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cézar wellington

Técnico consolida-se no futebol paraibano

publicado: 20/10/2025 09h45, última modificação: 20/10/2025 09h45
Além de bons trabalhos nas categorias de base, ele consegue a façanha de colocar o Confiança na 1ª Divisão
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César Wellington mostrando o esquema de jogo adotado em partida do Confiança | Fotos: Reprodução/Instagram @cezar_wellington71

por Danrley Pascoal*

Paraibano, natural de Santa Rita, Cézar Wellington colocou seu nome na história do Confiança de Sapé depois de recolocar o clube na Primeira Divisão do Campeonato Paraibano após 26 anos. Além disso, como bônus, na atual temporada, o treinador chegou nas finais das duas principais competições de base do estado (sub-17 e sub-20), com a equipe rubro-negra. O desempenho garantiu ao Papão a disputa da Copa São Paulo de Futebol Jr. do próximo ano, principal torneio de base do país.

O técnico de 54 anos começou sua trajetória no Santa Cruz de Santa Rita, em 2013, quando contribuiu para que o time profissional alcançasse o acesso para a Primeira Divisão. Depois esteve no São Paulo Cristal, levando o time sub-20 para a Copinha de 2018. Sua primeira passagem pelo Confiança ocorreu em 2019 e durou até 2021, ano em que foi campeão do Paraibano Sub-20. Depois passou por equipes de base de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Cézar retornou ao Confiança em 2022, quando disputou a Segunda Divisão, em que chegou nas semifinais. Antes de retomar seu trabalho no Papão nesta temporada, treinou outras equipes do interior paraibano. Ao Jornal A União, o técnico contou um pouco de sua história e dos percalços para vencer no mundo do futebol, durante os 15 anos de carreira.

A Entrevista

  • Como nasceu a sua relação com o futebol?

R: Eu sempre gostei de futebol, sempre amei. Mesmo quando novo, eu já tinha um time de futebol, organizava competições e campeonatos de várzea pelos bairros de Santa Rita. Em 2013, eu era vice-presidente do Santa Cruz e treinei a equipe por um tempo. Em seguida, fiquei como treinador das categorias de base, realizando bons torneios. A partir dali, segui para ser treinador de vez porque eu amava futebol. Isso sempre esteve na minha veia. Graças a Deus, deu certo. Às vezes, muito desacreditado, mas sempre confiei no meu potencial, sempre me dediquei no que faço.

  • Você tem um longo trabalho com jovens atletas, como é lidar com esses garotos no dia a dia?

R: São várias cabeças, educações diferentes, mas eu sempre procuro tratar os meninos como filhos. Então, eu procuro tratar os meus jogadores da melhor forma possível. Digo para eles que não devem ter medo de mim, eu quero que eles tenham respeito. Procuro passar isso para eles, para que eles possam ganhar minha confiança, para que possam se sentir bem e  à vontade. A gente cria uma amizade boa com nossos atletas. Todo mundo, graças a Deus, que trabalha comigo, sai elogiando, gostam do meu trabalho. Eu procuro tratá-los bem para que a gente possa ter os resultados. Como eu digo sempre, quem corre dentro de campo são os jogadores. Se os atletas estiverem insatisfeitos com os treinamentos, jamais o time vai render. Passo a questão do respeito, tem a hora de cobrar e tem a hora de elogiar. E tudo isso vem dando certo.

  • Como é trabalhar num ambiente em que a falta de recursos financeiros sempre pesa na hora de montar as equipes, tendo em vista também o fator social dos jovens atletas, que muitas vezes vêm de uma situação socioeconômica desfavorecida?

R: Sempre tivemos muita dificuldade. Nos bons momentos, todo mundo que ajudar, todo mundo é bom. O problema sempre será nas dificuldades. Hoje, graças a Deus, a gente tem a empresa Sol, junto com o presidente Wilson, que dá todo o apoio ao Confiança. Mas tivemos momentos ruins em 2019. Quando eu cheguei, a gente treinava com cinco bolas, não tinha preparador físico nem preparador de goleiro. Era eu que fazia tudo. Eu procurei dar o meu melhor, e conseguimos o acesso à Copa São Paulo. Então, as condições foram melhorando. Hoje, a gente tem todas as condições. Alguns meninos do sub-17 recebem ajuda de custo. No sub-20, quase todos já recebem sua ajudinha também. O Confiança hoje tem um profissionalismo, respeita a base, respeita seus profissionais. 

