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Preservação

Uso consciente do solo é prioridade

publicado: 18/12/2023 10h30, última modificação: 18/12/2023 10h30
Gestão sustentável do solo é apontada como ação primordial para manter o equilíbrio dos sistemas produtivos
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O processo de erosão extingue até 40 bilhões de toneladas de solo ao ano. A principal causa é a retirada de cobertura vegetal - Foto: Arquivo pessoal/Cedida por Bartolomeu Israel
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"Sistemas agroflorestais têm se mostrado extremamente importantes e produtivos" Bartolomeu Israel - Foto: Arquivo pessoal
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Áreas desertificadas são produto da ação humana - Foto: Arquivo pessoal/Cedida por Bartolomeu Israel
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"O excesso de fertilizantes está contaminando o solo e reduzindo a diversidade da vida" Normando Perazzo - Foto: Arquivo pessoal
Foto cedida por Bartolomeu Israel - retrata fenômeno da desertificação.jpeg
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Figura Área Desertificada, Caraúbas - foto cedida por bartolomeu israeljpg.jpg
Normando Perazzo - foto cedida pelo entrevistado.jpeg

por Alinne Simões*

O Dia Mundial do Solo é comemorado no dia 5 dezembro. A data que foi criada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) tem como objetivo conscientizar as pessoas para importância do solo na manutenção da vida no planeta. Este ano, a campanha teve como tema “Solo e água, fonte de vida”, que chama a atenção para a importância dos dois recursos na vida do ser humano, visto que, segundo a FAO, 95% dos alimentos precisam dos dois meios.

De acordo com estudo produzido pela organização, 33% do solo no mundo está degradado. Somente o processo de erosão extingue de 25 a 40 bilhões de toneladas de solo por ano, o que reflete na diminuição da produtividade. Por conta dessa degradação, estima-se que possa ocorrer, até 2050, uma perda de cerca de 253 milhões de toneladas na produção de grãos. A pesquisa revelou ainda que aproximadamente 50% do solo latino-americano sofre atualmente com algum tipo de degradação.

O geógrafo e professor do Departamento de Geociências da UFPB, Bartolomeu Israel, explica que os processos erosivos são desencadeados a partir do momento que é retirada de forma muito intensa a cobertura vegetal do solo, quer seja para uso direto da madeira, quer seja para agricultura, principalmente, do tipo monocultura. Sendo assim, a melhor forma de evitar esse desgaste é diminuir essa retirada e adotar técnicas baseadas, por exemplo, na convivência dessa cobertura porque ela preserva as espécies exóticas e isso é fundamental para todo o ecossistema.

“A partir do momento que você preserva parte dessas espécies, você consegue associar também essa preservação ao uso econômico dessas terras como, por exemplo, com sistemas agroflorestais que têm se mostrado extremamente importantes e bastante produtivo em várias partes do mundo”, destaca.

Desse modo, o professor ressalta que quando o solo é mal gerido, ele começa a mostrar exatamente as consequências, como processos erosivos intensos, perda de fertilidade, diminuição ou mesmo extinção de fontes d’água que, por sua vez, afeta a quantidade de água que chega aos rios e, em alguns casos, pode fazer até com que eles sequem. Além de apresentar processos de assoreamento muito forte dentro dos rios, dificultando a navegação e afetando todo o bioma que existe nele. e gerando consequências diretas para a população.

“Os resultados da degradação do solo vão além da esterilização da terra, podendo aumentar o risco de assoreamento, afetar o lençol freático, rios, mares, a fauna, a flora e, com isso, prejudicar o meio ambiente como um todo e o funcionamento de ecossistemas”, acrescenta Humberto Gomes, chefe da Divisão de Florestas da Sudema.

A degradação do solo é considerado um desafios de ordem mundial, que representa sérios entraves para o desenvolvimento sustentável de todos os países, em especial, os países em desenvolvimento. Para a FAO, reverter esse problema é indispensável para que se possa alimentar a população global, proteger a biodiversidade e enfrentar a crise climática do planeta.

Preservar é a ordem

A correta gestão do solo e sua conservação torna-se cada vez mais uma questão urgente, especialmente, no tocante à segurança da produção de alimentos e a existência de ecossistemas estáveis. “É essencial para a manutenção agrícola sustentável e para a preservação do meio ambiente. Afinal, a degradação da terra resulta em inúmeras consequências negativas”, destaca Humberto.

