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Artesanato

Mãos que geram beleza e renda

publicado: 22/01/2024 09h25, última modificação: 22/01/2024 09h25
Peças são o resultado do dom e da técnica aplicada por cada artesão, que criam desde artigos decorativos até brinquedos
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Foto: Ortilo Antônio
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Fabiano faz esculturas inspiradas no universo indígena - Foto: Arquivo pessoal
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Gizelda produz miniaturas em madeira, como móveis - Foto: Ortilo Antônio
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por Italo Arruda*

Independentemente de ser considerado um dom ou uma técnica, o artesanato é a materialização da criatividade e da habilidade que emanam, respectivamente, da imaginação e das mãos de quem o produz. Enquanto algumas pessoas têm um talento natural para criar belos artefatos em diferentes tipos de material, outras dão forma a belas peças artesanais a partir do aprendizado, da prática e do contato intenso com esse tipo de arte.

É o caso do artesão e artista plástico – como ele se autodeclara – Fabiano Quaresma, que produz esculturas em madeira, como máscaras indígenas e animais silvestres, de tamanhos e estilos distintos, há pelo menos duas décadas. Sem histórico de artesãos na família, Quaresma adquiriu a paixão pelo artesanato aos 18 anos, quando ainda era estudante e realizava pinturas a óleo sobre tela na escola.

A cultura dos povos originários e os elementos da natureza são, para ele, a principal inspiração dos seus trabalhos. Fabiano Quaresma busca imprimir em cada detalhe das obras esculpidas em madeira um pouco da sua ancestralidade. “Eu sempre fui ligado a essa questão, talvez, porque minha mãe é de uma cidade que, por muito tempo, em sua origem, foi habitada por indígenas”, disse ele, se referindo aos Bultrins, povos indígenas que habitaram o município de São Sebastião de Lagoa de Roça, no Agreste paraibano.

“A arte vai surgindo no momento. Eu busco ter uma ideia do que vou fazer, antes, claro, mas a peça vai ganhando formato, ali, na hora da produção mesmo”, revela o artesão, ressaltando que deixa a criatividade conduzir as mãos que, com ferramentas como estiletes, canivetes e afins, dão vida às belas obras artesanais que se transformaram na principal atividade laboral e, consequentemente, na principal fonte de renda.

Apesar de ser a madeira a principal tipologia do artesanato de Fabiano Quaresma, ele conta que começou esculpindo em casca de cajá, evoluindo para a argila e pedra-sabão, até chegar ao concreto e à madeira, sendo esses dois últimos a especialidade dos trabalhos desenvolvidos pelo artista plástico.

“Foi esse tipo de artesanato que me ajudou a me formar como pessoa. Praticar arte transforma o ser humano, e é preciso entender que não se trata de um dom e sim de dedicação. Se você se dedica ao que ama, você é bem sucedido naquilo que faz”, afirma Quaresma, que, aos 43 anos, se declara apaixonado por levar às casas das pessoas um pouco da sua criatividade.

Objetos em miniaturas são feitos com madeira 

A pessoense Gizelda Peixoto e a lagoa-sequense Tatiana Santos também utilizam a madeira para produzir arte e encantar quem aprecia o artesanato. Este, contudo, não é o único ponto em comum entre as artesãs. É que ambas produzem miniaturas a partir deste tipo de matéria-prima. Enquanto Gizelda se dedica à produção de móveis e carrinhos, na categoria dos brinquedos populares, Tatiana é responsável por transformar pedaços de madeira em mini-santuários.

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Gizelda produz miniaturas em madeira, como móveis - Foto: Ortilo Antônio

Além da arte sacra, a jovem de Lagoa Seca também reproduz, em pequenas molduras, paisagens e figuras diretamente ligadas à cultura e à história do Nordeste brasileiro, como retirantes, Lampião e Maria Bonita, aspectos da seca, entre outros elementos que compõem aquele universo cultural.

