Aos quatro anos de idade, incentivada por seu pai, Rayra Nayanne de Lima Mendes começou a treinar jiu-jítsu. Hoje, aos 14 anos, a pessoense já acumula diversas participações em competições, além de inúmeras medalhas. No último fim de semana, em São Paulo, ela conquistou o pentacampeonato brasileiro da categoria Kids, que engloba atletas de quatro a 15 anos de idade, e sagrou-se, também, como a paraibana com mais títulos nacionais dentro dessa faixa etária.
A primeira conquista do Campeonato Brasileiro, organizado pela Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu (CBJJ), veio ainda em 2018, seguida pela de 2019. Em virtude da pandemia de Covid-19, a competição só voltou a ser realizada em 2022, quando Rayra também subiu ao lugar mais alto do pódio, fato que se repetiu no ano seguinte e no último domingo (23).
Para alcançar o recorde, a caminhada, obviamente, não foi fácil. A atleta tem uma rotina de treinamentos intensa, que envolve a realização de dois a três treinos por dia, durante toda a semana. Seu pai, Valdenio, maior inspiração no esporte e professor até hoje, é seu principal incentivador, de acordo com Rayra.
Ela pontua que saber separar o papel de professor do de pai é imprescindível para o bom desempenho nos tatames. “Para mim, é muito fácil; acho que foi porque eu comecei com isso desde pequena. Dentro do tatame, ele é meu professor, e fora ele é meu pai; então, já é normal para mim. Mas, dentro do tatame, ele é meu professor e eu tenho que obedecer, respeitar e tratar ele como meu mestre”, disse.
“Com certeza a parte mais importante de qualquer esporte é amar o que você faz. E, além disso, respeitar a hierarquia dele. Isso é fundamental para mim”, completou.
Em seu último ano competindo com a faixa verde, na categoria Kids, ela já sonha com novas conquistas. “Meu maior objetivo, hoje, é entrar no Juvenil e ser campeã mundial e continuar treinando até conseguir minha faixa preta e ser campeã mundial com ela”, afirma, inesitante.
Rayra ainda descreve que a prática esportiva nos tatames vem ganhando cada vez mais adeptas e comemora o fato de ser uma destas. Para ela, a participação feminina precisa ser incentivada por toda a sociedade.
“Eu fico muito feliz, principalmente por ser exemplo para outras meninas; eu acho isso incrível. Dentro do esporte em si, muitas vezes, a gente ainda é minoria. Obviamente, existem poucas meninas treinando jiu-jítsu. É claro que isso vem mudando: quando eu comecei a treinar, eu era praticamente uma das primeiras aqui da Paraíba, e isso vem melhorando. Mas a gente ainda tem muitos pais que ainda acham que é um esporte masculino, ou que vai se machucar, só que é um esporte para todo mundo. Fora que, quando você diz que é mulher e treina jiu-jítsu, as pessoas te desvalorizam. Isso acontece muito comigo, mas não é uma coisa que me incomoda mais, porque eu sei que eu sou boa e que eu não preciso da validação do povo para saber disso”, explica, convicta.
Apesar da pouca idade, ela reconhece que o esporte exige esforços. Entre eles, a renúncia de momentos de diversão, muito comuns na adolescência. “Com certeza é mais difícil. Porque a gente vê nossos amigos que passam o dia inteiro em casa, saem todos os dias, nos fins de semana, e, muitas vezes, eu não posso sair, tenho que estar treinando, ou estou competindo. Então, é muito difícil, ainda mais quando você tem essas influências, mas, quando você tem um foco, um objetivo, você compreende, e o jiu-jítsu ensina isso”, afirmou.
Rayra ainda concilia os estudos com a prática esportiva, em uma relação extremamente benéfica. Mas, apesar de desejar seguir a carreira da Medicina, ela também quer continuar praticando jiu-jítsu. “Hoje o jiu-jítsu já é profissional para mim, mas eu não quero depender disso financeiramente. Eu quero que sempre seja uma coisa que eu amo. Então, vai ter uma parte profissional, porque, querendo ou não, é uma obrigação, mas sempre vai ser uma coisa que eu faço porque eu gosto e sinto prazer”, disse.
“Eu me esforço muito, é muito difícil, não vou dizer que é fácil, o tempo é muito curto, mas o jiu-jítsu também me ajuda muito a ter disciplina. Eu sempre tento fazer minhas obrigações, sem contar que ele também me ajuda a encontrar modos para chegar a estudar mais; por exemplo, hoje eu tenho patrocinadores que me ajudam muito em relação ao meu estudo”, complementou.
Sobre levar o nome da Paraíba para as competições mundo afora e retornar para casa com a medalha no peito, a atleta descreve, enfática: “Essa é uma das coisas mais emocionantes. Eu sou apaixonada pelo meu estado, sou apaixonada por onde moro, não trocaria de forma alguma, então acho muito importante e incrível representar a Paraíba”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 26 de junho de 2024.