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Sonho era ser jogador de futebol, mas, por ironia do destino, virou massagista e é um dos mais respeitados na Paraíba

Zominha: 35 anos de dedicação ao Botafogo

publicado: 27/12/2021 09h04, última modificação: 27/12/2021 09h05
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Zominha com o seu equipamento de trabalho em plena pandemia dando assistência aos jogadores de seu querido e amado clube. Foto: Guilherme Drovas/Botafogo

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por Fabiano Sousa*

Eles são personagens do mundo do futebol que muitas vezes não participam diretamente do espetáculo, passam despercebidos... Certamente você já ouviu falar em frases famosas sobre esse esporte apaixonante como “Não é apenas futebol” ou “O futebol transcende as quatro linhas”. É justamente fora delas que brilham umas das profissões mais importantes do futebol, a do massagista.

No Brasil, muitos desses profissionais consolidam histórias que vão além das quatro linhas. Em determinadas situações eles constroem uma relação não apenas profissional, mas emotiva, capaz de torná-los uma das figuras mais emblemáticas do meio futebolístico. Chegam até se tornarem ídolos de um clube, sem nunca sequer ter feito um gol, no entanto, são esses personagens que vivem o dia a dia dos bastidores, ao mesmo tempo em que são patrimônios folclóricos de um clube e da própria história do futebol brasileiro.

Na Paraíba não é diferente, grandes nomes já têm sua história consolidada no futebol paraibano, entre eles, Ermírio de Sousa Lima Filho, 61 anos, sendo 43 deles dedicados à profissão. Chamado carinhosamente no mudo do futebol como “Zominha”, ele está há 35 anos no Botafogo e tem uma trajetória vitoriosa. Já viveu glórias e fracassos, construiu amizades, histórias inusitadas e é um personagem respeitado por jogadores e comissão técnica, amado pelo torcedor do alvinegro da estrela vermelha.

Curiosamente Zominha começou a sua história no futebol, em Campina Grande, sua terra natal. No início da década de 70, quando, ainda na adolescência, como a maioria dos jovens, sonhava em ser jogador de futebol. Chegou até a jogar, à época nas categorias de base do Campinense, mas não foi muito longe. Percebeu que não teria talento para seguir na carreira, porém, sempre almejava o desejo de viver a vida dentro do mundo futebolístico.

Foi em 1978 que surgiu a primeira oportunidade de trabalhar como massagista no próprio Campinense, momento que Zominha lembra com nostalgia, pois na época iniciava a trajetória de uma carreira que o faz ser o profissional com mais tempo ainda em atividade no futebol paraibano.

“Foram momentos inesquecíveis. Na minha adolescência jogava no time amador, o Rio Negro Futebol Clube, do bairro do José Pinheiro, clube amador que pertencia a Capilé hoje cantor e compositor. Depois fui jogar nas categorias de base do Campinense. Não tinha talento (risos). Não demorei muito tempo e nesse mesmo período acabei me casando. As precárias condições financeiras me forçaram a abandonar o futebol e buscar outros rumos”, comentou Zominha.

Mesmo assim, o destino estava traçado para ele retornar ao futebol. No pouco tempo que passou fez boas amizades, uma delas foi com Adalberto Lima (In Memorian), então massagista do Campinense. Foi ele que em 1978 deu a primeira oportunidade para Zominha iniciar os passos na profissão de massagista.

“Nessa época já tinha casado e minha situação financeira era difícil, já que existiam poucas oportunidades de emprego. Até que Adalberto Lima me convidou para ajudá-lo no clube. Sou eternamente grato, pois me deu a primeira oportunidade de emprego e ajudou a iniciar a minha profissão que escolhi por necessidade. Com o tempo foi se tornando paixão e hoje o sentimento é de amor pelo que faço”, confessou.

Adalberto Lima também foi personagem de um outro momento marcante na carreira de Zominha. Ao lado dele, Zominha conquistou seus primeiros títulos como profissional, nas temporadas 78 e 79 e encerrou o seu ciclo em 1983, no Campinense. Ele deixava o rubro-negro de Campina Grande e migrava para outro estado, agora no Capela Esporte Clube–AL, onde lá trabalhou nos anos de1984 e 1985. No ano seguinte, começou a sua afirmação na história do futebol do estado, quando ingressou no Botafogo.

