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A cena se repete diariamente em Sochi. Poucos minutos antes do início do treino, enquanto os jogadores fazem as brincadeiras de aquecimento, Tite anda de um lado para o outro no campo. Cabeça baixa, às vezes olhando pro nada, dando toques sutis numa bola, que puxa o trajeto do treinador. Na mente do comandante da Seleção Brasileira, martela uma ideia fixa. Não se trata das lesões dos últimos dias, ou da possibilidade de perder algum atleta por suspensão. Tite quebra a cabeça para fazer a Seleção reencontrar o ótimo futebol apresentado durante a preparação e que ainda não deu as caras na Rússia.
Neste domingo, depois de seu ritual, Tite reuniu o grupo para uma conversa no centro do gramado. Ao seu lado, o filho Matheus Bachi e Cléber Xavier, auxiliares. O treinador não fez alertas de preocupação por ter três jogadores pendurados (Casemiro, Philippe Coutinho e Neymar). Ele não costuma pedir para os jogadores mudarem seu comportamento em campo, “pegar mais leve”. Cada um precisa ter essa responsabilidade e saber até aonde pode ir. Tite aproveitou e tentou motivar os atletas destacando os bons momentos contra a Costa Rica, sobretudo no segundo tempo.
Na visão da comissão técnica, foram os melhores momentos da Seleção até o momento na Copa. Quando o time conseguiu empurrar o adversário para seu campo, varias as jogadas e criar chances. Além dos dois gols nos acréscimos, Gabriel Jesus acertou o travessão, Neymar bateu para fora na cara de Navas e Coutinho teve um chute espirrado que passou raspando. Tite quer que os atletas mentalizem os bons momentos, e abstraiam o que de ruim aconteceu até agora.
“Ele falou em questões de orgulho, de tudo que fizemos no jogo. De ter a cabeça fria durante os 90 minutos, buscando o gol, a vitória, foi um dos pontos que ele tocou na conversa” afirmou o lateral-direito Fagner, novidade do time com a lesão de Danilo.
Para ter sucesso em sua empreitada, Tite deve apostar novamente na manutenção do time para o duelo contra a Sérvia amanhã em Moscou. A ideia é recuperar o bom desempenho de jogadores que ainda não mostraram o que estão acostumados. Casos de Marcelo, Paulinho, Willian e até Neymar. O rendimento abaixo do ideal de muitos jogadores importantes é visto como uma das principais razões para o futebol da Seleção ainda não ter decolado. O Brasil lidera o grupo E com quatro pontos, mas Tite não está satisfeito porque, como ele mesmo disse antes do Mundial, a Seleção buscará vencer e convencer.
Nessa segunda-feira, o treino ajustou a parte tática da equipe, no último em Sochi antes da viagem a Moscou. A atividade foi totalmente fechada à imprensa. Momento de privacidade em que o técnico colocou em prática as ideias que tem martelado sua cabeça desde que o Brasil estreou na Copa.
Isso não quer dizer que ele não tenha sentido as baixas. Principalmente a de Douglas Costa, cuja situação é a mais complicada. Ele tem uma lesão na parte posterior da coxa direita e não tem prazo de retorno. Douglas era uma peça importante, ainda mais porque entrou bem diante da Costa Rica. Agora, o foco é recuperar Willian. Ao mesmo tempo, intensifica os trabalhos com Taison, que virou uma opção para o lado direito.
Com relação a Danilo, Tite ficou muito satisfeito com o desempenho de Fagner. Ele também trabalhou com Marquinhos para uma eventual emergência e cogita até Fernandinho na lateral.
Os pendurados
Casemiro, Coutinho e Neymar precisarão segurar até as quartas de final, caso o Brasil chegue até lá, para ter os cartões zerados. Se tomarem mais um antes, ficarão suspensos. Obviamente, Tite não quer que isso ocorra, mas se a Seleção recuperar o bom futebol de antes, ele já estará satisfeito.