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Ednalva Laureano se tornou um marco no atletismo do Estado pelas conquistas, apesar das dificuldades

'Pretinha': livro retrata a história de atleta paraibana

publicado: 09/05/2022 09h27, última modificação: 09/05/2022 09h27
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Foto: Divulgação

por Laura Luna*

Nascida em Alagoa Nova, a filha de seu Sebastião Laureano e de dona Maria do Carmo Laureano sempre ajudou os pais na roça. De manhã cedo plantava e colhia, à tarde corria. Foi assim que Ednalva Laureano, a Pretinha, como se tornou conhecida, começou no atletismo onde se destacou dentro e fora do país em uma carreira que durou 15 anos. Hoje, nove anos depois de encerrada a trajetória nas pistas, ela fez o caminho de volta. Morando em Campina Grande, a ex-atleta, que trabalha na prefeitura onde recebe um salário mínimo, ajuda a mãe na roça e é também vendedora na feira, onde mantém uma banca.

“Queria estar representando nossa Paraíba, mas não é mais possível, sinto muita falta, muita mesmo”. As palavras saudosas são resultado do desgaste físico, e da falta de tratamento, que atingiu joelho e fêmur da atleta, que encerrou a carreira em 2013 aos 36 anos. Carreira essa que começou a partir das corridas perto de casa, quando a jovem franzina ganhava as ‘rodagens’, nas imediações do Sítio Geraldo, zona rural do município. “Comecei participando de gincana do colégio e depois, com incentivo, passei a treinar em Campina Grande”, lembra. Os treinos aconteciam sempre no turno da tarde, depois do trabalho no roçado.

A menina simples, que não conseguiu terminar os estudos, se tornou bicampeã da Corrida de Reis de Brasília, bicampeã do troféu Cidade de São Paulo, tricampeã da Corrida 10km do Brasil, tricampeã da Corrida Tribuna de Santos, segundo lugar na Volta da Pampulha, primeiro lugar na Corrida de São Fernando (no Uruguai) e segundo lugar na Prova de Pista (em Portugal) e também na tradicional São Silvestre. “Corri em mais de 10 países, em uma corrida no Peru eu fiquei em terceiro lugar. É porque nem lembro de tudo, foram muitas”, conta a entrevista com a simplicidade que nunca perdeu, nem nos tempos áureos, quando esteve no centro das atenções, como a mulher mais rápida do Brasil, nos cinco e 10 mil quilômetros, nos anos de 2006 e 2007.

“Nem nesse período foi fácil. Sempre enfrentei muitos desafios. Preconceito então, foi desde o início. Sempre aconteceu”, lembra. Nada que apagasse os momentos felizes, de realização. De quando a menina da roça ganhou o mundo e, com a mesma determinação e resiliência, retornou às origens. Hoje aos 45 anos, Pretinha vive das muitas lembranças que reuniu e do reconhecimento do público, que não esquece os feitos da corredora. “Eu tenho o reconhecimento do público, que sente minha falta, e também da imprensa que sempre nos trata com muito carinho e sempre está contando um pouco dessa trajetória… mas em termos de apoio sempre foi difícil, principalmente quando a gente para”. Dos anos de carreira, Ednalva conseguiu realizar alguns sonhos também fora das pistas. “Consegui comprar minha casinha, fazer uma pra minha mãe e ajudar dois irmãos”.

Agora a história da ex-atleta ganha mais um capítulo, na verdade mais alguns. Trata-se do livro “Pretinha: memórias da corredora de rua Ednalva Laureano”, publicado pela Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB) e lançado na última quinta-feira, 5. O material, de 232 páginas, é resultado de dois anos de pesquisa do estudante de jornalismo Rafael Costa que decidiu contar a história da paraibana, ícone do atletismo nacional, no trabalho de conclusão de curso. “É de suma importância porque Ednalva faz parte do processo de democratização das corridas de rua”, pontua o autor. Rafael, que se refere à Ednalva Laureano como um ‘furacão’ - devido à rapidez com que a corredora chegou ao topo do esporte-, chama a atenção também para a importância da representatividade da atleta que colocou a corrida de rua em lugar de destaque. “Quando ela surge, a mídia esportiva começa a olhar com mais carinho para o atletismo paraibano”.

Para Pretinha o livro é mais que um registro. “Ele poderia ter escolhido alguém do futebol, da natação, algum cantor… mas ele disse que sempre me assistia e torcia por mim e que queria contar a minha história e eu fico muito feliz”. Para Rafael Costa, é mais que um trabalho acadêmico. “É a oportunidade de prestar homenagem ao maior nome do atletismo paraibano em vida, uma vez que a gente costuma fazer isso depois que as pessoas morrem”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 8 de maio de 2022