História no Belo começou no ano de 86, indicado por Adalberto Lima

Zominha tem no seu currículo 17 títulos e já viajou por várias cidades do Brasil e do exterior, a serviço do Botafogo. Foto: Guilherme Drovas/Botofogo

Era 1986, ano de Copa do Mundo, os holofotes estavam voltados para as figuras principais do futebol, o jogador. Naquele ano, Zominha iniciava a sua história como profissional no Botafogo. Lembra do amigo massagista Adalberto Lima? Novamente por intermédio dele que Zominha chegou ao clube da Maravilha Contorno e, desta vez, num momento inusitado que ele faz questão de relembrar.

“Adalberto Lima novamente tem culpa no cartório nessa história. Na época ele era muito amigo da ‘boleirada’ e gostava muito das farras. O telefone toca, do outro lado era Mauro Fernandes, na época iniciando sua carreira como treinador no Botafogo.

 “Zoma vou lhe trazer ao Botafogo para você dá um jeito em Lima. Ele tá dando muito trabalho, influenciando os meus jogadores a curtir as noitadas. No final das contas eu dei um jeito em Lima e ainda fui contratado pelo Botafogo”, brincou.

No Botafogo, Zominha já trabalha há 35 anos, que o faz ser o profissional com mais tempo ainda em atividade no futebol da Paraíba. O homem responsável pelas massagens é hoje uma das figuras mais respeitadas dentro do clube, tanto por ex e atuais jogadores, comissão técnica e torcida. É tanto carinho que ele já pode até ser considerado como patrimônio do clube.

Por todos esses anos, vivendo nos bastidores do futebol, Zominha faz uma avaliação dos trabalhos profissionais do passado comparados aos dias atuais. Segundo ele, assim como outros segmentos, é preciso o massagista se adequar às qualificações exigidas no mercado de trabalho.

“É preciso estar capacitado para realizar um bom trabalho, ter conhecimento sobre o futebol, buscar novas técnicas, embora hoje o massagista trabalhe muito menos que no passado. Antes, ele fazia de tudo, mas com a chegada do fisioterapeuta o trabalho diminuiu. No próprio Botafogo acompanho as condições físicas dos atletas nos treinos. Quando necessita de uma situação mais detalhada, encaminho o jogador para o departamento médico. Antigamente eu era quem fazia todo esse trabalho de recuperação dos jogadores’ afirmou.

Inevitavelmente que sendo um dos personagens do futebol do nosso estado, dificilmente Zominha não seria uma figura protagonista de situações hilárias envolvendo a rivalidade das torcidas paraibanas. É que no próprio estádio de futebol ele tem seu nome ovacionado pela torcida do Botafogo, inclusive, até nas redes sociais a torcida do Belo provoca os trezeanos afirmando que Zominha é maior que o “Galo”, considerando os números de títulos conquistados por ambos na Paraíba. Zominha diz respeitar a brincadeira, mas ao mesmo tempo ri da situação por ser verdadeira.

“Os torcedores do Botafogo brincam com essa comparação e até já espalharam cartazes na cidade com a minha foto exposta e a frase “ Zominha é maior que o Treze”. Mas realmente eu tenho mais títulos que o Treze (risos). Só há um profissional da comissão técnica com mais títulos conquistados de que eu no futebol da Paraíba, o técnico Zé Lima que trabalhou no Campinense e tem 18 conquistas. Eu tenho 17 e o Treze 16”, brincou Zominha.

Zominha construiu uma relação emotiva com o Botafogo. Foi ao longo desse tempo que ele teve a oportunidade de construir amizades, viajar e conhecer cidades no Brasil e no exterior, sendo de fundamental importância na sua formação profissional e pessoal.

“Deixei amizades por todos os lugares onde viajei. Com todo respeito aos demais clubes, tudo que construí na minha vida foi através de Aldalberto Lima e do Botafogo. Adalberto me deu a primeira oportunidade de trabalho e o Botafogo ajudou a me formar como profissional e cidadão. Se o início de minha profissão foi difícil, hoje posso confidenciar que constituí uma família estruturada financeiramente. Sou pai, esposo, avô e um cidadão de bem. Tudo graças a Deus e a mais de quatro décadas dedicadas ao futebol, sendo 35 deles vividos no dia a dia no clube que estará sempre no meu coração, o Botafogo”, finalizou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 25 de dezembro de 2021