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Mesmo desobrigadas de usar a proteção facial, muitas pessoas preferem mantê-las no rosto por maior segurança

Máscaras resistem à flexibilização

publicado: 02/05/2022 09h14, última modificação: 02/05/2022 09h20
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Maria da Conceição Alves, 75 anos, afirma que prefere continuar usando as máscaras, mesmo vacinada, por não se sentir plenamente protegida contra a Covid-19. Foto: Roberto Guedes

por Juliana Cavalcanti*

Na Paraíba, o uso de máscaras em espaços abertos é facultativo e nos ambientes fechados ele também não é mais obrigatório nas cidades em que o percentual de vacinação da população com as duas doses ou dose única (imunizante Jansen)  for superior a 70%, como é o caso do município de João Pessoa. Mesmo assim, na capital, a proteção facial continua fazendo parte da rotina de várias pessoas, especialmente mulheres grávidas, idosos ou jovens como algum tipo de comorbidade (Ex: hipertensão). É o caso da dona de casa Maria da Conceição Alves, de 75 anos, que decidiu manter a máscara até mesmo para ficar na rua de casa, no bairro de Oitizeiro. Ela afirma que ainda não possui total confiança de que sem a proteção estaria completamente protegida da Covid-19. “O vírus ainda está circulando e precisamos manter o cuidado,  principalmente os idosos que devem continuar com  a máscara, ela é uma proteção a mais”, opinou. 

São diversas as razões que justificam a utilização das máscaras entre as pessoas e a maioria delas reconhece que não sabe ainda quando deixarão o rosto descoberto com tranquilidade.

Uma delas é Zuleide Lima, que mora no Jardim Planalto, 67 anos. “Todas as pessoas que converso sobre o uso da máscara sempre dizem que não estão seguras sem ela porque o medo da Covid é grande. Já tomei as três doses da vacina, mas prefiro me lembrar da máscara. Futuramente, se eu sentir que está mais seguro, posso pensar no assunto. Por enquanto, quero usar”, frisa.

Zuleide Lima mora com o marido que também é idoso e com a filha de 45 anos. Esta última é profissional da saúde e por isso segue com a máscara no hospital onde trabalha. “Meu marido não sai de casa sem ela, minha filha usa dentro e fora do hospital. Quem quiser criticar e sair sem máscara pode fazer do jeito que quiser, mas na minha casa ela é fundamental”, defendeu.

Algumas pessoas, inclusive, enfrentam os deboches de quem não confia na máscara. Segundo a vendedora Elisângela do Nascimento, ela é uma das poucas pessoas no seu trabalho que ainda segue protegida. Ela tem 42 anos e não tem nenhuma comorbidade, mas conta que se sente bem com a máscara, porque além da proteção contra a Covid-19, ajuda a evitar a poeira no rosto. “Ainda tenho muito medo dessa doença... Já chegaram a me questionar porque ainda não tirei, mas vejo que respeitam a minha decisão. Tem que respeitar porque ainda podemos pegar a Covid”, relatou.

Locais mais expostos

Se legalmente o uso da máscara é facultativo, para Mário Barbosa, de 72 anos, é obrigatório e assim será por muito tempo. Para ele, mais do que uma rotina, o item garante sua qualidade de vida. Ele acredita que o supermercado é o principal lugar onde a proteção deve acontecer. “Para mim é obrigatório porque tenho mais de 60 anos, sou do grupo de risco e descobri também um tenho problema no nariz e farei em breve uma cirurgia. Então, tenho agora mais um motivo para usar”, observa.

Já Maria de Fátima Silva percebe que por ser idosa não é julgada por ainda utilizar a máscara, mas conhece pessoas mais jovens que são criticadas sobre isso. A dona de casa tem 69 anos e costuma ir à feira livre, ambiente que para ela é um dos mais perigosos devido à grande quantidade de pessoas.

“Eu já saí de casa, esqueci de pôr a máscara, mas voltei para pegar mesmo não precisando mais. Vejo que muitas pessoas não usam na feira, mas para mim é parte da rotina”, pontuou. Ela destaca que essa proteção foi um dos principais motivos para não ter adoecido nestes dois anos de pandemia e que a maioria dos seus familiares reconhece esse fato. 

