por Juliana Cavalcanti*
Desde o início da pandemia da Covid-19, em 2020, cresce o número de matrículas na rede municipal de ensino de alunos egressos de escolas particulares. Em 2021, a rede pública de João Pessoa registrou 10 mil alunos a mais no ensino infantil e fundamental, vindos de escolas privadas. A estimativa da Secretaria de Educação e Cultura de João Pessoa (Sedec) é de que esse número seja ainda maior em 2022 - o levantamento ainda não foi concluído, pois depende das escolas finalizarem seus bancos de dados.
A cidade de João Pessoa possui 100 unidades escolares e aproximadamente 1.600 professores efetivos. De acordo com a assessoria de comunicação da Sedec, mais de 70 mil alunos já estão matriculados para o ano letivo 2022. A rede municipal de ensino da capital iniciou as suas atividades, ontem, nas modalidades presencial e remota, dependendo do nível escolar.
Segundo a diretora da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Monteiro Lobato, localizada no bairro Costa e Silva, Ana Cesariana Oliveira, a pandemia provocou uma queda considerável nos empregos e muitos tiveram que ficar em casa, dificultando as condições econômicas. “Nessa escola, há pessoas com nível socioeconômico de baixa renda e de classe média. Entre as pessoas de classe média, os salários foram reduzidos, outras perderam o emprego e muitas tiveram que ficar em casa. Isso tudo contribuiu para que os pais tirassem seus filhos das escolas particulares e colocassem nas municipais”, justificou.
A escola possui 439 alunos matriculados para as turmas da pré-escola até o 5º ano e em 2022 recebe novos matriculados em todas as séries. Dos novos estudantes, aproximadamente 10% são egressos do ensino privado. Ela destaca que, além da mensalidade, a escola privada apresenta despesas extras com material escolar e vários eventos ao longo do ano. “Tudo isso torna a situação complicada, principalmente porque muitos pais não têm apenas um filho, geralmente são dois ou três”, completou.
Outro ponto citado por ela é que a escola pública, ao longo dos anos, vem aperfeiçoando o ensino devido aos projetos e programas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que melhoram a qualidade escolar.
Já a gestora pedagógica da Escola Municipal de Ensino Fundamental Duarte da Silveira, localizada no mesmo bairro, Marqueline de Andrade, ressalta que a maioria dos novos alunos era matriculada em outras escolas da rede municipal, mas também cresce a procura dos estudantes transferidos dos colégios particulares.
A escola tem 516 alunos matriculados para 2022, em todas as turmas do Fundamental II (6º ao 9º ano) e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Conforme a diretora, com o retorno das aulas presenciais, a expectativa é que as turmas de EJA sejam as mais procuradas. No entanto, até agora a maior parte dos novatos é do sexto ano.
Ela adianta que mais de 90% são alunos da rede municipal vindos preferencialmente das escolas Ernany Sátiro e Monteiro Lobato, que ficam nas proximidades e contemplam até o quinto ano do Ensino Fundamental I. Nos anos 2020 e 2021, a procura de alunos egressos do ensino privado foi mais expressiva durante o período em que o ensino remoto foi predominante.
“Quando começou a pandemia, tivemos uma grande procura de alunos de escolas particulares e as aulas foram remotas. Em 2021, foi adotado o ensino híbrido (presencial e remoto). Nesses casos, não houve muita dificuldade para os alunos da rede privada se adaptarem, já que ficaram mais tempo em casa”, observou.
Marqueline lembra que nos anos anteriores à pandemia, quando os pais ficavam desempregados e sem condições de manter os filhos nas escolas particulares, a procura pelo ensino municipal aumentava, mas sem grandes dificuldades de adaptação dos estudantes. “Temos professores bastante qualificados no município. Por isso que os alunos novatos na rede pública não percebem maiores diferenças. Antigamente, as escolas particulares tinham mais estrutura, mas hoje as escolas do município e do Estado estão recebendo muitos investimentos em tecnologia”, compara.
