O município de Areia, localizado no Brejo paraibano, é a primeira cidade a receber a Rota Cultural Caminhos do Frio 2024, de amanhã ao dia 7 de julho. O tema da edição deste ano do evento é o Movimento Armorial, legado deixado pelo escritor Ariano Suassuna, que prega como missão a valorização da cultura popular nordestina. A identidade dessa tradição artística poderá ser observada nos casarões históricos, restaurantes, pousadas e pequenos detalhes encontrados pelos visitantes do Caminhos do Frio em Areia.
A abertura oficial do evento acontece às 19h de amanhã, na Praça Pedro Américo. A rota ainda passará por Pilões (8 a 14 de julho), Matinhas (15 a 21 de julho), Solânea (22 a 28 de julho), Serraria (29 de julho a 4 de agosto), Borborema (5 a 11 de agosto), Remígio (12 a 18 de agosto), Bananeiras (19 a 25 de agosto), Alagoa Grande (26 de agosto a 1o de setembro) e Alagoa Nova (2 a 8 de setembro).
Arte, lazer e desenvolvimento
De acordo com o secretário de Cultura e Turismo de Areia, Rinaldo Bandeira, a organização do Caminhos do Frio estima receber, nos sete dias de programação na cidade, mais de 40 mil pessoas. “É uma responsabilidade, mas também uma alegria ser a primeira cidade a receber a rota mais charmosa do Brasil. Estamos lisonjeados em mostrar a riqueza cultural da ‘capital da cachaça’, por meio de seus pontos turísticos, como os engenhos, casarões históricos, o Teatro Minerva — o primeiro da Paraíba —, além de ser a cidade de filhos ilustres, como [o escritor, poeta e pintor] Pedro Américo”, afirma Rinaldo.
Entre as novidades do evento para este ano, será lançado um novo equipamento turístico no distrito da Usina Santa Maria. “Foi preparada uma galeria a céu aberto, em que as fachadas das casas da comunidade foram pintadas, homenageando diferentes tipos de flores. Ou seja, Areia tem atrativos naturais em sua essência cultural”, destaca o secretário, lembrando que outro destaque da programação local é a Rota das Flores, integrando a cidade a Pilões e Solânea. “Em Areia, o faturamento aumentou 70% após o lançamento dessa rota turística, tanto é que ganhamos reconhecimento como a ‘cidade das flores’”, ressalta.
Segundo Jaime Souza, presidente do Fórum de Turismo Sustentável do Brejo Paraibano, o apoio da iniciativa privada, em parceria com a Associação de Turismo Rural e Cultural de Areia (Atura), tem sido fundamental para impulsionar o Caminhos do Frio. “O roteiro turístico mais integrado do planeta busca promover não só o turismo e a cultura local, mas também criar oportunidades de geração de emprego e renda”, frisa.
Jaime salienta, ainda, que outro forte apelo da iniciativa é a multi-identidade cultural das cidades do Brejo que fazem parte da rota — qualidade que se percebe, por exemplo, na variedade das apresentações musicais de sua programação. “Cada cidade tem suas particularidades. Remígio, por exemplo, tem uma cultura voltada à MPB; tanto é que já trouxe Oswaldo Montenegro e, neste ano, vai trazer Vanessa da Mata. Já Pilões, por exemplo, prefere o forró raiz, tendo como atração principal Flávio José”, pontua.
Programação reúne teatro, música, cinema e gastronomia
A programação do Caminhos do Frio 2024 está repleta de roteiros turísticos, variedades gastronômicas, oficinas de audiovisual, capoeira e dança regional, além de espetáculos teatrais e shows com artistas de dentro e fora do estado.
Entre os destaques das atrações culturais em Areia, até a próxima quinta-feira (4), estão: os roteiros turísticos Caminhos do Engenho e Rota das Flores; o Festival Gastronômico, com aula-show do chef Tadeu Rena; e a oficina de sommelier de cachaça e vinho, realizada pelo Serviço de Aprendizagem Rural (Senar). Ao longo da semana, haverá também capacitações para equipamentos turísticos e empreendimentos ligados à economia do município.
