Notícias

Na Funad, cerca de 15 cadeirantes praticam a modalidade e alguns se preparam para competição nacional

Bocha Paralímpica: Esporte agrega e revela campeões

publicado: 14/08/2022 00h00, última modificação: 15/08/2022 11h20
2022.08.09_funad_bocha_manuel ubiramar © roberto guedes (430).JPG

Manuel Ubiramar está focado em treinar a equipe para a competição nacional - Foto: Foto: Roberto Guedes

tags: paraolimpíadas , ESPORTE , esporte paralímpico

por Laura Luna*

 

Aos 21 anos, Paulo Renato Noronha viu a vida começar a mudar. O que antes não tinha muito sentido passou a ter foco. Foi quando o cadeirante, hoje com 31 anos, conheceu a bocha paralímpica, esporte de precisão onde os atletas trabalham o arremesso de bolas em um alvo. A apresentação entre atleta e esporte aconteceu na Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência (Funad). União que teve data de início, mas que não deve ter fim.

“Eu não sabia o que queria, não tinha horário nem perspectivas. A bocha caiu no meu colo como um presente de Deus”. Presente que rendeu títulos e levou o competidor a lugares distantes. Jogando pela Seleção Brasileira desde 2018, Paulo conquistou o título de vice-campeão mundial por grupo, na Inglaterra, sendo o único convocado do nordeste a disputar o torneio. Jogou também o Open Internacional em Montreal, no Canadá, e foi campeão brasileiro individual em 2019, além de 3º lugar por grupo no Brasileiro Principal- quando representou o nordeste e também a Funad- e hexa campeão individual consecutivo na categoria BC1 (composta por pessoas com tetraplegia espástica com pouca amplitude de movimentos ou força funcional em todos os movimentos nas extremidades e no tronco).

2022.08.09_funad_bocha_marcos paulo © roberto guedes (424).JPG
Marquinhos é um dos atletas que está se preparando para o Campeonato Brasileiro de Bocha, que acontece em setembro, em Minas Gerais

Além de Paulo Renato, pelo menos mais 15 usuários da Funad praticam o esporte. O responsável pelos treinos é Manuel Ubiramar Mendes, que tem o apoio da professora Ana Maria Pontes Mendes. O técnico explica que os resultados e conquistas são apenas consequência de um trabalho que tem um objetivo maior. “É a evolução como pessoa, a melhoria da qualidade de vida de cada um”. E é o que acontece na prática. O entrevistado conta que a mudança passa pela autoestima, e não apenas do atleta. “O esporte proporciona também visibilidade para quem pratica. Isso sem falar que as famílias também se envolvem, participam, torcem junto.”

E participam mesmo. Maria José Domingo é avó e uma espécie de assistente de Natanaeli Alves, atleta de Alagoa Grande que duas vezes por semana acorda cedinho para participar dos treinos na Funad. É dona Maria José a encarregada por passar as bolas para a neta que é apaixonada pelo esporte. “Vou ser professora de bocha. Quero no futuro ensinar tudo que tenho aprendido”. E não é apenas sobre técnica ou regras, é sobre transpor limites, inclusive territoriais já que o esporte também abre fronteiras. “Já joguei em Recife, São Paulo, Curitiba e outras cidades. Foi através da bocha que fiz a minha primeira viagem”, detalha a atleta que também utiliza cadeira de rodas.

E é esse o foco da prática esportiva na Funad que além da bocha oferece aulas de natação e atletismo para cerca de 700 usuários, através do Núcleo de Esportes. A presidente Simone Jordão reforçou a relevância dessas práticas na fundação. “Nós temos o esporte aqui como um grande aliado no processo de inserção social no sentido de ressignificar vidas já que muitas vezes trata-se de pessoas em processo de isolamento, em casa, e que através do esporte consegue alçar voos importantes”. A deficiência, que antes era o foco, passa a ser mera coadjuvante. “E essas pessoas começam a entender isso. O esporte é muito agregador e tem uma capacidade grande de fazer com que as pessoas se juntem e compartilhem ideias e vidas”.
Simone Jordão adiantou ainda que a Funad deve, em breve, se tornar um pólo paradesportivo. As conversas com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) estão avançadas. “Estão considerando o potencial que nós temos. Nesse contexto da Funad como celeiro e local de prática do paradesporto”.

2022.08.09_funad_bocha_maria jose © roberto guedes (304).JPG
Maria José Domingo sempre acompanha a neta nos treinos que acontecem na Funad, em João Pessoa

Marcos Paulo da Silva está animado. O atleta, que junto à equipe se prepara para participar do brasileiro que acontece no mês de setembro em Minas Gerais, é cadeirante e tem paralisia cerebral, mas nada que limite ou impeça o jovem de 32 anos de seguir firme em busca dos sonhos, muito pelo contrário. Marquinhos, como é carinhosamente chamado pelos colegas, enfrenta cada desafio da vida como se estivesse em uma partida de bocha. É preciso ter foco, estratégia e principalmente respeito pelo adversário. “As pessoas precisam ter um olhar mais igualitário, inclusive dentro do esporte, onde é possível sentir o preconceito ainda”. Fala que é reforçada com um pedido. “Por favor, não vejam a gente de maneira diferente, porque nós somos iguais a qualquer um”.

 

Paraibanos no paradesporto

Os paraibanos Laissa Polyana, conhecida como ‘Laissa Guerreira’, e Joelison Fernandes, ‘o Ninão’, são agora paratletas.

Conhecido por ser o homem mais alto do Brasil, Ninão assinou recentemente um contrato de dois anos com o Clube Atlético Paulistano de Voleibol Sentado e foi convocado para a Seleção Brasileira Masculino na modalidade. O paraibano entrou no paradesporto depois de ter amputado a perna direita devido a um problema de saúde. Já Laissa vem se destacando na bocha paralímpica onde recentemente conquistou o título de campeã da Copa Brasil de Jovens 2022. A atleta, diagnosticada com Atrofia Muscular Espinhal (AME) também foi destaque nas Paralimpíadas Escolares.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 14 de agosto de 2022.