O Botafogo-PB segue avançando nas tratativas para se tornar uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). O advogado e ex-presidente do clube Alexandre Cavalcanti falou com o Jornal A União e explicou como estão as negociações para o clube deixar de ser uma associação e virar empresa. Ele participou da comissão criada para discutir a adequação do estatuto social à Lei da SAF (Lei no 14.193/2021).
A nova legislação possibilita transformar uma entidade de associação civil sem fins lucrativos para empresarial, tornando-a uma SAF. A mudança é uma tendência do futebol brasileiro, sendo adotada por diversos clubes. O Botafogo-PB já atualizou seu regimento e o Treze segue pelo mesmo caminho. A modificação estatutária é o primeiro passo para se tornar um clube empresa.
O Galo convocou uma assembleia geral com todos os sócios-proprietários para discutir a reestruturação do seu estatuto com vistas a adequar o clube às mudanças exigidas pela Lei no 14.193/2021. A ideia é que, no futuro, propostas de transição para o modelo de gestão e governança baseados em SAF sejam avaliados pelo Conselho Deliberativo. O encontro acontecerá no dia 5 de junho nas dependências do Estádio Presidente Vargas, a partir das 19h.
O Belo já está em estado mais avançado de transformação. No último dia 20, no CT da Maravilha do Contorno, sócios e conselheiros do clube participaram de uma palestra ministrada por Fernando Ferreira, sócio-fundador da Pluri Consultoria. O profissional é especialista na área de gestão esportiva e tem coordenado o processo de transição para SAF em vários clubes do Brasil.
A entrevista
- O Botafogo já fechou a venda da SAF com alguma empresa?
Não. Absolutamente não. Isso é uma informação equivocada para não dizer falsa que estão divulgando por aí. O Botafogo começou a se preparar para um processo de transformação em SAF. Então assim, a gente deu o pontapé inicial com a organização do Estatuto, depois houve a discussão sobre o assunto, em seguida, a verificação da modalidade de SAF que iremos instituir e, por fim, estamos traçando um perfil de empresa que, por ventura, um dia queira fazer uma proposta para o Botafogo. Hoje, não tem nada de venda, absolutamente nada.
- Já há conversas com alguma empresa para fechar a venda?
Sim. Estamos conversando com algumas empresas. Principalmente aquelas dentro do perfil que a comissão criada e o presidente executivo Roberto Buriti traçaram. Existem conversas, e negociações em andamento.
- Quando a venda vai ocorrer? Tem como estipular um prazo?
Isso é muito difícil da gente precisar porque é uma negociação. Quando você vai comprar uma casa, você pode comprar em uma semana, em 15 dias, em um mês ou em um ano, tudo depende muito. Você pode comprar uma casa no dia seguinte após iniciar a procura. Mas pode passar um ano para conseguir comprar. É a mesma coisa na negociação da venda da SAF. Existe uma negociação que pode ser fechada em 2024 e pode ser que fique para 2025. Mas também pode ser que aconteça daqui um mês. Não tem como precisar.
- Qual o modelo de SAF escolhido pelo clube?
A diretoria executiva discutiu e decidimos fazer a venda de 90% do Departamento de Futebol. O que é o Departamento de Futebol? Abrange o futebol profissional, o futebol feminino e as categorias de base. O restante do clube permanece com o Botafogo Futebol Clube. E o que é o restante? É o patrimônio material e imaterial. O que seria o patrimônio material? O Centro de Treinamento da Maravilha do Contorno, todo aquele patrimônio continua com o Botafogo. Já o patrimônio imaterial são os símbolos do clube, como escudo, hino e uniforme, que também é do clube. Então a empresa só adquiriria 90% relativos ao Departamento de Futebol. Ela seria responsável por comprar jogadores, vender jogadores, administrar o futebol do Botafogo. Enfim, os donos da SAF instituiriam uma estrutura adequada para o que pede o futebol atual.
- Qual a expectativa para o futuro com a chegada da SAF?
O que se espera com a SAF, que é uma legislação nova e uma tendência do mercado brasileiro, já implantada há mais de 20 anos na Europa, é que tenhamos um salto de qualidade, profissionalismo, transparência e governança. A partir do momento que uma empresa começa a administrar qualquer negócio, ela vai querer lucros dos investimentos que fez. Para isso, ela tem que profissionalizar o clube. E quando eu digo profissionalizar, quer dizer profissionalizar todas as áreas. O futebol deixará de ser administrado pelo Botafogo e seus abnegados para ser administrado por pessoas técnicas, por empresários que visem resultados. E os resultados se refletem no campo. Então, acho que essa profissionalização é o principal salto de qualidade que o clube terá.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de maio de 2024.