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Um a cada quatro adolescentes pessoenses está acima do peso, diz pesquisa

publicado: 23/01/2017 00h05, última modificação: 23/01/2017 22h57
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A falta de atividade física, tendência genética, má alimentação e problemas hormonais são fatores facilitadores do surgimento do sobrepeso ou obesidade nas crianças e adolescentes - Foto: SilverStaruk.org

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Rachel Almeida

Batata frita, chocolate, salgadinho e hambúrguer. Tentar fazer as crianças e adolescentes trocarem um desses itens por alimentos saudáveis é um desafio que muitos pais enfrentam diariamente, principalmente nesta época de férias. Mas o problema não está em consumi-los, e sim, na ingestão em excesso deles, que favorecem para o surgimento da obesidade infantil e o sobrepeso, além de trazerem complicações à saúde para o resto da vida. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), dados da pesquisa Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA) atestam que, em João Pessoa, 25,3% dos adolescentes, de 12 a 17 anos, estão com excesso de peso - ou seja, um em cada quatro jovens. Enquanto que a obesidade atinge 8,8%.

No Brasil, 33,5% das crianças com idade de cinco a menores de nove anos apresentam excesso de peso, segundo informações da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009. Sendo que 16,6% dos meninos também eram obesos. Entre as meninas, a obesidade apareceu em 11,8%. Nos adolescentes de 12 a 17 anos, o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes mostra que 17,1% deles estão com excesso de peso, e 8,4% são obesos, sendo que a obesidade é maior entre os meninos, com 10,8%.

Diante de tantos alimentos com alto teor calórico e pouca qualidade nutricional, a falta de atividade física, tendência genética, má alimentação e problemas hormonais, quando agregados entre si, são fatores facilitadores que propiciam ainda mais para o surgimento do sobrepeso ou obesidade nas crianças. Combater a obesidade hoje em dia tem se tornado um desafio não só para os pais, mas para os profissionais de saúde também, de acordo com a endocrinologista pediatra Eugênia Fernandes Montenegro. Ela comentou que o surgimento da obesidade infantil também é facilitada pelas escolas, e, por esse motivo, todo o meio onde vive a criança deve estar envolvido nesta “luta para reduzir o peso dos jovens”.

Luta dos pais

Apesar de estar em período de férias, a representante comercial Emanuelle Lúcia, mãe de Ruan Gabriel, comentou que o controle da alimentação de seu filho permanece da mesma forma, deixando-o comer fora de casa apenas nos fins de semana. Ela disse que devido a algumas dificuldades financeiras não pode comprar tantas frutas e legumes como gostaria, e, por isso, evita que Ruan se alimente com frituras e comidas gordurosas. “Eu procuro evitar que ele coma besteira durante a semana, pois se deixar ele quer todo dia, mas como prezo pela saúde dele, só libero nos fins de semana e mesmo assim não deixo ele exagerar”, alegou Emanuelle.

Na missão de conseguir fazer sua filha Ester, de quatro anos de idade, comer alimentos saudáveis, todas as estratégias são válidas para a vendedora Daniele da Silva Macêdo. Ela comentou que, quando percebe que a criança não gosta de alguma fruta ou verdura, a preparação da comida passa a ocorrer de forma diferente, de assar a cebolinha a fazer sopa de feijão. “Como toda criança, ela gosta muito de hambúrguer, batata frita, e, quando saímos, controlar isso é mais complicado. Mas ela também gosta muito de quiabo, alface, tomate, então já facilita as coisas em casa. Só o feijão carioca que ultimamente ela não está comendo muito, mas eu procuro colocar um caldinho em cima dos outros alimentos ou fazer uma sopa para que ela coma", explicou.

Plantio de legume e verdura no quintal

Nesse período de crise, algumas mães plantam legumes, verduras e frutas para incentivar as crianças a se alimentarem bem, como é o caso da doméstica e mãe de duas filhas, Ângela Oliveira da Silva. Ela disse que como a família possui tendência para engordar, os cuidados são redobrados e por isso os fast foods só são liberados nos fins de semana e ainda assim com um limite. Enquanto que durante a semana, frutas e verduras são as opções que as crianças devem escolher.

“Lá em casa se eu deixar comer o que elas querem é uma festa só, por isso que para controlar eu digo que elas só podem nos fins de semana. Tenho muita preocupação em manter o peso delas porque vejo muitas pessoas que morrem de infarto ou de alguma doença deste tipo, então controlo muito a alimentação delas, plantei até uma horta no quintal de casa. Fora isso, não compro produtos enlatados ou muito gordurosos na semana”, alegou.

Fatores

Existem alguns fatores que podem ajudar a evitar que a criança chegue à situação de obesidade, como a reeducação alimentar, atividade física regular, com redução do tempo de permanência diária diante de aparelhos eletrônicos, além do controle da ansiedade. A endocrinologista pediatra Eugênia Montenegro informou ainda que a obesidade infantil pode causar consequências que limitam a qualidade de vida da criança, refletindo em um futuro repleto de efeitos negativos como a hipertensão arterial, diabetes tipo 2, dislipidemia, síndrome metabólica, sobrecarga nas articulações, diminuição da capacidade respiratória, esteatose hepática e isolamento social. “Por isso, a preocupação com hábitos saudáveis de vida deve iniciar desde o primeiro ano de vida”, alertou a médica.

Segundo informações do Ministério da Saúde, a hipertensão é a compressão dos vasos sanguíneos causando a pressão alta, enquanto que a apneia gera paradas respiratórias involuntárias durante o sono. Muitas pessoas tendem a ter diabetes, pois o excesso de peso faz com que o corpo tenha uma resistência à insulina (hormônio responsável pela entrada de glicose nas células que se transforma em energia para o corpo). A depressão, que geralmente ocorre mais da adolescência em diante, é caracterizada como uma consequência da baixa autoestima das pessoas, decorrente de seu peso.

Doenças crônicas

A obesidade é fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas. Um dos objetivos do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT), lançado em 2011, é deter o crescimento da proporção de adultos brasileiros com excesso de peso ou com obesidade. A Atenção Básica proporciona diferentes tipos de tratamentos e acompanhamentos ao usuário, o que inclui também atendimento psicológico. A pessoa com sobrepeso (IMC igual ou superior a 25) pode ser encaminhada a um polo da Academia da Saúde para realização de atividades físicas, e a um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) para receber orientações a respeito de uma alimentação saudável e balanceada. A evolução do tratamento deve ser acompanhada por uma das 39,2 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS) presentes em todos os municípios.

O Ministério da Saúde vem desenvolvendo ações estratégicas de alimentação e nutrição para promover e proteger a saúde dos brasileiros. Entre as ações, o guia alimentar para a população brasileira, que orienta a população com recomendações sobre alimentação saudável, é complementado pelos alimentos regionais que traz receitas saudáveis com alimentos regionais brasileiros. Também se destacam as ações de promoção do aleitamento materno e alimentação complementar adequada, fundamentais para a garantia da saúde e boa nutrição nos primeiros anos de vida.

Segundo o Ministério da Saúde, sobrepeso e obesidade são informações nutricionais distintas uma da outra. O excesso de peso é diagnosticado quando o Índice de Massa Corporal (IMC) alcança valor igual ou superior a 25 kg/m², obtido por meio da divisão do peso (quilogramas) pela altura ao quadrado (metros). A obesidade se caracteriza pelo acúmulo de calorias no corpo, e possui valores de IMC superiores a 30 kg/m².