por Laura Luna*
Muhammad Hamin é a comprovação do ditado que diz que ‘filho de peixe, peixinho é’. O filho do campeão Muhammad Al Mesquita seguiu desde cedo os passos do pai e, aos 23 anos, é considerado um dos maiores boxeadores do país. No currículo são 59 lutas pelo boxe olímpico, mais seis já no boxe profissional. Uma carreira que contabiliza apenas uma derrota. O atleta, que reúne títulos de campeão paraibano, norte-nordeste, interestadual e foi quatro vezes o melhor atleta de boxe da Paraíba, se prepara agora para defender o cinturão brasileiro da categoria até 55 quilos.
A disputa acontece em outubro aqui na capital e até lá o pugilista tem alguns desafios a serem enfrentados, um deles é uma cirurgia no ombro esquerdo, consequência de uma lesão ocorrida na última luta. Muhammad Hamin terá também que perder nove quilos para encarar o desafio. “Já estou me preparando. Tenho treinado duas horas por dia, de segunda a sábado. Vou parar para a cirurgia, mas a recuperação deve acontecer em um mês e meio”.
O rompimento de dois dos três ligamentos do ombro esquerdo aconteceu durante a luta pelo cinturão da categoria até 61 quilos. A disputa contra o carioca João Gabriel contou com 10 hounds e foi vencida por pontos. O detalhe é que ainda no quarto assalto o paraibano se machucou e lutou os últimos seis utilizando apenas uma das mãos. “Doeu muito, demais. Fiquei com o braço esquerdo só na guarda e mesmo lutando só com o direito ele não conseguiu sequer me tontear, pelo contrário ele que saiu bem machucado”, lembra. O embate parou o Coliseu Boxing Clube, em Guarulhos, São Paulo, que viu de perto a força e a resiliência do paraibano que sequer pensou na possibilidade de parar. “O ombro saiu do lugar e a gente colocou de volta dentro do ringue. Ali eu tava certo de que ia até o fim. Não sou criado pra desistir”.
As palavras firmes são chanceladas pelo pai e incentivador, Muhammad Al Mesquita, que destaca outras qualidades do único filho biológico. “Tem temperamento calmo, tranquilo e está preparado física, mental e intelectualmente”. Mesquita, que iniciou em 1986 o trabalho com boxe aqui na Paraíba, acredita que este será um ano importante para o esporte. “Tenho certeza que ele vai trazer o título do cinturão brasileiro até 55 quilos e outros mais”.
E se depender do esforço e dedicação de Muhammad Hamin, as vitórias continuarão sendo uma constante, consequência de um trabalho que tem como base o amor pelo boxe. “É a minha vida e o meu mundo”, afirmou o atleta que já começou a encaminhar o filho de quatro anos no esporte. “Ebrahim já faz a posição, fica na guarda. Ele usa a mesma luva que eu usei quando tinha a idade dele e tenho certeza que o filho dele fará o mesmo”.
Trabalho social
Além de acumular vitórias, pai e filho acumulam solidariedade e amor pelo próximo. Os trabalhos sociais sempre fizeram parte das atividades da academia que, atualmente trabalha dois projetos, um com crianças em situação de vulnerabilidade social e outro com crianças atípicas. O ‘Renascer para o boxe’ trabalha com crianças e adolescentes dos bairros do Renascer e Jardim Gama. As aulas diárias acontecem no contraturno da escola e visam formar não só bons atletas, mas principalmente grandes seres humanos. “Primeiro a gente capta as crianças, bota pra treinar e quando começam a pegar gosto a gente apresenta as regras da equipe”, inicia Muhammad Hamin.
Para permanecer no projeto é preciso se esforçar e não só no ringue. “Precisa ter boas notas, boa frequência e respeitar os professores, tanto da academia, quanto da escola. Estamos muito felizes porque, nas competições do Piauí e de Pernambuco, eles foram vitoriosos. Só perdemos uma das cinco lutas que disputamos em Recife, ainda assim, o resultado foi meio controverso”.
Aulas para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Síndrome de Down também são ministradas na academia, localizada na avenida Argemiro de Figueiredo no bairro do Bessa. “Temos um aluno com síndrome de down que já deu até entrevista em rede nacional”. Além das aulas de boxe os alunos têm acompanhamento com nutricionista e fisioterapeuta, trabalho que tem ajudado a formar boxeadores do futuro. “Meu pai sempre fez esse tipo de trabalho. Teve época de ter mais de 100 crianças em projetos aqui da academia. A pandemia prejudicou um pouco, mas nós estamos conseguindo voltar gradativamente”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 20 de junho de 2020.