Cabelo com brilhantina, duas lapadas de pinga, pente no bolso, no corpo muita ginga, medalhão no pescoço, cheirando a Mistral...” É ao som dos versos de Antônio Oliveira que João Pessoa entra no clima do bloco Cafuçu, que hoje toma as ruas do Centro Histórico. Tradicional no calendário carnavalesco da cidade, a festa começa às 20h, na Praça Rio Branco, com Dj Brazinha, Caronas do Opala, Orquestra Porta do Sol e Maestro Geimison.
O bloco celebra a estética brega em sua essência, reunindo foliões fantasiados com roupas extravagantes, estampas chamativas e muito brilho. Conhecido por seu clima descontraído e democrático, o Cafuçu mantém viva a tradição de um Carnaval autêntico e popular. Além das atrações principais, o bloco também terá a animação de 14 orquestras, da bateria da Escola de Samba Unidos do Roger e da Ala Ursa Urso Amigo Batucada. O Cafuçu, que chega aos 36 anos nesta edição, homenageia Jocemar Chaves, carnavalesco e figura emblemática do Carnaval pessoense.
Há duas décadas, Ana Lúcia Collyer marca presença no bloco Cafuçu, que, segundo ela, é uma das festas mais irreverentes e nostálgicas da folia de Momo na capital. Ela explica que a sua motivação para ir todos os anos é o fato de o bloco ter um ar retrô e reunir famílias. “Isso, para mim, resgata a essência do Carnaval de antigamente”, salienta.
Ana relembra fatos marcantes, ao longo de tantas edições. “O que mais me marcou aconteceu em 2008, quando as saudosas bandinhas de orquestra de frevo retornaram à programação. É algo até raro, em meio a tanto trio elétrico”, diz. Mas, segundo ela, as fantasias exageradas é que fazem um bom cafuçu. “Minhas roupas são inspiradas nos modelos da ‘alta costura’”, brinca. “Tudo é escolhido com muito glamour e exagero, como manda o espírito do bloco”.
Para Aline Karla Barbosa, o Cafuçu é o melhor bloco de João Pessoa. “Apesar de os outros também serem ótimos, ele se destaca porque é um ambiente tranquilo e por resgatar o Carnaval raiz”, argumenta. Da mesma forma que Ana, o que mais a motiva a participar do bloco é a sua essência tradicional, com orquestras de frevo e marchinhas. “O clima nostálgico e autêntico me faz ser apaixonada pelo bloco”, conta.
Quando se trata de fantasia, ela diz que já teve ocasião em que mandou uma costureira confeccionar, mas, neste ano, decidiu comprar roupas em lojas. Ela e Ana saíram em busca dos modelos mais bregas e extravagantes, com estampas floridas e peças chamativas. “Quanto mais espalhafatoso, melhor. No Cafuçu, a roupa precisa chamar a atenção”, acrescenta.
Desfile
O desfile segue pelas ruas do centro da cidade, a partir dos polos de concentração. Começa pela Visconde de Pelotas, passa pela Praça do Bispo e segue em direção à Rua Duque de Caxias. Em seguida, os foliões acessam a Avenida General Osório e descem pelo beco do Edifício 18 Andares, em direção à Rua da Areia, até se dispersarem na Praça Antenor Navarro.
História
O bloco Cafuçu foi criado em 1989, com a retomada do Carnaval de rua em João Pessoa — até a segunda metade da década de 1980, o festejo viveu um período de declínio na capital, sem o brilho dos carnavais que marcaram as festividades em clubes e ruas, nas décadas anteriores.
Com o ressurgimento do movimento carnavalesco, a partir da criação do bloco Muriçocas do Miramar, um grupo de artistas de cinema, teatro, música e artes plásticas resolveu criar o seu bloco, inspirados numa expressão muito usada por uma de suas fundadoras, a atriz Adalice Costa (in memoriam). E assim nasceu o Cafuçu.
Ao longo de 36 anos, o bloco realizou ações inovadoras, que resultaram em sua grande aceitação pelo público em João Pessoa, com repercussão dentro e fora do estado da Paraíba. Uma delas foi a transferência do desfile da orla para o Centro Histórico, resgatando a tradição do antigo “quartel-general” do Carnaval de rua da cidade. Além disso, os trios elétricos foram substituídos por orquestras de frevo, enquanto o repertório passou a incluir músicas consideradas “bregas”, o que não apenas diferenciou o bloco, mas aumentou a sua popularidade.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 28 de fevereiro de 2025.