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Camila Lyra

Fisiculturista brilha no Mr. Olympia

publicado: 13/11/2023 09h19, última modificação: 13/11/2023 09h19
Atleta radicada na Paraíba ganha título no mais importante torneio disputado nos Estados Unidos, em Orlando
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Para chegar à elite no fisiculturismo, Camila segue trabalhando em busca do físico necessário para encarar os desafios na nova liga - Foto: Arquivo pessoal

por João Thiago*

Surreal é uma palavra que define muitos aspectos do Mr. Olympia nos Estados Unidos, na cidade de Orlando, mais importante torneio de fisiculturismo do mundo, palco que celebrou nomes como o de Arnold Schwarzenegger, Lee Haney, Dorian Yates, Yaxeni Oriquen e Iris Kyle. Os corpos, construídos com muito trabalho e empenho por parte dos atletas, são o fruto da dedicação de anos de construção em busca da definição de músculos específicos, do peso ideal e das medidas inalcançáveis. Tudo surreal.

Surreal como o sentimento de quem é reconhecida neste torneio como a melhor de sua categoria. Quem viveu isso foi a atleta Camila Lyra, radicada na Paraíba. No último dia 2 ela era consagrada campeã da categoria Figure Amateur, e ganhava o direito de subir para a categoria da elite do fisiculturismo mundial. O momento de ouvir o próprio nome sendo consagrado pelos jurados foi único.

“Mentalizei muito esse momento acontecendo, mas quando realmente acontece, que você escuta o locutor falando o título e chamando o seu nome, ali naquele momento é como se tudo congelasse pra mim. É uma mistura enorme de emoções, como se fosse um sonho. Minha ficha demorou alguns dias para cair”, afirma a atleta, que mora, hoje, nos Estados Unidos.

Ela começou no fisiculturismo em 2012, depois do nascimento do primeiro filho, em João Pessoa. “Eu ainda estava no Brasil, e comecei a treinar musculação, para recuperar o corpo depois da gestação e do parto. O que eu não esperava era a evolução tão grande e tão rápida, o que chamou a atenção de algumas pessoas na área fitness”, lembra.

A partir daí ela começou a se dedicar e em 2016 foi para os Estados Unidos para conseguir uma progressão como atleta. “Fui me apaixonando por todo esse processo. Mergulhei de cabeça. Mas aí tinha outro sonho no caminho e eu queria o segundo filho. Tive que parar”, conta.

E parou por quatro anos, de 2018 a 2022. Quando resolveu voltar às competições, já neste ano, precisou de muito foco para recuperar todo o trabalho que ficou para trás. A força de vontade foi imperativa para, em menos de um ano, conseguir conquistar o pódio mais importante do mundo.

“Fiquei afastada 4 anos, até que esse ano de 2023 me senti preparada mentalmente para recomeçar, então foi tudo praticamente do zero novamente. De janeiro de 2023 até outubro em preparação com meu coach Ray Milet consegui conquistar o meu Pro Card e me tornando atleta profissional”, explica.

Corrida contra o tempo

Para a maioria das pessoas, alguns meses é pouco para conseguir chegar ao corpo que sempre quis, mas Camila é perseverante e conseguiu construir o necessário para correr atrás do Pro Card, o reconhecimento de atleta profissional.

“Eu precisava ter qualificação em competições regionais. e ser filiada à National Physique Committee (NPC), maior liga de fisiculturismo amador dos Estados Unidos. Participei de duas competições antes do Mr. Olympia e fui campeã absoluta em ambas, o que me credenciou para o maior torneio do mundo”, comemora.

Mas como encarar um desafio tão grande em tão pouco tempo? O mais importante, e mais difícil para Camila, é manter a cabeça no lugar, pois fora do palco, 2023 não foi um ano fácil. “Nesse processo de preparação para o Mr Olympia, perdi o meu avô, e meu marido foi diagnosticado com uma síndrome rara. Tudo isso, obviamente, me abalou bastante”, lamenta.

Mas a disciplina é uma qualidade essencial para os vencedores, e ela a botou em prática, mesmo diante de toda a dificuldade que a vida lhe apresentava. “Nunca deixei que qualquer coisa externa me quebrasse por dentro. Então, mesmo triste, mesmo abalada, continuei fazendo tudo normal. Foi uma batalha diária mental. Que me fortaleceu ainda mais”, recorda.

Brasileiras no pódio

Camila não é a primeira brasileira a brilhar no fisiculturismo internacional. Francielle Mattos, fisiculturista paranaense conhecida como “Ferrari Humana”, conquistou o terceiro título seguido na categoria Wellness profissional. E não foi a única brasileira no pódio.

Só nesta categoria, das cinco primeiras colocadas, quatro eram brasileiras, além de Francielle, que ganhou o primeiro lugar, em segundo ficou Isa Pereira, em quarto, Rayane Fogal e em quinto Gisele Machado.

Já na categoria Women’s Bodybuilding, Alcione Barreto ficou em terceiro, dando ao Brasil o melhor resultado na história. Já na categoria Women’s Physique, Natália Coelho, brasileira que disputa pelos Estados Unidos ficou em segundo lugar, e Zema Benta, estreante brasileira na categoria, em terceiro.

“O Brasil domina o mundo, e temos várias atletas que servem de modelo para nós. Muitas meninas que estão no topo das melhores categorias. Isso é bom para incentivar a mulher brasileira a seguir buscando esses resultados”, comemora.

Dedicação e empenho

E para chegar a esta elite, Camila segue trabalhando para conseguir o físico necessário para encarar os desafios na nova liga. E essa preparação exige bastante dela. Além de atleta, Camila é mãe, esposa e empresária. Acorda todos os dias por volta das 3h30 para poder treinar e controla a alimentação de segunda a segunda.

“Pra mim, todo dia é igual. Eu vou pra academia às cinco da manhã pois é o horário que todo mundo em casa está dormindo e eu posso treinar sem pressão, com a mente tranquila. Ainda preparo comida para as crianças, trabalho como personal trainer, volto a treinar cardio duas vezes durante o dia e sempre controlo o que comer. Em cada fase da preparação tem uma alimentação diferente, mas a rotina é sempre a mesma”, explica.

Os objetivos para o ano que vem são muito claros: ela quer chegar ao Mr. Olympia e brilhar novamente. “Alinhar o shape para o padrão profissional e fazer a estreia no novo nível são meus desafios mais próximos. Analisar o calendário, definir datas, participar de competições, ir ajustando tudo à medida que for competindo até a qualificação para o próximo Mr. Olympia”, conclui.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 11 de novembro de 2023.