Mais alunos com necessidades especiais
Segundo a gestora da Escola Duarte da Silveira, Marqueli de Andrade, a quantidade atual de profissionais é suficiente para atender à demanda, pois a escola recebe a quantidade limite de alunos para que o espaço e os educadores consigam trabalhar da melhor forma.
Já Ana Oliveira conta que uma nova turma foi aberta e por isso encaminharam um pedido à Secretaria de Educação pedindo um novo professor. Além disso, também cresceu a quantidade de estudantes com necessidades especiais, o que gerou novos pedidos para a contratação de cuidadores para esse público.
Aulas presenciais
De acordo com a Sedec, nos Centros de Referência de Educação Infantil (Creis), as ações pedagógicas são presenciais. Já no Ensino Fundamental I e II, as atividades avançam de forma gradual para o modelo presencial, até alcançar 100% dos estudantes, meta prevista para março.
Nos Creis, o retorno presencial considera a faixa etária, havendo uma alternância de dias para o acolhimento das crianças, por etapas. Nessa primeira semana, os espaços recebem as crianças dos Berçários I e II e na próxima segunda (14) e terça-feira (15), os Maternais I e II serão incluídos. A partir do próximo dia 16, será a vez de receber as crianças do Pré-Escolar I e II. Todas as aulas funcionam em tempo integral, das 7h às 17h, e com a oferta de cinco refeições diárias.
O Ensino Fundamental, por sua vez, adota o atendimento remoto entre os dias 9 e 11 de fevereiro. Nesse período, os professores da pré-escola deverão desenvolver atividades de interação com os responsáveis das crianças e apresentar atividades lúdicas para serem feitas em casa.
A secretaria orientou que os educadores planejem atividades para os estudantes que ficarão em casa, com aulas remotas, podendo utilizar estratégias como formação dos grupos de WhatsApp, abertura de salas no Google Meet, uso das salas Google e outras formas de interação.
Presencialmente parcial
Entre os dias 14 e 25 de fevereiro, a rede municipal de ensino passa a adotar o modelo “presencialmente parcial”, quando as turmas de pré-escola e dos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental recebem grupos de 50% de estudantes. A exceção fica para a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Para a nova modalidade, a secretaria determina que as instituições de ensino sigam o horário escolar previamente organizado, definido para cada componente curricular, para o ano letivo de 2022, garantindo, dessa forma, os dias reservados para horários de departamento/formação.
Nesse sentido, algumas ações podem ser priorizadas com o grupo presencial, já que a equipe gestora, juntamente com os especialistas e corpo docente, podem fazer um levantamento do número de alunos ainda não imunizados. Inclusive, a orientação da direção dessas escolas é que as famílias não enviem para o colégio o aluno que esteja com sintomas gripais, Covid-19 ou parentes adoecidos.
Nessa primeira semana, as escolas adotarão, via web, momentos de acolhimento e recepção. A partir da próxima semana, aqueles que ficarão em casa, de acordo com o revezamento, receberão atividades para serem entregues posteriormente aos professores. Cada escola pode organizar a melhor maneira de fazer a divisão de seus alunos, basta que cada grupo tenha uma modalidade de aula em dias definidos.
Vacinação
De acordo com a Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), o passaporte de vacinação contra a Covid-19 dos alunos apenas será exigido quando a Prefeitura ampliar a oferta da vacinas para todos os matriculados, com exceção daqueles com contraindicação comprovada por laudo médico.
Segundo comunicado da Sedec, a presencialidade total se dará com o avanço da imunização, aproximando-se dos 100% dos matriculados. Dessa forma, a Secretaria Municipal de Saúde iniciou ontem a oferta de vacinas contra a Covid-19 para os alunos nas escolas da rede municipal, que segue até sexta-feira.
Protocolos de segurança
A Secretaria de Educação e Cultura, seguindo as orientações da Secretaria Municipal de Saúde, determinou que as escolas da rede reforcem a limpeza e higienização dos ambientes.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 10 de fevereiro de 2022