Ele ressalta ainda que a conservação do solo é uma estratégia primordial para promover um equilíbrio ecológico saudável em nossos sistemas produtivos. No entanto, a resiliência natural da terra é um processo bastante lento. Por conta disso, a preservação do solo requer uma série de medidas e práticas destinadas a restaurar as condições de equilíbrio e sustentabilidade, como: adubação verde, rotação de culturas, plantio direto, diminuição de queimadas e do uso de agrotóxicos na agricultura, reflorestamento de determinadas zonas e não jogar lixo e produtos químicos em locais inapropriados.

Bartolomeu, esclarece que existem diversas técnicas conhecidas para poder fazer a preservação do solo, mas basicamente todas elas pressupõem um princípio básico, que é, exatamente, evitar os processos erosivos. “Esse é o princípio básico de qualquer técnica, quando ele é afetado por desmatamento, por exemplo, e, consequentemente começa a perder a fertilidade, existem técnicas para poder recuperar essa fertilidade. Porém, isso exige um custo muito elevado. Então, para diminuir esse custo, a base de tudo é deixar pelo menos parte da cobertura vegetal, nesse solo, para que ele possa ser preservado e possa continuar, cumprindo a sua função”.

Figura Área Desertificada, Caraúbas - foto cedida por bartolomeu israeljpg.jpg
Áreas desertificadas são produto da ação humana - Foto: Arquivo pessoal/Cedida por Bartolomeu Israel

Ele explica que o solo é fundamental em diversos aspectos, tanto para a manutenção da vida vegetal, como também para as plantações, no caso a agricultura, assim como também para vida animal. “O solo é um depósito de umidade e é a partir dele que, por exemplo, são estocadas as águas subterrâneas que geram os rios”. É nele também que encontramos estoque muito grande de carbono e, consequentemente, isso ajuda não somente na fertilidade, bem como, na questão da contenção, das mudanças climáticas a partir do efeito estufa. Então, a preservação do solo é fundamental para a sobrevivência da humanidade”.

O professor emérito de Engenharia Civil da UFPB, Normando Perazzo, ressalta que é preciso mudar a forma como nos relacionamos com o solo, caso contrário, teremos muitos problemas no futuro. “Essa questão de agrotóxicos, de fertilizantes em excesso, tudo isso está contaminando o solo e está reduzindo a diversidade da vida. Eu vejo como um perigo para a humanidade no futuro”.

“Além disso, há muita ocupação irregular do solo. Essas grandes catástrofes que a gente está vendo é justamente por conta de ocupações irregulares, porque a natureza é uma coisa viva, ela está se mexendo, mas o homem está interferindo demais”, aponta o Perazzo. De acordo com ele, o homem pode sobreviver respeitando a natureza, o que deve ser feito é conscientizar as pessoas e exigir que os governos exerçam o seu papel na preservação, desse que é um dos nossos principais recursos naturais. “É preciso mudar esse sistema de vida, porque é impossível você querer extrair o máximo da natureza, sem ela ter capacidade para isso. Nossos solos pedem ajuda”.

Produtores devem ter acesso às informações

Bartolomeu Israel conta que existem inúmeras pesquisas realizadas no Brasil e no mundo que mostram as diversas formas do ser humano continuar utilizando o solo de forma sustentável. Todavia, existem questões de ordem financeira, que retardam a aplicação e desenvolvimento dessas técnicas, principalmente, em grandes áreas territoriais, como é o caso do Brasil.

“O conhecimento existe. A academia já tem gerado há décadas uma série de conhecimentos sobre como preservar, como deixar esse solo mais produtivo cumprindo a sua função, mas a gente esbarra nessas questões financeiras e, muitas vezes, de políticas públicas”.

Ele enfatiza que para ter uma implementação mais ampla dessas técnicas, os governos precisam ser mais atuantes. Os gestores precisam fazer com que esse conhecimento chegue de forma mais intensa aos produtores, aos donos das terras. “Se esse conhecimento não chega, não é facilitado através de um incentivo como uma política pública, a situação fica do jeito que está, ou seja, cada vez mais insustentável”, disse.

Saiba Mais

O dia 5 de dezembro foi escolhido em homenagem ao aniversário do H.M. King Bhumibol Adulyadej, o rei da Tailândia, que sancionou oficialmente a data junto a ONU, durante o XXVII Congresso Mundial de Ciência do Solo, em Bangkog, através da Resolução no 68/232 de 20/12/2013.

Tipos de degradações mais comuns:

  • Desertificação
  • Arenização
  • Compactação
  • Processos erosivos
  • Salinização
  • Laterização
  • Poluição direta e contaminação

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 17 de dezembro de 2023.