Para a sexta-feira (5), está programada uma palestra sobre empreendedorismo feminino em gestão de empreendimentos rurais, ministrada pelo Senar, das 13h às 16h, na escola Júlia Verônica. “O empreendedorismo feminino no Brejo é muito forte. Inspirando-se no trabalho de Maria Júlia [Baracho] e Luciana Balbino, iremos criar um dia de capacitação”, explica Jaime Souza, presidente do Fórum de Turismo Sustentável do Brejo Paraibano, referindo-se a duas premiadas empreendedoras de Areia — a primeira, responsável pelo Engenho Triunfo, que produz a cachaça homônima, e a segunda, proprietária do Restaurante Rural Vó Maria e da hospedaria Sítio Casa de Vó.
No mesmo dia, às 17h, o artista Alcides Prazeres realiza um show no Momento Cancioneiro, na Praça Pedro Américo. Conforme Rinaldo Bandeira, secretário de Cultura e Turismo da cidade, o espaço será reservado a performances de música e poesia. “No fim de cada tarde, acontecem apresentações, como chorinho, declamação de poesias e violeiros, valorizando a arte e a cultura local”, descreve. Já no palco do Calçadão João Cardoso, às 23h, é a vez de a banda de forró Os 3 do Nordeste animar o público do evento.
No sábado (6), ocorre a 3a Expedição dos Engenhos, às 9h, a partir do Posto Monte Sinai. O Teatro Minerva, por sua vez, sediará, das 13h às 17h, a mostra de filmes Cinema com Rapadura. Entre as atrações musicais do dia, que se apresentam a partir das 21h, está a cantora Kátia Cilene. Por fim, no domingo (7), último dia da programação em Areia, será realizada a trilha ecológica Caminhos do Frio, às 8h, e, para mais tarde, às 10h, está prevista a primeira cavalgada Frio pelo Caminho.
Postura revolucionária e abolicionista marca a história areiense
- O Teatro Minerva, o primeiro da Paraíba, sediará uma mostra de filmes como parte do festival | Foto: Divulgação/Prefeitura Municipal de Areia
Antiga Vila Real do Brejo d’Areia, a cidade de Areia surgiu em meados do século 17 e teve origem a partir de um ponto de parada para tropeiros. O lugar era estratégico para o descanso desses trabalhadores e, por muito tempo, Vila Real do Brejo d’Areia esteve subordinada à Vila de Monte-Mor (Mamanguape). Em 1815, o território foi desmembrado e, em 1846, elevado à condição de cidade.
Ao longo do tempo, o povo areiense deixou marcas na história brasileira. Ainda no século 19, o município se envolveu em episódios nacionais importantes: em 1817, aflorou sua postura revolucionária e aderiu ao movimento separatista de Pernambuco; em 1824, contribuiu com a Confederação do Equador, mobilização nordestina de combate à autoridade de Dom Pedro I, em favor do regime republicano; e, em 1873, a população da cidade ainda participou ativamente da Revolta do Quebra-Quilos, quando cidades e estados do Nordeste reagiram contra a padronização obrigatória do sistema de pesos e medidas no país.
Areia também se destacou no período das campanhas abolicionistas, tendo sido a segunda cidade brasileira — e a primeira da Paraíba — a libertar escravizados, 10 dias antes da proclamação da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.
Somando mais de 20 engenhos, a economia de Areia é baseada na agricultura, sobretudo nos derivados da cana-de-açúcar, como o mel, a rapadura e a cachaça — esta última, um dos produtos mais populares do município, nacionalmente consagrado por sua tradição na área.
No topo da Serra da Borborema, a mais de 600 m de altitude, Areia apresenta temperatura amena ao longo de todo o ano, mas, no inverno, os termômetros caem para menos de 15 ºC, justificando outra famosa alcunha da cidade: “a Suíça paraibana”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de junho de 2024.
