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Bustos, estátuas e outras homenagens a nomes importantes da Paraíba são alvos constantes de vândalos e ladrões

publicado: 23/05/2022 09h32, última modificação: 23/05/2022 09h32
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Foto: Marcos Russo

por Ítalo Arruda*

Estátuas, bustos e monumentos que ilustram personagens importantes da história e da cultura da Paraíba encontram-se em estado de deterioração e abandono. Além má conservação, as esculturas são alvo constante de criminosos, que depredam estes patrimônios e, inclusive, furtam algumas peças, causando prejuízos à população e aos cofres públicos.

Na última semana, por exemplo, a estátua de Jackson do Pandeiro, localizada na Praça Rio Branco, no Centro Histórico de João Pessoa, teve uma das mãos e o pandeiro – marca registrada do cantor e compositor – furtados. A obra, assinada pelo artista plástico Jurandir Maciel, já foi alvo de vandalismo há alguns anos e, no fim do mês passado, havia sido revitalizada e reinstalada pela Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope). Em setembro de 2022, a escultura toda feita em bronze completará 10 anos.

Esta cena, no entanto, não é a única naquelas imediações da região central. Infelizmente, a poucos metros de onde encontra-se a estátua do instrumentista, outras obras também sucumbem ao descaso, à negligência e à falta de manutenção, como é o caso da escultura do compositor pessoense Livardo Alves, instalada no Ponto de Cem Réis. Por diversas vezes, a escultura que homenageia o compositor há mais de 12 anos sofreu ações criminosas. Entre os casos registrados estão o furto dos óculos e a destruição de uma parte do banco no qual a imagem em bronze está fincada. Quem passa pelo local, percebe a situação de abandono e descuido com o monumento.

De acordo com o escritor e historiador paraibano José Octávio de Arruda Mello, as estátuas, além de representarem personalidades e momentos que fizeram parte da história do município de João Pessoa, são elementos que ajudam na reconstituição e na rememoração desses acontecimentos.

“São indicações e pistas que possibilitam a reconstrução da nossa história. Quando se comete este tipo de crime, como a depredação, não é só a obra que é afetada, mas o que está por trás dela”, ressalta José Octávio, destacando que a desvalorização desses bens é um problema que dá vazão “a um processo de descaracterização da cidade”.

Figuras ilustres, mas esquecidas 

Próximo da escultura que retrata Livardo – um dos frequentadores mais assíduos que o Ponto de Cem Réis já teve –, também está fixado o busto de Duque de Caxias, rodeado pela ferrugem e pelo excesso de cartazes publicitários, e de André Vidal de Negreiros, que, embora esteja mais conservado, também possui marcas de vandalismo.

Ainda no entorno da Rua Duque de Caxias, o busto do poeta Augusto dos Anjos ilustra a entrada da galeria que leva o seu nome. Erguido sobre uma pedra, o monumento em homenagem ao patrono da cadeira nº 1 da Academia Paraibana de Letras (APL) foi recuado, há seis anos, do portão principal para o final do corredor que dá acesso às lojas instaladas na galeria.

Apesar da revitalização promovida pela Prefeitura de João Pessoa, em 2016, o busto de Augusto dos Anjos está bastante deteriorado, com danificações em uma das orelhas, além de outros desgastes na pintura, que refletem a falta de cuidado e atenção não só dos órgãos públicos mas também de uma parte da população, que acaba provocando a depredação destas peças.

Segundo José Octávio, por estarem localizadas em locais públicos e de fácil acesso, as esculturas viram alvo fácil dos vândalos. “O que está faltando é educação e consciência das pessoas que picham e depredam esses monumentos”, frisa o historiador, acrescentando que os ataques não se resumem às estatuetas e aos bustos espalhados entre praças e avenidas, “mas a outros monumentos históricos que resistem às ruínas”.

Inventário dos monumentos em JP

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep) está realizando um inventário com a catalogação das artes públicas da capital.

A restauradora do órgão, Piedade Farias, que faz a curadoria e o levantamento das peças, afirma que o estudo aponta, também, o estado de conservação de cada uma delas, e que, em breve, o material estará disponível à população.

Preservação

João Pessoa tem, aproximadamente, 60 esculturas entre estátuas, bustos, efígies e outras tipologias esculpidos em cobre, aço, pedra, além de outros materiais, em homenagem a figuras humanas que têm alguma ligação com a história da Paraíba. A informação é da Coordenadoria do Patrimônio Cultural do município (Copac-JP), que atua na preservação desses equipamentos.

Em nota, o órgão diz que, constantemente, uma equipe faz a fiscalização desses bens, “promovendo a conscientização e a educação patrimonial”, a fim de mostrar à sociedade “que o que está sendo degradado é a nossa história”. Além disso, de acordo com a Copac-JP, os casos de vandalismo são comunicados e encaminhados à Secretaria de Segurança Urbana e Cidadania (Semusb) da capital para as devidas providências.

A maleta de Caixa D’Água sumiu

“Eu tinha nas minhas mãos somente sonhos”. Este é um dos versos escritos pelo poeta Caixa D’Água, como era conhecido o paraibano Manoel José de Lima, no poema “Caminhos perdidos”. Entretanto, na estátua que está fincada na Praça Aristides Lobo, no Centro Histórico de João Pessoa, além dos sonhos, o poeta popular carregava uma maleta – furtada por vândalos há seis anos.

Além da mala, fiel companheira de Caixa D’Água, a placa de bronze com a identificação da obra e informações sobre a vida do paraibano também foi, posteriormente, arrancada do local. A reportagem solicitou à Copac-JP informações sobre a reparação do monumento danificado, mas até o fechamento desta edição não obteve respostas.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 22 de maio de 2022