Uso é recomendado em população de risco

Foto: Marcus Antonius/Arquivo 

De acordo com a secretária de Estado da Saúde, Renata Nóbrega, a importância e permanência do uso da máscara principalmente em ambientes fechados e na população de risco fazem parte das recomendações constantes da Secretaria de Estado da Saúde (SES-PB).

“É importante que a população com maior vulnerabilidade para a Covid-19, a exemplo de idosos e pessoas com alguma comorbidade, possa permanecer usando a máscara, assim como qualquer outro item de proteção, a exemplo do protetor solar e o repelente para que a gente possa manter a vida dos paraibanos”, declarou Renata Nóbrega.

A orientação é destinada principalmente aos grupos de risco, já que é a população com maior vulnerabilidade. Mas, Renata Nóbrega lembra que já existe uma nota técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendando que os profissionais de saúde sigam também utilizando a máscara nos ambientes de trabalho.

No dia 8 de abril, o uso de máscaras em espaços abertos tornou-se facultativo em todo o estado da Paraíba. Porém, a recomendação da SES-PB é que as pessoas com comorbidades ou que apresentem sintomas da Covid-19 continuem utilizando o item de proteção.

Essas novas orientações foram divulgadas no decreto estadual publicado no Diário Oficial do Estado (DOE) e incluem ainda o uso facultativo de máscaras em ambientes fechados em municípios em que o percentual de vacinação da população com as duas doses ou dose única (imunizante Jansen) for superior a 70%.

O infectologista Tiago Monteiro observa que a máscara é um equipamento de proteção individual, ou seja, uma barreira física que vai proteger especialmente de gotículas que são os principais meios de transmissão não apenas da Covid-19, mas da gripe.

“Hoje, temos muitos casos de gripes e resfriados nesse período de variação de temperatura. E a forma de proteção é a lavagem de mãos e o uso de máscara. Esse item ajuda no cuidado com gotículas, pois quando estamos mais próximo das pessoas existe uma maior possibilidade de contaminação”, afirma o médico.

Segundo o especialista, mesmo com o uso facultativo, ainda percebe uma parcela da população com a máscara. Para ele, trata-se de um auxílio importante para aumentar a segurança contra a Covid-19 e outras doenças. “ Protege principalmente nos ambientes onde as pessoas estão mais aglomeradas já que os eventos podem agora acontecer com mais pessoas e em locais fechados. Com relação aos pacientes com comorbidades e idosos, deve-se manter o uso”, alerta o infectologista.

Proteção deve continuar, aponta secretária

O avanço da vacinação e a baixa taxa de ocupação dos leitos de UTI e enfermaria estão entre as razões apontadas pelas autoridades de saúde para a não obrigatoriedade do uso de máscara na Paraíba. No entanto, a secretária de Estado da Saúde, Renata Nóbrega, ressalta que a expectativa é que mesmo com o decreto, os cidadãos devem seguir com a proteção, pois houve um processo educativo bastante eficiente com os paraibanos visando promover saúde e a prevenção.

“Foram instruções bem debatidas e esclarecidas ao longo desses dois anos. Então, a população permanece utilizando esse instrumento tão importante”, destaca.

A Paraíba é um dos estados brasileiros com maior índice de imunização do país. Atualmente, o Sistema de Informação ( SI-PNI) registrou a aplicação de mais de 8.653.318 doses. Ao todo, 3.498.417 pessoas foram vacinadas com a primeira dose (86,19% do total) e 3.276.169 completaram os esquemas vacinais, o que representa 80,71% da população do estado.

Em João Pessoa, o Decreto no 9.999/2022 publicado no Diário Oficial Eletrônico contempla um conjunto de medidas de enfrentamento e prevenção à pandemia da Covid-19. Entre elas, o uso facultativo de máscaras em espaços abertos ou fechados, em todo território da capital. 

Porém, a Prefeitura de João Pessoa também recomendou que as  pessoas com comorbidades ou sintomas da Covid-19 mantenham a proteção. Na cidade, a cobertura vacinal é de 94,93% da população com cinco anos ou mais.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 01 de maio de 2022