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paraíba no pódio

Netinho engrandece o taekwondo

publicado: 13/08/2024 09h07, última modificação: 13/08/2024 09h07
Pessoense do bairro do Rangel, atleta tem um currículo cheio de medalhas e recebeu incentivo do pai
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A história de Netinho começou a ser escrita ainda na infância, aos sete anos, em João Pessoa | Foto: Divulgação/Marinha do Brasil

por Camilla Barbosa*

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 foram finalizados, oficialmente, no último domingo (11), com o Brasil ocupando a 20ª colocação do quadro geral de medalhas (três ouros, sete pratas e 10 bronzes). Um dos responsáveis por levar o país ao pódio na competição foi o taekwondista paraibano Edival Pontes, o Netinho, ao vencer o espanhol Javier Pérez Polo na disputa pelo 3º lugar, na categoria até 68 kg, e conquistar o bronze.

Essa foi a primeira medalha olímpica do pessoense, mas, aos 26 anos, já constam em seu currículo experiências exitosas e outros pódios, como o de vice-campeão mundial em 2022, quatro medalhas em Grand Prix e dois ouros em Jogos Pan-Americanos: um no individual em Lima-2019, e outro no torneio por equipes em Santiago-2023, ao lado de Paulo Melo e Maicon Andrade.

A história de Netinho no taekwondo começou a ser escrita ainda na infância, aos sete anos, quando conheceu o esporte em João Pessoa, onde nasceu e cresceu. A vasta experiência do grão mestre Tomaz André de Azevedo Silva, um dos pioneiros na introdução do garoto aos tatames, lhe garantia, já naquela época, que ele estava presenciando a construção da carreira daquele que viria a se tornar um dos maiores esportistas do nosso estado.

“Ele começou a treinar com o mestre Manoel, tinha em torno de sete anos de idade, na época quando começou, lá na no bairro dele, que é o Rangel. E chegou a se formar faixa preta com ele lá, e 10 anos mais ou menos, 11 anos, ele veio pra minha academia. O pai dele, o finado Nino (Loidmar Pontes), me conheceu e trouxe ele pra fazer um treinamento, aqui comigo; depois desse treinamento o pai disse ‘olha, Tomaz, Netinho quer vim pra cá, treinar com você’. Aí eu disse ‘não tem problema, é só ele pedir transferência lá da academia que ele participa e vir pra cá, até porque tanto uma como outra são filiadas à Federação’ “, disse Tomaz.

O professor ainda relembra a conquista das Olimpíadas da Juventude pelo atleta, em 2014, feito que o elevou a um novo patamar na carreira: se tornar atleta da Marinha.

“Foi uma conquista muito grande pra gente aqui da Paraíba, porque nós não tínhamos tido nenhum atleta, até então, com o título desse nível, campeão olímpico da juventude mundial, e mais se tratando de João Pessoa, da Paraíba, um estado do Nordeste que, na época, ainda era discriminado em termos de nível técnico dos atletas. Mas aí surgiu o Netinho, treinando aqui com a gente, com os nossos treinamentos, com a equipe que eu vinha aqui preparando, Cléber nos ajudando também, com um nível técnico muito bom, os atletas da nossa academia também, e chegou aonde chegou. Foi quando a Marinha chamou o Netinho para ir para lá, São Paulo, para servir a Marinha como atleta de Taekwondo, para disputar as competições militares e defender a Marinha, foi quando ele saiu da nossa academia”, descreveu.

Para o mestre Tomaz André de Azevedo Silva, que é também presidente da Federação Paraibana de Taekwondo Olímpico (FPTO), o bronze olímpico de Netinho é fundamental para que este esporte continue avançando e recebendo novos atletas no estado. 

“Fomentou muito, essa conquista vai, com certeza, trazer mais adeptos para o nosso esporte. A Paraíba hoje está num nível igual a todo o Brasil. Não existe mais aquela discriminação de antigamente, pessoal do Sul, Sudeste, melhor que o Nordeste. Não. Agora o nível está igual, e com uma condição melhor ainda, com a Paraíba em terceiro lugar nas Olimpíadas, a primeira conquista de todos os tempos da Paraíba, de um atleta de modalidade individual que é o taekwondo a trazer uma medalha. Então, pra gente aqui, é só alegria”, comemorou ele.

