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Famílias ocupam prédio na capital

publicado: 18/12/2024 09h10, última modificação: 20/12/2024 14h56
Centenas de pessoas estão alojadas no imóvel onde funcionava uma fundação de apoio à pesquisa da UFPB
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Segundo ocupantes, edificação está, há pelo menos seis anos, sem uso | Fotos: João Pedrosa
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Fotos: João Pedrosa
2024.12.17 Ocupalçao Nego Fuba © João Pedrosa (1).JPG
2024.12.17 Ocupalçao Nego Fuba © João Pedrosa (15).JPG

por Anderson Lima*

Na madrugada de ontem, cerca de 70 famílias engajadas no Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) ocuparam o antigo prédio da Fundação de Apoio à Pesquisa, Ensino e Extensão da Universidade Federal da Paraíba (Funape/UFPB), situado em frente à Praça Rio Branco, Centro de João Pessoa. Segundo os ocupantes, há pelo menos seis anos, o prédio está “abandonado e sem função social”.

De acordo com o coordenador nacional do MLB, João Batista, a escolha pela edificação foi baseada em alguns critérios, como tempo de abandono, condições físicas do local e possibilidade de negociação com os órgãos responsáveis. “Não ocupamos qualquer prédio. Buscamos locais que possam ser transformados em moradia social e que estejam há muito tempo sem uso. A ideia é pressionar para que o prédio cumpra sua função social”, afirmou.

"A gente precisa muito de um lugar para morar. Eu vivia de aluguel, mas o que ganho não dá nem para comer direito"
- Cícero da Silva

João Batista revelou que, aproximadamente, 70 famílias chegaram ao local, a maioria composta por trabalhadores informais, como diaristas e vendedores ambulantes, que não conseguem pagar aluguel em João Pessoa. “Temos pessoas que migraram de cidades próximas para trabalhar aqui, mas não conseguem se firmar. A maioria das famílias tem entre três e cinco filhos e vivem em situação de vulnerabilidade”.

Segundo os novos moradores do local, o prédio pertence à Universidade Federal da Paraíba, e o MLB já iniciou diálogo com a Reitoria. A organização foi chamada para conversar com representantes da universidade, entre elas a vice-reitora, Mônica Nóbrega. João Batista contou que o contato foi amigável e que Mônica Nóbrega havia se comprometido a levar a situação para discussão no âmbito da Reitoria. “A proposta é que o prédio seja reformado e transformado em moradia popular para as famílias que ocupam o espaço”, disse João.

Cícero da Silva, de 54 anos, um dos ocupantes do prédio na Praça Rio Branco, relatou que a ação representa uma esperança para quem não tem condições de pagar aluguel. “A gente precisa muito de um lugar para morar. Eu vivia de aluguel, mas o que ganho não dá nem para comer direito, quanto mais para pagar um lugar para morar. Por isso, estamos nessa luta”, frisou.

Natural de João Pessoa, Cícero está no prédio com sua filha e três netos. Ele contou que a única fonte de renda da família vem do trabalho informal. “Eu vendo carregadores de aparelho celular, fones de ouvido e picolé. Mesmo assim, o dinheiro não chega nem perto de um salário mínimo. Eu estava pegando o pouco que ganhava para pagar o aluguel, mas não sobrava para fazer feira ou sustentar as crianças”.

Com o fim do ano se aproximando, Cícero destacou a esperança de que a ocupação traga mudanças significativas para 2025. “A expectativa é grande. Estamos batalhando por um futuro melhor para nossas famílias. Queremos o básico: um lar, alimento na mesa, educação e lazer para as nossas crianças. É isso que importa”.

Universidade

Em nota, a UFPB explicou que está buscando solucionar a questão por meio do diálogo, em respeito a todos os envolvidos e também devido ao compromisso com o patrimônio institucional. Segundo a universidade, outras reuniões serão agendas com as famílias para, só então, a Reitoria se posicionar acerca do caso.

Saiba Mais
O movimento denominado de Nego Fuba é uma homenagem ao líder camponês João Alfredo Dias e reivindica moradia digna a todos, além de denunciar a especulação imobiliária na capital paraibana. De acordo com o coordenador nacional do MLB, João Batista, a luta pela reforma urbana é um dos principais objetivos do movimento, que busca dar uma função social a edifícios abandonados. Para ele, o objetivo principal é fazer uma crítica política e, ao mesmo tempo, reivindicar a moradia das pessoas. “Vivemos em um país com cerca de 11 milhões de prédios abandonados, enquanto o déficit habitacional atinge milhões de famílias. Precisamos adequar esses espaços para que se tornem moradia popular”, afirmou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 18 de dezembro de 2024.