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vítima de feminicídio

Ato em memória de Aryane Thaís reúne autoridades na capital

publicado: 16/04/2025 09h37, última modificação: 16/04/2025 09h37
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Evento homenageou a mãe da jovem, que, após a morte de sua filha, fundou o Grupo Mães na Dor | Foto: Roberto Guedes - Foto:

por Samantha Pimental*

Uma homenagem solene realizada, ontem pela manhã, no Banco Vermelho da Praça da Família, no Parque Solon de Lucena, em João Pessoa, relembrou os 15 anos do assassinato de Aryane Thaís, vítima de feminicídio aos 21 anos. A atividade foi promovida pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana (Semdh), como uma forma de honrar a memória de Aryane e de reforçar a importância do combate à violência contra a mulher, que requer o engajamento de toda a sociedade.

A jovem, que estava grávida, foi encontrada morta, às margens da BR-230, no dia 15 de abril de 2010. Acusado pelo crime, o pai da criança, Luiz Paes de Araújo Neto, foi condenado a 17 anos de prisão, cumprindo apenas quatro em regime fechado. Por causa desse acontecimento, o Governo da Paraíba implantou, em 2011, a Casa de Abrigo Aryane Thaís, serviço gerido pela Semdh que garante abrigo sigiloso e assistência psicológica, jurídica e social para vítimas de agressões graves de gênero.

Durante a solenidade, a titular da Semdh, Lídia Moura, destacou a relevância desse equipamento, acionado a partir das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams) e da Rede de Proteção do Estado. “É um importante instrumento, que recebe mulheres vítimas de violência mais severa, que sofreram tentativa de feminicídio ou que estão sob ameaça. Dado esse risco, elas são colocadas nessa casa, com filhos de até 16 anos, e têm assistência de psicólogas, assistentes sociais, advogados e equipes de Enfermagem, além de arte-educadoras, e o Estado responsabiliza-se para que as crianças não tenham prejuízo na escola”, explicou a secretária, detalhando que as mulheres permanecem no abrigo por até seis meses, período durante o qual elabora-se um plano, junto a cada uma delas, para que possam retomar suas vidas dali em diante. Desde sua abertura, a Casa de Abrigo Aryane Thaís já acolheu 755 pessoas — sendo 294 mulheres e 461 crianças e adolescentes.

Entidade de amparo

O evento no Parque Solon de Lucena não prestou tributo apenas à jovem, mas também à sua mãe, a enfermeira Hipernestre Carneiro, que esteve presente na ocasião para falar sobre a atuação do Grupo Mães na Dor (GMD), instituição fundada por ela mesma, após o assassinato da filha, para amparar mulheres que perderam seus filhos para a violência. “Gostaria de agradecer à sociedade; às secretarias das Mulheres, tanto do Estado como da Prefeitura; às mulheres guerreiras que se juntaram a mim; e à população, porque troquei o meu luto pela luta. São 15 anos de muita saudade, muito sofrimento, e não vou parar de lutar, pelas outras e por mim”, afirmou Hipernestre, lamentando, contudo, o que apontou ser  impunidade no caso Aryane: “O algoz da minha filha só passou quatro anos na prisão”.

Para Lídia Moura, é preciso que a sociedade paraibana, que tanto se comoveu e se mobilizou à época do assassinato, auxilie o Estado no combate aos crimes contra mulheres, fazendo denúncias e evitando naturalizar agressões de gênero. “Enquanto tivermos os níveis de violência que temos em nosso país, não seremos uma sociedade civilizada. Esse é um momento de memória, aqui, no Banco Vermelho, que simboliza a luta contra o feminicídio”, salientou a secretária, referindo-se à estrutura, implantada pelo Instituto Banco Vermelho (IBV), para conscientizar e orientar a população sobre o tema.

“Cada ato desse, embora doloroso, é necessário para chamar a atenção da sociedade, porque, embora tenhamos avanços, ainda temos muito a avançar. Temos uma impunidade estrutural em relação às mulheres, e os índices estão aí para todos verem; vivemos em uma cultura permeada pela violência”, acrescentou o promotor de Justiça David Lopes, que também esteve presente na homenagem, ao lado de autoridades como a secretária-executiva de Políticas Públicas para as Mulheres de João Pessoa, Juliana Monteiro Dantas; a presidente da Comissão da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Brasil na Paraíba (OAB-PB), Raissa Helena; e a delegada Cíntia Menezes, que representou as Deams do estado.

Ao fim da atividade, os participantes plantaram uma muda de ipê no parque, ato simbólico em memória de Aryane e para o florescimento de uma sociedade mais segura para as mulheres.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 16 de abril de 2025.