O acesso a serviços de internet, rádio e televisão é garantido por um sistema que envolve o uso de torres e antenas de telecomunicações, aparelhos já integrados à paisagem urbana. Somente neste mês, porém, os moradores da Região Metropolitana de João Pessoa presenciaram a queda de duas estruturas como essas. Um dos incidentes causou a suspensão do fornecimento de energia em bairros da capital paraibana e nos municípios de Bayeux e Cabedelo, enquanto outro levou à danificação de casas e ao ferimento de uma criança na cidade de Santa Rita. Os dois casos geram uma preocupação sobre a segurança desses equipamentos. Por isso, o Jornal A União conversou com especialistas na área para entender os fatores que podem causar tais acidentes e como é feita a fiscalização.
De acordo com o professor de Sistema de Telecomunicações do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Alfrêdo Gomes Neto, a instalação das torres de telecomunicações segue parâmetros que variam conforme o local da fixação, a altura, o material das torres e o peso que elas precisam suportar. Além disso, tais equipamentos precisam passar por manutenções preventivas e, se surgirem problemas, por manutenções de reparação. Caso esses processos sejam bem conduzidos, a tendência é de segurança.
“Possivelmente, uma torre metálica instalada na praia sofre um efeito maior de corrosão do que uma torre localizada em outra região mais afastada do litoral. Porém, a estrutura é projetada para suportar esse efeito da salinidade. Então, se ela foi devidamente instalada e se foi dada a devida manutenção, não terá problema”, garante o professor.
Nesse sentido, a queda dessas estruturas dificilmente é provocada por fenômenos meteorológicos habituais, como temporais ou ventanias, mesmo que eles tenham uma intensidade um pouco maior. “Tirando o caso de um vendaval extremo ou alguma coisa muito inesperada, os únicos fatores que poderiam derrubar uma torre dessas são a falta de manutenção ou o vandalismo”, defende Alfrêdo.
O segundo cenário explica o ocorrido no último dia 6, no bairro do Rangel, em João Pessoa, quando uma torre caída interrompeu o fornecimento de energia para 25 mil moradores da Região Metropolitana. É o que conta Valber Barbosa, subgerente de Fiscalização do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Paraíba (Crea-PB). “O que houve no Rangel foi a subtração de material da torre. Na instalação, a empresa tinha chumbado os parafusos, mas as porcas usadas para rosqueá-los foram furtadas, o que causou a queda”, relata.
Responsabilidades
A instalação e a manutenção de uma torre de telecomunicações são de responsabilidade da empresa detentora do equipamento, que nem sempre é a mesma que a utiliza para a transmissão de internet ou radiodifusão. Conforme ressalta Alfrêdo, é de interesse dessas empresas que a manutenção seja feita de forma correta, uma vez que o investimento é alto, e qualquer interrupção no funcionamento pode causar perdas financeiras.
"A estrutura é projetada para suportar o efeito da salinidade. Então, se ela foi devidamente instalada, não terá problema "
- Alfrêdo Gomes Neto
Já o profissional encarregado pela estrutura é um engenheiro, geralmente mecânico ou civil. Segundo o subgerente do Crea-PB, a atuação desse especialista faz parte de um sistema projetado para garantir a segurança dos aparelhos de telecomunicações, que vai desde a fabricação em um material adequado até a necessidade de aprovação do projeto de instalação junto ao conselho. “A gente subentende que, quando tem um profissional responsável pela montagem da antena em uma base, foi feito, antes, um projeto, seguindo todas as normas técnicas e garantindo que todas as decisões tomadas asseguram o bom andamento da instalação”, explica Valber.
Enquanto as empresas e os engenheiros respondem pela instalação e pela manutenção das torres e antenas, a fiscalização costuma ser feita por órgãos como o Crea-PB. De acordo com Valber, o conselho age quando há denúncias ou em fiscalizações por amostragem. O objetivo, em ambos os casos, não consiste em avaliar, passo a passo, todas as etapas do processo, mas em observar possíveis problemas, especialmente se houve alguma comunicação a respeito.
“A partir do momento em que um profissional fez o registro da sua responsabilidade, entende-se que ele está usando boas normas técnicas. Porém, se a gente detectar algum problema ou risco, nosso fiscal é orientado a alertar o Ministério Público, que, se possível, pode fazer até o embargo da estrutura”, detalha o subgerente do Crea-PB.
Recentemente, diversos bairros de JP ficaram sem energia devido à queda de um equipamento no bairro do Rangel
Como denunciar
Qualquer pessoa que observar ou suspeitar de um problema em uma torre ou em uma antena de telecomunicações pode denunciar ao Crea-PB, por meio da Ouvidoria da instituição. O telefone é 3533-2510. Também é possível registrar a denúncia no site do conselho, pelo endereço creapb.org.br/denuncia-online.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 24 de setembro de 2024.