Cinco jovens do terceiro ano do Ensino Médio da Rede Estadual de Ensino, no Sertão paraibano, já sabem o poder que tem um planejamento. Foi através dessa estratégia que os alunos Breno Vale, Victor Pereira, Maria Clara, Adma Kelly e Valeska Alves conquistaram, no mês de agosto, a medalha de ouro na Olímpiada Internacional de Matemática Sem Fronteiras, tradicional concurso da cidade de Estrasbourg, na França.
Os estudantes da Escola Cidadã Integral Técnica Professora Margarida Remígio Loureiro, do município de Emas, Região Metropolitana de Patos, foram os únicos paraibanos premiados na competição.
O estudante Victor Pereira, conhecido como “a calculadora da turma”, explicou que “as questões da prova foram distribuídas de acordo com as habilidades específicas de cada um. Por exemplo, uma questão de geometria, nós direcionamos para a pessoa que tem mais facilidade com o assunto”.
A secundarista Adma Kelly disse que sua relação com a matemática sempre foi muito boa. “Eu domino muito bem a disciplina. Quando tenho dúvidas vou até a professora, e como ela ensina bem, eu aprendo rápido”, afirmou Adma. Por outro lado, a estudante Maria Clara fazia parte do grupo de pessoas que tem zero afinidade com as ciências exatas, por isso, se surpreendeu ao receber o resultado. ‘’Eu nunca tive uma paixão pela matemática, então, olhar para a competição e ver que eu saí vencedora junto com meus colegas, é gratificante’’, confessou ela.
A pequena cidade de Emas compreende pouco mais de 550 alunos, entre eles, Breno Vale, que foi um dos que se destacou na disciplina, motivado por seus próprios sonhos, no desejo de oferecer um futuro melhor para os pais, que não tiveram a mesma oportunidade. “Meu pai não chegou nem a fazer o fundamental, minha mãe não conseguiu concluir o médio. Mas eles batalham todos os dias para que eu possa finalizar os meus estudos”, ressaltou.
A estudante Valeska, além de ser ouro na matemática, ainda foi selecionada pelo programa “Conexão Mundo”, um programa de intercâmbio desenvolvido e executado pelo Governo da Paraíba, que já enviou 300 alunos ao exterior, desde que começaram as etapas de seleção no ano passado.
Hoje, ela vive na Inglaterra, e conta que “os estudos deram a ela a oportunidade de ganhar não só uma, mas duas medalhas de ouro, na etapa regional e nacional”, respectivamente. “Além de estar tendo a experiência de viver um intercâmbio no Reino Unido, que sempre foi um sonho”.
De acordo com a professora de matemática e responsável pelo grupo de alunos, Francisca Loureiro, “esse é o resultado de um trabalho contínuo feito em sala de aula. Usando o método tradicional de ensino, mas inovando quando necessário”, destacou a professora.
Índice de analfabetismo
Infelizmente, o exemplo dos cinco jovens é um ponto fora da curva ainda na realidade educacional de Emas. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de analfabetismo na cidade de Emas é alto. Das pessoas acima dos 60 anos, 64% dessa faixa etária é considerada analfabeta, segundo a pesquisa. Os adultos entre 24 e 39 anos são 24%, e a realidade dos jovens, de 15 anos pra cima, que o município vem tentando reverter, ainda possui uma taxa de mais de 30% inserida nesse contexto do analfabetismo.
De acordo com o censo 2022, a cidade de Emas perdeu 9% de seu índice populacional, que hoje está em pouco mais de três mil habitantes. Esse número impacta no repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que, consequentemente, irá afetar também os valores destinados à educação na cidade. Já os recursos do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização de Profissionais da Educação) vai injetar, este ano, mais R$ 3 milhões no município de Emas, informou a Secretaria Municipal da Educação.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 1 de setembro de 2023.