Notícias

Almanaque

Uma outra Cruz da Menina

publicado: 30/10/2023 10h35, última modificação: 30/10/2023 10h35
Em 1800, um episódio trágico marcou o município paraibano de Santa Inês, envolvendo o calvário de uma família formada por pai, mãe e filha de aproximadamente nove anos, que saiu à procura de melhores condições de vida subindo a Serra do Bilingüin
1 | 4
Ilustração: Tônio
2 | 4
Foto: Divulgação
3 | 4
Foto: Divulgação
4 | 4
A história da Cruz da Menina de Santa Inês está relacionada a um período de uma grande seca que assolou várias regiões da Paraíba e no local teria sido enterrada uma criança que morreu de sede - Foto: Prefeitura de Santa Inês
cruz da menina tonio.jpg
matéria-29-10-2023-cruz-menina-santa-inês-Foto-2 Divulgação.jpeg
matéria-29-10-2023-cruz-menina-santa-inês-Foto-3 DivulgaçãoInês.jpeg
matéria-29-10-2023-cruz-menina-santa-inês-Foto-1 Prefeitura de Santa Inês.jpg

por Hilton Gouvêa*

Quando se fala em Cruz da Menina, vem à memória o caso de Francisca, encontrada morta na Fazenda Trapiá, na zona rural de Patos, no Sertão da Paraíba, caso ocorrido em outubro de 1923. Francisca virou símbolo de devoção para milhares de fiéis que a consideram uma santa popular. Todavia, 123 anos antes, mais precisamente no dia 1º de novembro de 1800, um outro fato trágico deu início a uma outra Cruz da Menina, dessa vez no município paraibano de Santa Inês, hoje com cerca de 11,5 mil habitantes, localizado no Curimataú paraibano e distante a 160 quilômetros de João Pessoa.

A história da Cruz da Menina de Santa Inês está relacionada a um período de seca e ao calvário de uma família formada por pai, mãe e filha de aproximadamente nove anos, que saiu à procura de melhores condições de vida subindo a Serra do Bilingüin, em direção a Dona Inês.

Após longo percurso sobre rochedos castigados pela alta temperatura, com fome e sede, os três pediram água a um morador, que negou a ajuda. Assim, continuaram a caminhar. A criança não resistiu e acabou morrendo, sendo enterrada ao pé da convergência de grandes lajedos, onde um milagre teria acontecido: do alto da serra minou água e, naquele ponto, esse acontecimento, considerado milagroso pelas crenças populares, levou à construção de uma capela, denominada de Cruz da Menina.

Um grupo de estudos da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Guarabira, afirma que “toda a discussão em torno do turismo na Cruz da Menina de Santa Inês surge a partir dessa capela e de sua história, tornando-se um recurso para o turismo religioso, a considerar as atividades realizadas que atraem, inclusive, pessoas de municípios circunvizinhos”. O fluxo turístico registrado anualmente em visita à capelinha justifica a execução da pesquisa, afirmam os especialistas.

matéria-29-10-2023-cruz-menina-santa-inês-Foto-1 Prefeitura de Santa Inês.jpg
A história da Cruz da Menina de Santa Inês está relacionada a um período de uma grande seca que assolou várias regiões da Paraíba e no local teria sido enterrada uma criança que morreu de sede - Foto: Prefeitura de Santa Inês

Todos os anos uma procissão acontece em 1º de novembro, Dia de Todos os Santos. O cortejo sai da Igreja Matriz, na área urbana de Dona Inês, em direção à Capela da Cruz da Menina. Os peregrinos que formam a procissão visitam a capela para realizar seus pedidos, orações e até pagar promessas. A procura de novos atrativos dentro do potencial da região fez surgir ciclos com novas rotas de acesso.

A partir de agora, segundo o estudo da UEPB, se busca também, associada à questão religiosa, a contemplação do pôr-do-sol na localidade, onde obras foram feitas ao seu redor, como o calçamento das vias para melhorar o acesso dos caminhantes e romeiros. “O Complexo Cruz da Menina de Dona Inês, com destaque para a capela e o mirante visando a contemplação do pôr-do-sol, é uma obra que valoriza o turismo religioso no Brejo-Curimataú”, destaca a agência @turnaserra, responsável pela divulgação dos atrativos turísticos existentes na região.

Outra atração indicada pela @turnaserra é a chamada “Pedra Lavrada”, uma formação rochosa localizada no Sítio Queimadas, na zona rural de Dona Inês. É um recurso potencial para o turismo de aventura, oferecendo trilhas e a prática do rapel, com aproximadamente 50 metros de descida. Nessa localidade o rapel é positivo, ou seja, o praticante fica em contato o tempo todo com a rocha, até chegar ao final do percurso.

Cidade de montanhas e pedreira centenária

Dando os primeiros passos para se firmar como opção turística na Região do Curimataú paraibano, Dona Inês está a 480 metros acima do nível do mar, chegando em determinados pontos a 520 metros. Vizinha das cidades de Bananeiras e Araruna, o município de montanhas e serras possui trilhas ecológicas pela mata e na zona rural. Também há uma pedreira centenária no perímetro urbano, culinária regional diferenciada e agitação cultural.

Na entrada da cidade, na área urbana, está o cartão postal de Dona Inês. Onde havia apenas um terreno baldio, foi construído o Espaço da Memória. Aberto todos os dias, estudantes e turistas podem conhecer e sentir como opera uma casa de farinha, a casa do sisal, e peças de artesanatos. Há uma pequena biblioteca, um auditório e uma réplica de um casebre de massapê e espécies da flora da região.

Na cidade ainda se destacam velhos casarões e a igreja-mãe de Nossa Senhora da Conceição, construída em 1852, e que em sua frente fica um cruzeiro que demarca a cidade antiga da nova Dona Inês. De acordo com o Sebrae na Paraíba, a cidade tem potencial para se transformar em um polo turístico autossuficiente e rentável.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 29 de outubro de 2023.