O técnico iniciou a sua carreira no Santa Cruz, quando colocou o clube de Santa Rita na Primeira Divisão
  • Qual o diferencial para que o Confiança tenha chegado a três finais em 2025? Como explicar os resultados e desempenho?

R: O que fez a gente chegar nessas finais foi a união, o comprometimento, a comissão técnica, a diretoria, o trabalho em equipe, o respeito, bem como os jogadores que entenderam o trabalho e assimilarem os objetivos estabelecidos. O nosso trabalho, o nosso dia a dia, era de um ambiente bom, ambiente alegre. Eu sempre digo para os atletas que se tiverem com algum problema, se não tiverem com a cabeça boa, não vão render dentro de campo e vão atrapalhar os demais. Então, eu cobro que eles me chamem, chamem alguém da diretoria, que conversem conosco. Assim, a gente vem conseguindo manter essa postura, manter esse diálogo com os jogadores e vem dando resultado.

  • As dificuldades nem sempre aparecem para o torcedor. Pode falar de algo que marcou você e o elenco na campanha que recolocou o Confiança na Primeira Divisão depois de 26 anos?

R: Muita gente não sabe, mas o Isaías, que foi o artilheiro do torneio, estava sem treinar e apenas se tratava de uma lesão no púbis. Isaías passava a semana toda se tratando para entrar no jogo e dar o seu melhor. A gente teve o Gaspar sentindo a parte posterior da coxa, o nosso goleiro João também não vinha 100%, mas sempre trabalhando, sempre se dedicando. Isso nos uniu. Era um pelo outro, um dando força, cada um pedindo para que os outros dessem seu melhor. A gente sabe das dificuldades, a gente sabe das nossas limitações. Tínhamos um grupo com 11 jogadores da base. Precisávamos de contratações, mas acreditamos nos garotos e nos mais velhos. Tudo isso contribuiu para tirar o Confiança da Segunda Divisão.

  • Na sua trajetória de 15 anos como treinador, que tipo de situação pode contar algo que achou falta de respeito com você enquanto ser humano?

R: Algo recente, já neste ano, na apresentação do nosso time profissional aos torcedores, tinha um diretor de uma rádio apresentando todos os jogadores. Quando foi falar meu nome, ele gritou da arquibancada que o time era muito bom, mas que com o treinador Cézar Wellington, o time cairia. Então, aquilo ali me marcou. Falei para os jogadores que era uma questão de honra classificar para a Primeira Divisão. A minha pior passagem no clube foi um terceiro lugar, seja no profissional seja na base. Eu fiquei muito sentido, fiquei muito magoado, triste, mas guardei aquilo. Peguei aquilo ali como trampolim para que eu pudesse trabalhar cada dia mais. Muitos desconfiaram no começo da minha carreira e me humilhavam, mas eu sempre trabalhei calado, sempre procurando me aperfeiçoar.

  • Em 2026, o Confiança terá que dividir as atenções entre a Copa São Paulo de Futebol Jr. e o Campeonato Paraibano, que deve ter pelo menos duas rodadas em paralelo ao torneio de base, como conciliar essas situações?

R: Nos reunimos na semana que passou justamente para deliberar os planos de 2026. Foi difícil chegar na Primeira Divisão. Agora, temos que fazer um time para se manter. Se não fizer uma boa equipe, se não contratar, a gente só vai bater e voltar. Isso é ruim para a cidade de Sapé e para o Confiança. Quanto à Copa São Paulo, temos nossos auxiliares Edmundo, Ítalo Baiano e Messias. A gente vai começar a preparação do sub-20, que se apresenta no próximo mês. Haverá uma conversa para definir quem vai ficar no profissional.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de Outubro de 2025.