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Uma fonte de expressão campinense

publicado: 27/02/2023 12h18, última modificação: 27/02/2023 12h18
Jornal O Rebate foi criado na década de 1930 pelos jornalistas Luiz Gil, Pedro D’Aragão e Eurípedes Oliveira
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O Rebate é um dos periódicos mais duradouros da história da comunicação e do jornalismo de Campina Grande; ele surgiu em 4 de outubro de 1932, circulou ininterruptamente e permaneceu ativo até a década de 1960 - Foto: Reprodução

por Hilton Gouvêa*

O escritor e poeta paraibano Rau Ferreira mais uma vez nos premia com as histórias de destacados jornalistas de Campina Grande que criaram o periódico O Rebate, um dos jornais mais duradouros da história campinense. De acordo com Rau, esse jornal surgiu em 4 de outubro de 1932 pelas mãos de Luiz Gil, Pedro D’Aragão e Eurípides Oliveira, “jornalistas renomados da terrinha campinense” e permaneceu ativo até a década de 1960.

“Em discurso de Afrânio Aragão (filho de Pedro D’Aragão), perante a Academia Paraibana de Letras, está escrito que ‘O Rebate circulou ininterruptamente por mais de 20 anos, até que, após a morte do professor Luiz Gil, papai resolveu tomar a decisão de encerrar essa atividade jornalística’”, destaca Rau Ferreira.

Naquele pronunciamento, Afrânio Aragão acrescentou: “O Rebate foi um centro não somente de formação, mas de meio de expressão de ideias e posições políticas de dezenas de campinenses e paraibanos de destaque, como Abel Correia, Adauto Rocha, Antônio Mangabeira, Carlos Agra, Cristino Pimentel, Egídio Lima, Elísio Nepomuceno, Elpídio de Almeida, Epaminondas Câmara, Epitácio Soares, Eurípedes de Oliveira, Evaldo Cruz, Everaldo Luna, Félix Araújo, Gilberto Leite, Hortêncio Ribeiro, José Leite Sobrinho, José Lopes de Andrade, Lino Gomes, Luiz Gil de Figueiredo, Mauro Luna, Nilo Tavares, Osmário Lacet, Pedro D’Aragão, Otávio Amorim, Severino Procópio e William Tejo”.

Em O Rebate também chegaram a atuar Wallace Figueiredo (filho do professor Gil) e Gonzaga Rodrigues (‘Notas do meu lugar: Crônicas’, 1978). “Nas edições às quais tivemos acesso, fornecidas em arquivo digital pelo ilustre pesquisador Jônatas Pereira, e também pelo adido cultural Walter Tavares”, destaca Rau Ferreira, “pode-se ver a variedade de anúncios promovida por aquele jornal”.

E ele dá alguns exemplos. Está registrado nas páginas do periódico: “Escritório de Engenharia de Austro França Costa, na Rua Rui Barbosa, 136; a Indústria de Laticínios Vitória, na Rua 13 de Maio, 327; a Farmácia Confiança, na Praça Epitácio Pessoa; e da Sucata Campinense, na Rua Presidente João Pessoa, 336”.

Escritor, poeta e professor

Luiz Gil é patrono da Associação Campinense de Imprensa (ACI), professor, escritor, jornalista e poeta (‘Raízes ibéricas, mouras e judaicas do Nordeste’, 2002). Nasceu em Santa Luzia, interior paraibano, em 17 de setembro de 1895. E teria chegado na cidade de Esperança por volta dos anos de 1930, nomeado que fora como adjunto da Cadeira de Ensino do Sexo Masculino, em maio de 1931.

Ainda nessa mesma década, organizou o Bloco Coronel nas Ondas, ao lado de personalidades como Silvino Olavo, Teotônio Costa, Manuel Rodrigues, Teotônio Rocha e Juvino Brandão. Há notícias de que tenha atuado no jornal O Tempo, órgão dirigido por José de Andrade, com gerência de Teófilo Almeida. Essa experiência talvez tenha ajudado a fundar, em Campina Grande, o semanário O Rebate. Também em Campina, onde se radicou após deixar Esperança, participou da Sociedade Beneficente dos Artistas, exerceu o magistério e se tornou conhecido como orador e poeta.

Pedro D’Aragão nasceu em 1º de julho de 1900, em São José do Egito, em Pernambuco. Era filho de André Alvino Correia de Aragão e Alexandrina Maria do Espírito Santo. Sua mãe era doméstica e deficiente, o genitor era funileiro. Residiu em Umbuzeiro, na Paraíba, onde conheceu Umbelina, de cujo consórcio resultou sete filhos. Radicou-se em Campina Grande, onde começou a fabricar malas para vender nas feiras.

Trabalhou no recenseamento de 1940, foi funcionário da prefeitura e também professor de música. Dedicando-se ao comércio, quando instalou a Livraria Modelo, primeiro estabelecimento a vender, também, instrumentos musicais no chamado Compartimento da Borborema.

Como sindicalista, atuou em várias associações, sendo vice-presidente da Federação do Comércio Varejista, presidente do Conselho do Sesc e Senac na Paraíba e cofundador do Sindicato do Comércio Atacadista da Paraíba. Como jornalista, participou não apenas em O Rebate, mas também em A Metralha, que circulava nas festividades de Natal e Ano Novo em Campina Grande, ao lado do professor Luiz Gil e dos jornalistas Nilo Tavares e Epitácio Soares.

Nesses anais consultados por Rau, pouco se encontrou sobre Eurípides de Oliveira, a não ser que foi jornalista e construtor de açudes.

Foi ex-aluno do atuante advogado Clementino Procópio, que livrou da cadeia a mulher que matou Serrote, um ex-cangaceiro de Antônio Silvino que, fora da cadeia, extorquia, sob ameaças, alguns comerciantes de Campina Grande.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 26 de fevereiro de 2023.