiro, passa pelo Açude de Poções, Camalaú e chega até o Açude de Boqueirão para atender mais de um milhão de pessoas. Estamos liberando água de Boqueirão para atender o a Açude de Acauã e, a partir daí, até o município de Itabaiana”, explica.

Ministério ressalta que toda estrutura da obra foi concluída na Paraíba

O Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR) informou que toda estrutura prevista para a Paraíba dentro da obra da transposição foi concluída e mais de 140 municípios são beneficiados no estado que é atendido pelos Eixos Leste, desde 2017, e Norte, a partir de 2022.

O investimento total da obra é de cerca de 12 bilhões de reais, quando considerados apenas os Eixos Norte e Leste. Se somados os ramais associados, esse valor alcança cerca de 14 bilhões de reais já investidos. O investimento nos Eixos Norte e Leste foram de R$ 7,4 bilhões e R$ 4,5 bilhões de reais, respectivamente.

As estimativas realizadas pelo MIDR indicam que mais de 12 milhões de pessoas tenham garantia de segurança hídrica com a transposição. São cerca de 8,1 milhões de pessoas atendidas pelo Eixo Norte e 3,9 milhões de pessoas pelo Eixo Leste.

*Matéria publicada orginalmente na edição impressa de 22 de março de 2023.