Relatos de maus-tratos a animais têm ocupado os noticiários da Paraíba com frequência. Só no mês de julho, um homem foi indiciado por atropelar — intencionalmente — um cachorro, em Campina Grande; outro foi flagrado com 40 cães negligenciados em casa, na mesma cidade; e, em João Pessoa, as autoridades descobriram um canil clandestino, com 32 animais sem água e alimentação adequada. Esses são apenas os casos de maior repercussão. Foi-se o tempo, porém, em que esse tipo de crime ficaria impune; quem o comete pode ser preso e cumprir uma pena de dois a cinco anos, que pode ser ampliada se houver óbito do animal.
Para a delegada responsável pela Delegacia de Crimes Ambientais de Campina Grande, Ellen Maria, é perceptível o crescimento no registro de denúncias por parte da população. “Os maus-tratos contra animais sempre existiram em grande leva. Também há um aumento no número de animais, e as pessoas estão se encorajando a denunciar”, declarou a autoridade policial, acrescentando que todos os relatos são verificados, tanto aqueles realizados presencialmente, na delegacia, como os enviados por meio do Disque 197, da Polícia Civil da Paraíba (PCPB). “Alguns casos precisam de diligências preliminares e outros já viram inquérito, logo de início”, contou.
Na capital paraibana, além da Delegacia de Crimes Ambientais, a Secretaria de Cuidado e Proteção Animal também vem recebendo mais denúncias. De acordo com o chefe de Veterinária do Hospital do Pet, Jefferson Coutinho, o aplicativo João Pessoa na Palma da Mão contabiliza, mensalmente, de 300 a 400 relatos de maus-tratos. Todos eles, que podem ser feitos anonimamente, são apurados pelas equipes da Pasta e envolvem, ainda, veterinários do hospital municipal, já que esses profissionais acabam encarregando-se de cuidar de animais resgatados.
É o caso de parte dos 32 cães que foram recolhidos de um canil ilegal no bairro José Américo, no dia 28 de julho. Na ocasião, a instituição acolheu alguns deles, para o tratamento de problemas de saúde que apresentavam. O grupo era composto por cachorros das raças pit bull, border collie e pastor alemão, assim como outros sem raça definida, resultantes de cruzamentos feitos sem controle. Além das condições insalubres em que estavam, os animais viviam em uma situação de estresse, decorrente do atrito de suas diferentes personalidades, em um espaço de confinamento muito restrito.
Jefferson afirmou que, no momento, aguarda a determinação judicial sobre o destino dos cães, que podem ser devolvidos ao responsável ou destinados à adoção. “Caso a decisão seja favorável para a adoção, esses animais serão microchipados, castrados e, posteriormente, disponibilizados para novos tutores”.
Seres sencientes
Conforme detalhou a delegada Ellen Maria, muitas das denúncias de maus-tratos são acompanhadas de resgates, com o intuito de retirar os bichos daquela situação, enquanto outras motivam abordagens de instrução. “São casos nos quais a gente faz orientações para que os tutores ajustem suas condutas e tenham a oportunidade de mudar o manejo em relação àquele animal. A gente fica condicionado a fazer novas visitas e eles repassam informações, via contato direto com a delegacia, mostrando se estão, realmente, ajustando suas condutas”, detalhou.
Ainda de acordo com a policial, a maior parte das ocorrências notificadas à Delegacia de Crimes Ambientais de Campina Grande envolvem cães ou gatos. “São frequentes denúncias com relação a animais que estejam sendo agredidos ou negligenciados quanto à alimentação, ao abandono, a enfermidades ou do lado de fora do imóvel, sem receber qualquer assistência”, frisou.
Para Ellen, é comum que muitas pessoas enxerguem e tratem os bichos como se fossem objetos. “Os animais não são coisas. Eles são seres que sentem tudo, sencientes, e todos da sociedade têm o dever de protegê-los”, concluiu.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 05 de agosto de 2025.