Tomaz se diz confiante em relação aos patamares cada vez mais altos aos quais a Paraíba deve chegar num futuro próximo, e acredita que, mediante um trabalho conjunto de diversos agentes envolvidos (inclusive ele mesmo, enquanto presidente da federação), outros atletas com grande potencial — como Netinho — surjam.

“Eu assumi a federação em 2013, e de lá pra cá, graças a Deus, a gente só tem tido resultados positivos, com certeza está saindo uma nova safra de ‘Netinhos’. Estão vindo aí outros ‘Netinhos’ que vão, com certeza, no futuro bem próximo, substituí-lo, até porque ele já está com 26 anos de idade, e nessa modalidade individual, quanto mais novo, a partir dos 18 anos, 19, 20, 21, tem uma certa vantagem, em se tratando de idade. E com o nosso trabalho, com o trabalho das academias filiadas, com o trabalho dos professores e mestres que estão aí trabalhando com bastante dedicação e competência dentro da modalidade, eles vão trazer também alegria para nós”, expressou.

Além do preparo técnico, Netinho chamou a atenção por causa do preparo psicológico, fundamental para driblar as intempéries enfrentadas até conseguir chegar ao pódio, como a morte do pai (que foi crucial para sua eliminação precoce em Tóquio- 2020), e a punição preventiva com suspensão por doping no fim de 2023.

Para Tomaz, um dos diferenciais desta arte marcial é, justamente, proporcionar aos praticantes a prática dos bons valores, e, dentre eles, a resiliência.

“A essência do taekwondo nos ensina que um atleta tem que ter integridade, ele tem que ser uma pessoa que respeite o próximo, antes de ser atleta ele tem que ter toda essa formação. E quando ele chega ao nível de atleta de alto rendimento, ele já chega preparado nessa parte, a gente costuma, nas academias, com as crianças, quando chegam e com os adolescentes, a formar verdadeiros cidadãos. A questão de você ser um atleta de ponta, ser um atleta de alto rendimento, vai depender do dom de cada um, como foi o caso de Netinho e os demais que estão aí chegando”, salientou.

Criado no bairro do Rangel, em meio a um lugar que vive e sofre diariamente os efeitos das marcas cruéis da desigualdade social, Netinho é um dos muitos atletas que se valeram do esporte como forma de superação e ascensão social. Um dos objetivos da FPTO, de acordo com Tomaz, é permitir, através de projetos sociais e parcerias, que a realidade de outros jovens paraibanos seja transformada nesse sentido também.

“A nossa federação trabalha não só com atletas de academias particulares, mas também com projetos sociais. Nós temos o projeto social Taekwondo Solidário, aqui no Castelo Branco, nós temos a Academia Carcará, do Vale do Timbó, nós temos projeto social lá em Guarabira, Clara de Assis, nós temos o projeto social em Santa Rita, muito bom, inclusive esse projeto é bancado pela Alpargatas, do mestre Ronaldo, o Instituto Mestre Ronaldo, e um dos meios que a gente hoje consegue ver a mudança social dos nossos alunos e futuros atletas é justamente entrando no taekwondo de competição, no taekwondo olímpico”, iniciou.

“É esta modalidade que dá condições financeiras num futuro melhor para os seus atletas; é onde eles vão receber o Bolsa Esporte, como é o caso da Paraíba que já está recebendo, inclusive o Netinho recebe, nós temos o Bolsa Atleta do Governo Federal também, que esses atletas todos também recebem, todos que têm títulos até terceiro lugar nas competições, nós temos aí os patrocinadores, então, o nível social e financeiro, principalmente, desses atletas melhoraram muito depois que o taekwondo deixou de ser uma arte marcial apenas e passou a ser uma modalidade esportiva olímpica”, finalizou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de agosto de 2024.