Considerada o coração ambiental de João Pessoa, com 512 hectares, a Mata do Buraquinho é importante para a cidade por ser responsável pela manutenção do clima, controle da temperatura, produção de oxigênio e, principalmente, para a população ter o contato com um espaço natural, proporcionando uma melhor qualidade de vida. A mata também é cortada pelo Rio Jaguaribe, um dos principais afluentes da capital paraibana que atravessa 23 bairros.
A mata atlântica é uma das regiões mais ricas do mundo em biodiversidade, por fornecer serviços ecossistêmicos essenciais para a população. Já que as florestas e os ecossistemas que compõem a mata atlântica são responsáveis pela produção, regulação e abastecimento de água, equilíbrio climático.
Na Paraíba, o bioma está presente em seu território com oito unidades de conservação estaduais, sendo cinco unidades de proteção integral e três unidades de uso sustentável, o que totaliza uma área de 19.640,3 hectares. Dentre as unidades de proteção integral estão: Parque Estadual Mata do Pau Ferro; Parque Estadual Mata do Xém-Xém; Parque Estadual das Trilhas; Refúgio da Vida Silvestre da Mata do Buraquinho e a Estação Ecológica do Pau-Brasil.
A diretora do Jardim Botânico Benjamin Maranhão, Suênia Oliveira, contou que investigando a história da Mata do Buraquinho, ela só existe hoje como uma área protegida, porque por volta de 1900, deu-se início ao sistema de abastecimento de água de João Pessoa. O Estado comprou a área que antigamente funcionava as fazendas e sítios para instalar uma empresa de abastecimento de água, onde alguns poços foram construídos dentro da mata, então, a água era captada e distribuída pela capital. Depois, veio o surgimento das adutoras e o sistema de abastecimento antigo foi migrado, porém, hoje em dia ainda há na área alguns poços em funcionamento.
Com o passar do tempo, o Estado compra a área que funcionava a Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba (Cagepa) para transformar o que hoje conhecemos como o Jardim Botânico. “A Sudema prevendo que seria mais interessante um outro instrumento legal de conservação transformou a Mata do Buraquinho em unidade de conservação e refúgio de vida silvestre, mais uma categoria de unidade de conservação.”
“A Mata do Buraquinho foi transformada em uma unidade de conservação e foi escolhido ter a categoria de refúgio de vida silvestre porque aqui conseguimos encontrar espécies, tanto de fauna e de flora, quanto de animais, que apesar da área está localizada totalmente dentro da cidade, é bem significativo, temos mais de 500 espécies de plantas identificadas, como animais que somente são encontrados em lugares bem preservados”, completou Suênia Oliveira.
Reserva preserva parte da biodiversidade de JP
Sendo uma das maiores reservas de mata em perímetro urbano no Brasil, a Mata do Buraquinho tem diversas importâncias socioculturais, ambientais, microclimáticas e até econômicas para a cidade. Segundo a bióloga e professora Roberta Pereira Ferreira, a Mata do Buraquinho é uma reserva que preserva parte da biodiversidade, protege parte do curso do Rio Jaguaribe e representa uma importante fonte de lazer gratuito e de educação ambiental para a cidade de João Pessoa.
Além disso, a professora ressalta que a qualidade de vida é afetada de diversas formas, psicologicamente falando, a presença de áreas verdes e naturais em perímetros urbanos é apontado como um fator importante na diminuição do estresse gerado pela correria do dia a dia. “Acredito que o desenvolvimento de mais projetos de turismo ecológico e educação ambiental na área seriam profundamente benéficos não só para a economia e a educação do estado, mas também para a qualidade da saúde mental da população”, afirmou.
Reserva da Mata do Buraquinho mantém equilíbrio de cadeias alimentares que controlam animais nocivos dentro da própria cidade
Do ponto de vista ambiental, Roberta Pereira Ferreira, pontua a questão microclimática e da biodiversidade, presentes na área preservada e que é importante para a manutenção do equilíbrio de cadeias alimentares que controlam animais nocivos dentro da cidade e oferece local para desenvolvimento de populações de animais benéficos, como insetos polinizadores. “Obviamente também há a presença de animais perigosos como cobras, que acabam acessando residências, mas este tipo de problema historicamente é mais causado pela expansão da urbanização desordenada, que empurra populações mais pobres para áreas de risco e áreas que deveriam ser preservadas”, completou.
“Só pra deixar mais claro, quando eu falo de cadeias alimentares que controlam animais nocivos, eu me refiro mais às pragas urbanas, que muitas vezes causam prejuízo econômico, como cupins, ou para a saúde, a exemplo dos ratos, baratas e mosquitos. Isso é diferente do que eu chamei de ‘animais perigosos como cobras’. A diferença é que as pragas são caracterizadas pelo crescimento descontrolado das populações, e isso é causado justamente por causa da pouca biodiversidade que ambientes urbanos proporcionam”, explicou a bióloga.
Ademais, falando da questão climática, as árvores são os melhores “ares-condicionados” que existem, pois são de graça e trazem milhares de outros benefícios. A cidade fica mais úmida e os raios solares são retidos pelas folhas das árvores, o que diminui a temperatura.
“Ainda, é importante salientar que, embora a reserva possa fazer este papel de melhorar o clima da cidade, ela sozinha não é capaz de tornar a vida dos pessoenses mais agradável e menos quente, pois o efeito acaba sendo sentido apenas nos arredores da mata. Por isso, é importantíssimo que a gente também priorize a arborização da cidade como um todo, construindo praças, canteiros e ruas mais arborizadas, como uma espécie de ‘malha verde’ em toda a área urbanizada. Com isso os benefícios psicológicos, ambientais, microclimáticos seriam ampliados para a sociedade pessoense como um todo”, destacou.
A diretora do Jardim Botânico, Roberta Pereira Ferreira destaca, ainda, que na prática é sempre uma troca, “se eu tenho mata próxima, eu tenho acidentes com animais como cobras, mas as populações dos animais não crescem descontroladamente e por isso os acidentes são esporádicos. Agora, se eu acabo com a vegetação as pragas tomam conta do ambiente urbano e isso costuma gerar surtos de doenças e mesmo epidemias”, finalizou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 03 de dezembro de 2023.