“Aprendi a atividade com um amigo, que já fazia esse trabalho reproduzindo imagens de santos católicos em tamanho grande. Diante da procura por essas imagens em tamanhos menores, para que as pessoas pudessem transportá-las com mais comodidade, ele me propôs fazer miniaturas. Aos poucos, fui fazendo, aperfeiçoando, e hoje se tornou o meu produto”, diz Tatiana que, há mais de 10 anos, transforma pedaços de madeira em altares, andores, e até santos estilizados.

“São esses formatos de santos mais finos, que lembram os ícones católicos, também produzidos em madeira”, explica a artesã, que também explora, para além de imagens sacra, peças de caricaturas de artistas. Nomes como Luiz Gonzaga, Elba Ramalho, Alcione já tiveram suas caricaturas eternizadas pelas mãos de Tatiana, que, para além do território paraibano, recebe encomendas de vários lugares do Brasil e até do exterior.

Já a relação de Gizelda com os brinquedos em madeira antecede a sua própria história como artesã. Isso porque ela é marceneira aposentada, e, durante 40 anos, trabalhou diretamente com a fabricação de móveis planejados. A paixão pela área da produção na indústria de móveis impulsionou o talento artístico de Gizelda que, hoje em dia, muito mais do que brinquedos populares, fabrica verdadeiras obras de arte que encantam crianças e adultos de todas as idades, sobretudo, por causa dos móveis que embelezam a tradicional “casa de boneca” e dos carrinhos que vão de modelos clássicos a modernos.

“Comecei produzindo maquete (representação física de um cenário, ambiente ou de outras estruturas) de móveis e ambientes. Os amigos começaram a gostar e a fazer encomendas daquilo que agradava a eles. Depois passei a produzir móveis de verdade, como marceneira de um tempo para cá” – disse ela sem revelar há quantos anos já trabalha com essa nova modalidade –, “voltei ao ponto de partida com essas miniaturas”.

Dedicação

Quem vê tanta beleza em torno dos artefatos produzidos por Gizelda Peixoto, talvez não imagine o caminho que ela precisa percorrer entre as etapas de pré-produção, produção e pós-produção para fazer cada peça. Segundo a artesã, um carrinho de madeira, por exemplo, leva, em média, três meses para ficar pronto.
“Demora muito porque você vai fazendo, vai adaptando uma coisa aqui e outra ali, sem contar no tempo que eu dedico à pesquisa do produto que eu quero fazer, fotos, referências, enfim. É um trabalho demorado porque é tudo minucioso, cada pecinha é feita e pintada à mão”, revela.

PB tem oito mil artesãos cadastrados no PAP

A Paraíba tem cerca de oito mil artesãos atendidos pelo Programa do Artesanato Paraibano (PAP), do Litoral ao Sertão. A informação é de Marielza Rodriguez, gestora do programa. Segundo ela, esses profissionais estão passando por um momento de valorização e fortalecimento do trabalho artesanal, graças às ações desenvolvidas pelo PAP, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas na Paraíba (Sebrae-PB).

Além de ações voltadas à orientação e capacitação dos artesãos, com cursos, oficinas e workshops, existe um cuidado para que eles sejam inseridos em um contexto de empreendedorismo. “A gente está saindo de uma perspectiva assistencialista, para uma perspectiva empreendedora. O artesão deixa de ser enxergado como um ‘coitadinho’, para ser visto como um empresário, um empreendedor que toca seu próprio negócio, que, por sua vez, tem que ter gestão”, frisa Marielza.

Salão

Os artesãos dessa matéria estão expondo no Salão do Artesanato Paraibano, realizado até 4 de fevereiro no estacionamento do antigo Hotel Tambaú, em João Pessoa. São mais de 550 expositores nessa 37a edição, que tem como tema “Quilombo, Arte à Flor da Pele.”

Crap

O Centro de Referência do Artesanato Paraibano (Crap) é um importante equipamento público de apoio e incentivo ao artesão da Paraíba. O objetivo é oferecer condições para que os artesãos e artistas plásticos possam desenvolver suas atividades em um espaço confortável.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 21 de janeiro de 2024.