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Estudantes paraibanas se destacam nacionalmente no xadrez

publicado: 31/07/2016 00h05, última modificação: 30/07/2016 09h38
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Emerly e Emily são as feras deste esporte e, incentivadas pelo pai, irão mais uma vez competir em um evento nacional - Foto: Marcos Russo

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Adrizzia Silva - Especial para A União

As irmãs Emily e Emerly Gomes, residentes no Conjunto Costa e Silva, em João Pessoa, bastante conhecidas no mundo do xadrez escolar, irão representar o Estado na etapa nacional dos Jogos Escolares da Juventude 2016. Ambas vivem a expectativa de um bom resultado, já que vêm se destacando na modalidade. O pai, Erivaldo do Nascimento, receia que elas não emplaquem na carreira, devido à falta de apoio e patrocínio. Ele e as atletas têm um sonho especial: conhecer pessoalmente o governador do Estado, Ricardo Coutinho.

“Elas estão no último ano do Ensino Fundamental, estudando a vida toda em escolas públicas, e descobriram o amor e o talento pelo jogo através do projeto municipal Xadrez na Escola. Elas irão fazer a prova de seleção para o IFPB, que é a única instituição federal, na cidade, que oferece o xadrez para os estudantes de Ensino Médio ou Superior. Mas se elas não passarem na prova? Não sei o que vai ser delas”, questionou Erivaldo.

Emily e Emerly, de 14 e 16 anos, respectivamente, foram criadas pelas tias, avó e pelo pai, que exerce também o papel de mãe, e que tem importância fundamental na inserção do xadrez na vida das filhas. O senhor Erivaldo, 48, trabalha com material reciclável e traça uma bonita história de humildade e superação. É uma família de batalhadores que acredita na educação e no xadrez como uma ferramenta para o sucesso.

Com o intuito de garantir um futuro melhor para as meninas, o pai se dedicou em aprender o jogo de tabuleiros e passou todo o seu conhecimento para elas, que retribuem com taças e medalhas conquistadas em torneios. “Sou feliz em poder criar minhas filhas e ensiná-las o valor da educação. Não tive acesso aos estudos, mas sempre fui ciente de sua importância. Aprendi xadrez para ensiná-las e hoje elas só me dão orgulho. Sei que o xadrez pode ajudar nos estudos e no futuro delas”, declarou.

Emily teve o primeiro contato com o tabuleiro quando ainda tinha sete anos, através do projeto Xadrez na Escola, na Escola Municipal Monteiro Lobato. Atualmente é bicampeã Paraibana. Disputou o torneio Estadual, em Patos, mês passado, e, após o primeiro lugar, garantiu participação nos Jogos Escolares da Juventude, etapa nacional, na categoria B (15 a 17 anos). Essa é a segunda vez que participa de uma competição nacional. A primeira foi em 2013, quando ficou na 13° posição.

“Eu era muito pequena e me interessei pelo tabuleiro de xadrez humano da escola e, através dele, eu e minha irmã, conhecemos o tabuleiro normal, diário, esse que temos em casa mesmo. Nos apaixonamos! Daí, o meu pai foi até a escola, pedir para aprender também e passou a nos incentivar. Ele é o nosso grande incentivador até hoje, além da minha avó Irene da Conceição, que faleceu há dois meses. Ganhar o Brasileiro é uma forma de retribuir ”, explicou Emily.

Questionada sobre o futuro, a bicampeã estadual diz que tem vários sonhos, entre eles, ser professora de xadrez, para expandir os seus conhecimentos, além de dar uma casa para o pai. “A casa que moramos é da minha avó. Quero muito presentear meu pai com uma casa. Ele merece isso e muito mais. Eu acredito que, como professora de xadrez, além de estar fazendo o que eu gosto, repassar o meu conhecimento, também é um caminho para ter recursos financeiros”, disse.

Já Emerly, campeã Pessoense em 2014, foi a adversária da irmã, na final do mesmo torneio Estadual desse ano e ficou em segundo lugar. Ela irá representar o Município de João Pessoa, na categoria A (12 a 14 anos), no torneio nacional. “Sempre ouvia dizer que quem praticava xadrez, eram pessoas inteligentes e isso me despertou a curiosidade em aprender. Fui me apaixonando cada vez mais, aprendendo e, ainda passei a melhorar as notas em algumas disciplinas da escola”, afirmou.

Fátima Bernardes divulga paraibanas

O xadrez ainda não é uma atividade muito popular no Brasil. Aparece na mídia com pouca frequência, mais em programas esportivos, destacando uma competição ou iniciativa social ligada ao jogo. Não é comum que a modalidade apareça como tema de um programa de entretenimento. Mas isso aconteceu com as estudantes, em 2015, quando foram convidadas para participar do ‘Encontro’, com Fátima Bernardes, um programa com maior potencial de audiência, na Rede Globo de Televisão.

De início, o xadrez foi o pano de fundo da matéria, ressaltando a força de vontade das meninas e do pai, cujas limitações, não os impediram de alcançar tantas vitórias. “Nunca imaginávamos que estaríamos num programa nacional, contando a nossa história e passeando pelo Rio de Janeiro, tudo de graça”, disse Emerly.

Na sequência, a apresentadora entrevistou um especialista que narrou mecanismo de atuação cerebral durante uma partida de xadrez e os benefícios para os adeptos ao esporte, citando o maior nome do xadrez, o campeão mundial Magnus Carlsen.

O esporte é mesmo um cenário constante para histórias de superação. Além dos valores da competição, que ensinam sobre vencer e perder, a atividade também ajuda os participantes a enfrentar as diversas dificuldades que a vida proporciona. Neste cenário, a história das irmãs não é diferente. Mas, apesar da crescente evolução, a falta de um apoio financeiro dificulta os próximos passos.

Para terem direito ao Bolsa Atleta, benefício concedido pelo governo, é necessário que vençam o Campeonato Brasileiro. Alcançar esse feito, requer, além de disciplina e dedicação, subsídios que proporcionem capacidade de competir no mesmo nível, já que se trata de um esporte impulsionador da imaginação, que exige estudo, concentração e velocidade de raciocínio.

Xadrez escolar 

De acordo com o coordenador do Projeto Xadrez nas Escolas, Francisco Cavalcanti, o jogo é considerado uma ótima matéria para ser aplicada na escola. “A ideia de levar o xadrez até as salas de aula reside no fato de ele ser um esporte pedagógico, que auxilia no desenvolvimento das demais disciplinas curriculares. O desenvolvimento do raciocínio é fundamental para que a cidadania se efetive, por isso é importante o xadrez como complemento à educação escolar”, afirmou.

O segundo esporte mais praticado no mundo, embora não muito popular no Brasil, desempenha um importante papel socializante, pois ensina a lidar com a derrota e com a vitória. O xadrez mostra que nem a derrota é sinônimo de fracasso, nem a vitória quer dizer sucesso.

O aprendizado e a prática do xadrez desenvolvem as seguintes habilidades: atenção e concentração; julgamento e planejamento; imaginação e antecipação; memória; vontade de vencer, paciência e autocontrole; espírito de decisão e coragem; lógica matemática, raciocínio analítico e sintético; criatividade; inteligência; organização metódica do estudo; e interesse pelas línguas estrangeiras.

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