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Atletas paraibanos se inspiram nos pais para seguir no esporte

publicado: 14/08/2016 00h05, última modificação: 14/08/2016 10h54
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O jovem Ian se inspira no pai, Fábio Gouveia, primeiro brasileiro na história a ganhar um campeonato mundial de surfe - Foto: Divulgação

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Adrizzia Silva - Especial para A União

De pai para filho, há ensinamentos que são transmitidos simplesmente como herança. Outros, porém, é necessário que os pais tenham sensibilidade e tracem estratégias para que seus filhos alcancem o sucesso, em qualquer que seja o segmento. Profissionalmente, não são raros exemplos de pessoas que seguem os passos dos pais, por influência, puro talento ou apenas pela referência dos seus ‘heróis’.

No esporte também é assim. Em muitos casos, ele entra na vida das pessoas por razões familiares e ainda da maneira mais democrática possível. Pode ser com a prática de uma atividade entre pais e filhos, com os dois reunidos para torcerem pelo time do coração, por exemplo, ou, quando a necessidade faz do esporte um caminho para determinar uma trajetória de superação e vitórias.

Neste Dia dos Pais, comemorado hoje em todo o Brasil, são muitos os exemplos de paraibanos atletas que passam ou passaram seu legado para os filhos, ou filhas que, mesmo não tendo o pai envolvido profissionalmente no mundo do esporte, receberam o maior incentivo através do homenageado do dia.

No surfe, é essencial citar o paraibano Fábio Gouveia, hoje com 46 anos e aposentado das competições desde 2009. Em 1988, até então desacreditado mesmo em sua terra, o surfista deixava a pequena cidade de Bananeiras, no interior do Estado, para conquistar o mundo. Foi o primeiro brasileiro na história a ganhar um campeonato mundial de surfe. Na época ele teve todo o apoio de seu pai, que acreditou no potencial do atleta.

Além disso, para Fábio Gouveia o surfe sempre foi um negócio de família. Foi viajando com a mulher, Elka, e os três filhos, algo totalmente incomum no circuito nos anos 90, que ele conquistou seus maiores títulos e se tornou um dos principais, senão o melhor, surfista brasileiro de todos os tempos. O filho Ian, hoje com 24 anos, é dono do seu legado. O jovem resolveu enveredar para o esporte e desponta como uma das grandes promessas do surfe nacional.

“Quando eu morava em Recife, era fissurado em futebol. Acho que se eu estivesse morando lá, eu teria tentado ser jogador. Mas o meu dom mesmo é o surf, que se não for uma herança genética, pode ter certeza que o estilo de vida de muitos pais influencia diretamente na vida dos filhos” comentou Ian.

Outro atleta que segue os passos do pai é Pedro Resende, filho do campeão olímpico de vôlei de praia, Ricardo. Embora não seja paraibano, Ricardo mora em João Pessoa há mais de 18 anos e divide os treinos nas areias da Praia do Cabo Branco com o filho. Quando Ricardo conquistou o ouro olímpico em Atenas-2004, Pedro não queria saber de vôlei de praia. Preferia jogar videogame no quarto a ir até a sala, onde a família chamava pelo seu nome e vibrava a cada ponto que o pai marcava.

Pedro praticava de tudo um pouco, judô, natação, handebol, basquete, futsal, futebol, jiu-jítsu, menos volêi. Começou a se interessar pela modalidade no Pan de 2007, no Rio. Em Pequim-2008, quando o pai levou o bronze. Mas, em Londres-2012, foi diferente. Pedro, que havia decidido seguir os passos do pai nas areias, assistiu a todos os jogos. Hoje ele sonha conquistar ainda mais títulos do que Ricardo.

Aproximação com a família facilita escolha profissional

Mas, se há pouca idade para fazer uma escolha profissional, a aproximação com o pai pelo menos dá uma ideia de qual será a opção do filho. É o caso, por exemplo, do primogênito do atacante da Seleção Brasileira e do clube chinês Shanghai, Hulk. Nas férias do pai, Ian aproveita para jogar bola e tem o privilégio de receber dicas de um dos jogadores mais valiosos do mundo. 

O garoto é canhoto assim como o pai e aos sete anos demonstra que leva jeito para o esporte. “Tem uma canhota forte. Chega a impressionar, já que se trata de um menino pequeno. Mas por enquanto é só lazer. Diversão. Ele vai ter o tempo certo para decidir o que quer fazer da vida”, disse o jogador, que também é pai de Tiago, cinco anos.

Em sentido oposto, está Álvaro Filho, também do vôlei de praia. De uma família em que ninguém se encaminhou para o esporte, o atleta só perseverou por causa do pai. “Quando acordava cansado, sem querer treinar, era ele quem me sacudia. Foi ele quem me fez o que sou”, revelou o jogador, um dos mais valiosos dos Mundiais de Vôlei de Praia.

O filho revela que, em alguns momentos, ficou em dúvida se conseguiria chegar aonde queria e que a mãe, Patrícia, algumas vezes ficava aflita, com medo da família estar exigindo demais dele. Porém, o pai era o único que sempre teve a certeza do seu sucesso. “Ele nunca achou que eu não conseguiria. Meu pai é mesmo alguém essencial em minha vida como atleta”, confirmou.

Já José Márcio, pai do nadador olímpico Kaio Márcio, também teve influência na escolha da carreira do filho. Ex-nadador e jogador de polo aquático, chegou a defender a Seleção Brasileira e quase levou Kaio para o esporte de equipe. “Eu queria que ele fizesse um esporte, a natação foi uma obrigação minha. Tinha obrigação de ensiná-lo a nadar o mais rápido possível e tive que apressar esse processo até como uma forma de protegê-lo, porque ele estava sempre comigo, perto das piscinas”, declarou.

Kaio disputou na Olimpíada Rio 2016, a quarta participação em Jogos Olímpicos. “Sou muito grato por ser ensinado a nadar desde cedo. Assistia a muitos jogos de polo aquático do meu pai e ficava entusiasmado, queria um dia ser atleta de alto nível também”, definiu.

Entre esses e tantos outros pais, referências para quem acompanha os primeiros passos dos filhos no esporte, pode-se também frisar, o exemplo de Erivaldo Nascimento, que não é atleta e sequer teve a oportunidade de estudar. Ele é pai de Emily e Emerly, que jogam xadrez escolar e são referência no esporte.

As jovens de 14 e 16 anos, respectivamente, foram criadas pelo pai que exerce também o papel de mãe e que tem importância fundamental na inserção do xadrez na vida das filhas. Aos 48 anos, ele trabalha com material reciclável e traça uma bonita história de humildade e superação, ao introduzir o esporte na história delas. “Sou feliz em poder criar minhas filhas e ensiná-las o valor da educação. Não tive acesso aos estudos, mas sempre fui ciente de sua importância. Aprendi xadrez para ensiná-las e hoje elas só me dão orgulho”, declarou.