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Ex-velocista paraibano relembra trajetória de sucesso no atletismo

publicado: 24/07/2016 00h05, última modificação: 23/07/2016 10h19
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João Batista Eugênio detém até hoje o recorde de quarto homem mais veloz do mundo nos 200 metros rasos - Foto: Divulgação

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Marcos Lima / Adrizzia Silva - Especial para A União

A 12 dias do início das Olimpíadas Rio 2016, o jornal A União relembra a trajetória do primeiro paraibano a participar de uma olimpíada. Na Paraíba, ele é conhecido por João Eugênio da Silva. No eixo Recife-Salvador, todos o chamam de João Batista. No sul, sudeste e centro-oeste, seu nome é João Batista Eugênio. “Para você ver como o nordestino não valoriza suas raízes”, brincou João Batista Eugênio da Silva, o primeiro paraibano também, a ir para um Pan-Americano, em 1983, em Caracas, na Venezuela, além das Olimpíadas de Los Angeles, Estados Unidos, em 1984.

Aos 51 anos, residente no bairro Colinas do Sul, em João Pessoa, e desempregado, João Batista Eugênio ganhou fama, bateu recorde, viajou o mundo inteiro para competir nos 200 metros rasos e revezamento 4x100. Ele não conseguiu concluir o curso de Educação Física em uma faculdade particular da capital, porque não teve condições de pagar a mensalidade, em torno de R$ 600,00 na época (2001) e também não conseguiu nenhuma bolsa de estudos.

“Dói muito saber que um dia vivi o que hoje estão vivendo Kaio Márcio, Andressa Morais, Jailma Sales, Kléber Ramos, Mayssa Pessoa e Douglas Santos que participam dos Jogos Olímpicos 2016 e nunca tive incentivo algum, nem como atleta reconhecido no mundo inteiro, nem como pessoa na atualidade”, afirmou o ex-atleta. João Eugênio é o quarto homem mais veloz do mundo nos 200 metros rasos (20s30), façanha esta conquistada nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1984.

“Perdi a medalha de bronze por apenas quatro centésimos”, lembra o paraibano. À época, o ouro ficou com Carls Lews (19s80); a prata com Kik Baptista (19s95) e o bronze com Thomas Jéferson (20s26). Naquele mesmo ano, a Confederação Internacional de Atletismo consagrou João Batista Eugênio da Silva como o homem mais veloz do mundo em curva.

Nos Jogos Pan-Americanos de Caracas, em 1983, João Batista Eugênio ajudou o Brasil a ficar em quarto lugar na classificação geral no quadro de medalhas, com 57. No Revezamento 4x100, ao lado de Robson Caetano, Nelson Rocha dos Santos e Gerson Andrade de Souza, João Batista ganhou uma das 23 medalhas de bronze conquistadas pela delegação brasileira. “Aquele momento foi um dos melhores de minha vida”, recorda o ex-velocista.

O paraibano é detentor de um recorde sul-americano juvenil que, passados 35 anos, ainda não foi quebrado. Trata-se dos 200 metros, cuja marca é de 20s07. O currículo do paraibano não para por aí. Ele é bicampeão mundial juvenil nos 100 metros rasos (10s54); tricampeão mundial juvenil nos 200 metros rasos (20s92); várias vezes campeão brasileiro, paraibano, regional, entre outros. “Foram muitas as competições. Não recordo o número exato de disputas. Para se ter uma ideia, corri praticamente no mundo inteiro”, lembra João Batista.

Ex-velocista se diz esquecido e abandonado

O João Batista Eugênio, quarto homem mais veloz do mundo e medalha de bronze no pan-americano da Venezuela, é o mesmo João Batista Eugênio de hoje. Antigamente não tive suporte e hoje também não tenho”. Foi desta forma que o primeiro paraibano a participar de uma Olimpíada e de um Pan-americano reagiu ao ser questionado sobre o seu passado e sua atualidade.

Esquecido pelas autoridades públicas, por pessoas que lidam com o esporte na Paraíba e no Brasil, o ex-velocista reclama da falta de apoio para com ele e com o esporte de uma forma em geral. O Programa Bolsa Atleta auxiliou o paraibano por um ano apenas. “Não sei nem como está mais. Esses atletas que estão no Sul, acho que nem recebem. O atletismo paraibano já mudou muito comparado à minha época, mas são os representantes de lá do Rio, São Paulo que apoiam”, afirmou.

O homem mais veloz em curva se diz muito decepcionado da forma como ele tem sido tratado no mundo esportivo. “Não é todo dia que um paraibano vai a uma Olimpíada, a um Pan-Americano ou a um Campeonato Sul-Americano ou Mundial. As autoridades deveriam preservar seus talentos, afinal, são nossas origens. O que vemos é que, grandes nomes do esporte paraibano que fizeram e ainda continuam elevando o nome do Estado, são pessoas esquecidas, sem apoio. Isto dói muito”, desabafou Eugênio.

O sonho do primeiro atleta do estado a participar de uma Olimpíada e de um Pan-Americano era poder transmitir, ensinar a futuros atletas, revelando-os para o cenário esportivo local, nacional e internacional. “Nem espero mais por esta oportunidade. Infelizmente não consegui, apesar de todo o meu currículo e de todo o meu amor pelo atletismo”, disse.

Ainda questionado sobre ter se recusado a ir para os Estados Unidos, como fizeram outros atletas super-dotados do Brasil na época, ele diz que se arrependeu. “Depois de tudo que passei e passo, da falta de apoio, me arrependo de não ter ido fazer carreira lá. Poderia ter sido naturalizado e hoje ser um norte-americano reconhecido”, lamentou.