As manhãs dos domingos no final da década de 80 e início dos anos 90 tinham um valor sentimental especial para os brasileiros. Era o dia em que muitas famílias se reuniam, ligavam a TV e acompanhavam mais uma corrida de Ayrton Senna, apelidado carinhosamente de “Ayrton Senna do Brasil”. O piloto foi o símbolo do resgate do amor à pátria, afinal, os brasileiros se viam muito bem representados por ele, o qual desafiava a si mesmo e superava seus próprios limites praticando um esporte automobilístico tão perigoso.
Ayrton Senna da Silva e o automobilismo sempre foram indissociáveis. Desde sua infância, o destino dos dois se cruzou. Isso aconteceu quando seu pai, Milton da Silva, seu maior apoiador no esporte, montou um kart e presenteou o filho. Aos 14 anos, em 1974, Senna conquistou o Campeonato Paulista de Kart. Já em 1981, entrou para a Fórmula Ford. Chegou, finalmente, às pistas da Fórmula I em 25 de março de 1984, disputando o Grande Prêmio do Brasil, no ainda existente Circuito de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.
Há 30 anos, mais precisamente no dia 1o de maio de 1994, a carreira brilhante e promissora do grande ídolo do automobilismo nacional foi interrompida após um grave acidente ocorrido durante o Grande Prêmio de San Marino de Fórmula 1, em Ímola, na Itália. Enquanto liderava a corrida, o piloto da escuderia Williams perdeu o controle de seu carro na curva Tamburello e bateu violentamente contra o muro de concreto. Ele foi retirado do carro com lesões graves na cabeça e morreu horas depois no hospital.
Aquele fatídico final de semana ficou marcado também por outros dois acidentes ocorridos, além do sofrido por Senna. No sábado, o austríaco Roland Ratzenberger foi a óbito, durante os treinos classificatórios, e, um dia antes, na sexta-feira, o brasileiro Rubens Barrichello se envolveu em um episódio de acidente que, por pouco, não ceifou sua vida também.
O fato é que muita coisa mudou depois da morte do dono do icônico capacete azul, amarelo e verde, principalmente no quesito segurança na Fórmula I. A criação de estruturas mais seguras, como a adoção do cockpit fechado, conhecido como Halo, em 2018, para proteger a cabeça dos pilotos contra objetos voadores foi uma das mudanças significativas. Houve, também, outras melhorias nos circuitos, como a modificação de curvas perigosas e aprimoramentos nas barreiras de segurança, além da introdução de equipes médicas especializadas e aprimoramentos nos equipamentos de resgate.
Mas se engana quem pensa que acha que a influência de Ayrton Senna se limitou às pistas. O piloto tricampeão brasileiro, conhecido por sua generosidade, simplicidade e altruísmo, também foi um dos responsáveis pela criação do instituto que leva seu nome e sobrenome, ao manifestar o interesse de viabilizar oportunidades de educação a crianças em situação de vulnerabilidade social. Ele é administrado, hoje, pela sua irmã Viviane Senna, presidente da ONG.
Três décadas depois de sua morte, o legado deixado pelo lendário piloto brasileiro está vivíssimo. Giancarlo Minardi, que ocupa, hoje, o cargo de presidente do Autódromo de Ímola e que presenciou o acidente, corrobora com essa ideia. “Deveria haver um estudo sobre como Ayrton Senna ainda é tão conhecido 30 anos após sua morte, não só entre os mais velhos, mas pelas gerações subsequentes. Senna continua vivendo de geração em geração, não só porque as pessoas se lembram dele, mas por causa do interesse das pessoas”, disse ele em entrevista ao site RacingNews365.
Durante a semana que marca os 30 anos de sua partida, Senna será homenageado em diversos locais ao redor do planeta. A partir de hoje, em seu majestoso telão de 112 metros de altura e 157 metros de largura, a Sphere Arena, em Las Vegas, exibirá a imagem do famoso capacete durante algumas horas até o dia 7 de maio. A ação foi organizada pela Senna Brands em parceria com o Guaraná Antarctica.
Nesta quarta-feira, será realizada, em Interlagos, a 19a edição da Ayrton Senna Racing Day, com 10 mil pessoas participando da corrida que terá as distâncias de 5K, 10K e 21K. Já no GP de Miami, que acontece neste fim de semana, o artista brasileiro Eduardo Kobra irá inaugurar um mural em homenagem ao piloto.
Ayrton Senna e Nelson Piquet são os maiores campeões da Fórmula 1, com três títulos cada. Senna ergueu o troféu em 1988, 1990 e 1991, acumulou 41 vitórias e 65 pole-positions em suas 161 participações em GPs. Depois de sua morte, o Brasil, que já teve outros grandes pilotos como o bicampeão Emerson Fittipaldi, tem vivido uma era de baixo desempenho e poucos representantes na competição. O último brasileiro a participar de toda a temporada como titular foi Felipe Massa, com a Williams, em 2017. Competindo na F1, em 2020, porém, como substituto de Romain Grosjean, na Haas, o piloto Pietro Fittipaldi (neto de Emerson Fittipaldi) disputou os GPs do Sakhir e Abu Dhabi e foi o último representante do Brasil na competição.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 01 de maio de 2024.