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Esperança de medalha em Paris

publicado: 16/08/2024 09h16, última modificação: 16/08/2024 09h16
Judoca paraibano, da cidade de Riachão do Poço, busca a sua segunda medalha em Jogos Paralímpicos
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Wilians Araújo, de branco, conquistou uma medalha de prata nos Jogos Olímpicos realizados no Rio de Janeiro - Foto: © Leandro Martins/MPIX/CPB

por Camilla Barbosa*

Um dos 15 judocas que vestirão as cores e representarão a garra do Brasil nos tatames dos Jogos Paralímpicos de Paris é o paraibano Wilians Araújo. Multicampeão e detentor de uma medalha de prata na edição do Rio 2016, desta vez, o judoca de 32 anos, natural do município de Riachão do Poço, localizado a 55 km de distância da capital pessoense, vai em busca do ouro inédito na categoria peso-pesado (acima de 90kg).

Wilians da Silva Araújo perdeu a visão ainda na infância, aos 10 anos, em um acidente com tiro de espingarda. Ainda tentou se adaptar à natação e ao futebol de cegos, mas foi nos tatames que se encontrou, em 2009. De lá para cá, a relação entre os dois tem rendido muitos frutos, como as medalhas de ouro no Mundial de Baku 2022, no Pan-Americano do Canadá 2022 e no Campeonato das Américas de 2020 no Canadá; a prata no Parapan de Toronto 2015 e Guadalajara 2011, e na Copa do Mundo IBSA 2018; e os bronzes na Copa do Mundo IBSA 2018, nos Jogos Mundiais da IBSA 2015 e no Campeonato Mundial 2014, nos EUA.

As medalhas mais recentes (um ouro nos Jogos Mundiais da IBSA e uma prata na categoria acima de 90 kg nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago, ambas conquistadas no ano passado) o colocam como um dos favoritos ao lugar mais alto do pódio em Paris.

Antes de viajar para a capital parisiense, em entrevista aos apresentadores da coluna Acessibilidade em Destaque, da Rádio Tabajara, Hannah Pachu e Otto Sousa, ele relembrou as participações nas edições anteriores e descreveu suas expectativas em relação às Paralimpíadas de 2024.

“Busquei estar inserido nesse meio, e, graças a Deus, tive oportunidade de ser campeão brasileiro 12 vezes e de ser convocado para a seleção pela primeira vez em 2011, desde então, estou lá. Essa é a minha quarta participação em Jogos Paralímpicos, participei de Londres 2012, onde fiquei em 5o lugar, na Rio 2016 ainda fiquei com a medalha de prata, e em Tóquio eu fiquei em nono lugar e agora chego para os Jogos Paralímpicos de Paris como líder do ranking mundial, é um ciclo maravilhoso que eu tive, tive a oportunidade de ser bicampeão do mundo, 2022 e 2023, e conquistar medalhas em todas as competições”, disse.

“A preparação segue intensa, com os pés no chão, trabalhando muito, treinando muito, ralando bastante para que eu possa dar o meu melhor para representar o Brasil, a Paraíba, e, se Deus quiser, dar o meu melhor lá e sair com o melhor resultado possível”, acrescentou o judoca.

Com a ascensão da carreira esportiva, Wilians acabou se mudando para o Rio de Janeiro, onde vive e treina atualmente. Mas não dá para esquecer totalmente de João Neto, seu ex-técnico e grande responsável por introduzí-lo ao judô. O educador físico, que foi crucial para o impulsionamento da carreira do atleta, é um dos responsáveis por dar continuidade a seu treinamento, quando ele vem a João Pessoa.

Wilians Araújo, de branco, conquistou uma medalha de prata nos Jogos Olímpicos realizados no Rio de Janeiro | Foto: Saulo Cruz/CPB

“Eu costumo relacionar o treino dele a um relacionamento que a gente tem com nossas esposas, nossos namorados, nossas namoradas. É bastante diálogo, afinal, a gente precisa entender como está o processo de periodização do treino dele. A periodização é como se fosse o plano de aula, o plano de curso, de um professor de sala de aula. É onde tem todos os objetivos a serem atendidos naquele processo e naquele momento. Eu tento fazer essa adaptação da necessidade dele com a necessidade da nossa equipe aqui, dos nossos atletas regulares, aqueles que enxergam normalmente e não são atletas paralímpicos”, expressou.

“Esse é um desafio enorme nosso, ter dentro do mesmo tatame atletas de níveis e necessidades diferentes. Mas a gente consegue chegar ao mesmo objetivo para todos, quanto mais a gente conversa, mais a gente troca ideia, mais eu consigo fazer essa adaptação, baseada nas necessidades dele, afinal, ele é uma das prioridades também durante o treino, então a gente também tem que dar prioridade àquilo que é conveniente no momento. Muitas vezes eu fiz adaptações no treino, na proposta do treino dele, na necessidade dele, e que muitas vezes casava com as necessidades dos nossos atletas”, finalizou João Neto.

Esse mecanismo, para o educador físico, é “um estímulo a mais para que nós, professores, comecemos a estudar mais, entender mais esse outro lado da ciência e do treinamento esportivo”.

Judô Paralímpico

O judô é uma das três modalidades paralímpicas que contam com deficientes visuais (futebol de cegos e goalball), as quais são administradas, no Brasil, pela Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV). Em Paris, as disputas pelo título da categoria peso-pesado — em que Wilians Araújo compete — estão programadas para acontecer no dia 7 de setembro.

A modalidade é disputada por atletas com deficiência visual, cegos totais (J1) ou com baixa visão (J2), que são divididos em categorias por peso corporal, e cada luta dura quatro minutos. Se houver empate na pontuação, a decisão vai para o golden score (ponto de ouro, em inglês) e vence o judoca que pontuar primeiro.

Em relação ao judô convencional, há poucas diferenças, sendo que a principal é que o atleta já inicia a luta em contato com o quimono do adversário. Em caso de perda de contato, o confronto é paralisado.

O judô é a terceira modalidade que mais trouxe medalhas para o Brasil na história dos Jogos Paralímpicos, atrás somente de atletismo e natação. O país já conquistou 25 condecorações (cinco ouros, nove pratas e 11 bronzes) e a primeira medalha dourada foi para o multicampeão Antônio Tenório, em Atlanta 1996.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 16 de agosto de 2024.