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Projeto Gênesis

Ferramenta de transformação social pelo esporte

publicado: 03/11/2025 09h15, última modificação: 03/11/2025 09h15
Atividade esportiva em Bayeux oferece alternativa aos adolescentes para viver distante da crimininalidade
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Adolescentes das comunidades do Mário Andreazza e do São Bento, em Bayeux, com o professor Jair Silva | Fotos: Erlândio Correia/Projeto Gênesis

por Camilla Barbosa*

“Sou apenas uma pessoa que está querendo passar o conhecimento que tenho para o pessoal que está começando agora”. É assim que Jair Silva define a si mesmo e o Projeto Gênesis, que, há três anos, oportuniza a prática do vôlei a adolescentes das comunidades do Mário Andreazza e do São Bento, em Bayeux.

A iniciativa é fruto do desejo de quatro amigos de oferecer oportunidades esportivas a alunos de uma escola da cidade. O pontapé inicial foi dado com um grupo de interessados e um ginásio em condições básicas. De lá para cá, mais de 150 pessoas já foram atendidas.

“Era, basicamente, um sonho que eu tinha desde mais novo, porque eu sempre gostei de esporte, fiquei muito envolvido com isso. Joguei futebol a minha adolescência toda, aí tive um problema no joelho e não tive como conseguir levar mais à frente o futebol. Foi aí que eu conheci o vôlei. O vôlei me ajudou muito em relação a várias coisas, física, mental, é um esporte muito bom, que demanda muito o pensamento rápido e que tem todo um trabalho por trás”, explica Jair.

Por, aproximadamente, cinco a seis meses, o projeto precisou ser paralisado devido à interdição do espaço utilizado anteriormente. Contudo, há três meses — agora sem o suporte dos demais fundadores, que não fazem mais parte da iniciativa —,  Jair conduziu o retorno das atividades, com cerca de 60 alunos.

Os treinos são realizados às quintas-feiras, no Mário Andreazza, das 18h às 21h; e aos sábados, em São Bento, das 10h30 às 13h. Apesar das dificuldades constantes com infraestrutura, falta de apoio e escassez de recursos, a iniciativa nunca perdeu sua missão, garante ele.

Transformação social

O organizador pondera que o projeto tem sido essencial à transformação social do local, inclusive contribuindo para que atletas ingressassem em faculdades por meio do esporte e para que outros fossem reconhecidos e integrados a equipes de maior nível competitivo. Para além disso, no entanto, o maior ganho é oferecer aos adolescentes uma alternativa concreta longe da criminalidade, abrindo caminhos de esperança e pertencimento por meio do esporte.

“O nosso intuito no início do projeto, quando já estava uma situação meio complicada pela questão dessas guerras que estão acontecendo, era tirar essa garotada da rua. Transformar, dar um certo esporte diferente do futebol, do futsal, porque tem muita gente que não gosta, mas quer praticar outro esporte”, relembra.

Apoio

Jovens participando das atividades na modalidade de voleibol, com práticas durante dois dias na semana

Para além das conquistas e desafios, o coordenador do Projeto Gênesis destaca que um dos maiores obstáculos é manter as atividades sem comprometer o acesso dos alunos. Diante disso, ele tem se mobilizado para buscar apoio junto à gestão municipal de Bayeux e a possíveis parceiros dispostos a investir no esporte como ferramenta de transformação social.

“Eu fico até um pouco triste, às vezes, por cobrar essa questão da mensalidade, mesmo que seja R$ 10, porque eu entendo que muita gente não tem. E é normal. Já passamos por muita dificuldade. No início, tínhamos 70 alunos de uma vez só e muitos não pagavam, porque não tinham condição. Às vezes, você vê que não têm uma roupa adequada, um tênis, mas eu estou correndo atrás disso tudo. Estou procurando pessoas que realmente se interessem em ajudar os adolescentes; se tiver algum patrocinador que esteja ligado mais a essa questão do esporte, que queira ajudar a garotada e tudo mais, a gente está junto”, expressa ele, que disponibiliza o perfil do Instagram do trabalho social, o @projetogenesis83, para mais informações. 

Objetivos

Pensando no futuro, o coordenador acredita que o Projeto Gênesis ainda tem muito a crescer e revela que um de seus maiores sonhos é ver o grupo conquistar uma sede própria.

“É um futuro bem distante, sabe? Porque a gente já pede uma mensalidade de R$ 10 a todos os alunos, para comprarmos material, bolas, redes, o que for necessário; agora, a gente vai começar a treinar aos domingos também, que já vai ser um custo a mais, porque o do domingo vai ser o ginásio pago. Essa questão de aumentar, de ter uma base própria, é, realmente, uma coisa com a qual sonho há muito tempo, ter um lugar para gerir isso tudo, ter um localzinho para, caso alguém queira fazer uma matrícula, tirar uma dúvida ou algo do tipo assim, a gente ter um espaço para fazer tudo isso”, admite.

“O meu sonho, realmente, é ter uma base, um local nosso para a gente treinar, fazer confraternização, o que for. Sendo nosso, para não termos que ficar dependendo de ninguém”, finalizou Jair.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 2 de novembro de 2025.